Almossardinhei numa dessas tascas de peixe fresco da Lisboa ribeirinha, com dois companheiros de geração, dando as tradicionais bicadas de quem, não sendo vencido da vida, começa a ter a maturidade dos que só sabem que nada sabem e vão arranhando na procura do tempo perdido. Reparámos como, na universidade, tudo continua entre jubilados e pré-jubilados, nesses bailados em torno do que já não há, e todos subscrevemos o nosso desejo de exílio, interno, externo ou do que vier, para não termos que pactuar com o desvario do oportunismo. Embora nenhum de nós seja, tenha sido ou tenha vontade de ser PS, quase todos reconhecemos que esta governação, com todos os seus erros, é a última oportunidade que tem este regime, para se libertar de um sistema decadente que só não anda à procura de Gomes da Costa e de Oliveira Salazar porque, hoje, tanto é tecnicamente impossível um golpe de Estado, como já não hipóteses de manipulação da engenharia financeira e da macro-economia. Contaram-se dessas muitas história proibidas das desventuras dos magistrados e dos júris universitários, assim se revelando como, mesmo na zona do que deveriam ser as corporações sustentadoras das pátrias e dos Estados, penetraram os vírus do vazio axiológico e da também falta de boa educação, entre o cristianíssimo e confuciano “não faças aos outros aquilo que não queres que te façam a ti” e o Kantiano “actua de tal maneira que a máxima da tua conduta se transforme em lei universal”, coisas que o meu falecido pai traduzia de forma rural quando me mandava ser homem de cabeça levantada e espinha não torcida. Porque o mal não está apenas na floresta, mas em cada uma das árvores que a integram, pelo que as reformas apenas podem ser consolidadas se forem sustentadas por pessoas livres e responsáveis. Por estas e por outras é que pesquisei o significado do “humor merancórico” e espreitei uma análise da obra de L. Lemnio, Della complessione del corpo humano Libri III, da quali a ciascuno sará agevole di conoscere perfettamente la qualitá del corpo suo, e i movimenti dell’animo e il modo di conservarli del tutto sani, , Venezia, Domenico Niccolino, 1561, 2ed., 1564, onde, citando Galeno, para uso dos jesuítas, se afirma que enquanto os indivíduos de temperamento sanguíneo são inconstantes e volúveis e por conseguintes pouco aptos para a vida religiosa, a perseverança e a diligência do animo procedem do humor bilioso sendo que este humor determina a velocidade, o ímpeto e a inquietação, bem como a fluência do discurso. A constância e a firmeza são consequências do humor melancólico combinado com um moderado calor. O indivíduo fleumático não é apto para obras de entendimento e memória e para os estudos, pois o calor que estimula o engenho neste temperamento é inibido ou diminuído pela presença da qualidade húmida. A partir deste referencial, pode-se explicar o porque os temperamentos definidos como colérico-melancólico, ou colérico-sanguíneo, ou simplesmente colérico sejam maiormente aptos para a atividade missionária, pois dotados daquele ímpeto, capacidade de comunicação, e inteligência necessários para empreender acções num campo social e natural difícil e novo. Da mesma forma, os indivíduos fleumáticos são destinados, na organização da Companhia, aos ofícios domésticos; os melancólicos, em pequena quantidade, trabalham nos colégios como professores e desenvolvem actividades intelectuais. Quem quiser que enfie a carapuça do Quixote! Eu sou do partido de Sancho Pança…. Face a algumas discrepâncias interpretativas sobre a metáfora de Quixote e Pança, hei por bem fazer um “acertamento”, informando que, apesar de tentar seguir ao lado do primeiro, na suas farpas contra e além dos moinhos, em noite sem vento, prefiro a fiabilidade da embraiagem do meu jumento, mesmo sem ar condicionado. Mais informo que não farei abdominais, não sonho com Dulcineias e, apesar da promessa de “jobs” numa ilha com lugar, perdi o cartão de “boy” e tenho o dever de revoltar-me como funcionário público. A felicidade é uma utopia, mas ter momentos de felicidade pode ser todos os dias.