Ontem recebi uma lufada de excelência nas relações humanas, com o tal padre Júlio de Melides que esteve sequestrado na cadeia de Pinheiro da Cruz. Trouxe-me à memória os bons sacerdotes que me deram educação, do meu querido padre Urbano Duarte, que era cónego e professor de moral no liceu, o notável director do Correio de Coimbra, aos padres capuchinhos de Santa Justa, para não falar no Padre Felgueiras e tantos outros que viviam como pensavam.
Mas é precisamente em nome desta boa memória que rejeito os chamados ratos de sacristia que por aí pululam, entre banqueiros, ex-ministros e secretários de Estado e tias de Cascais que mostram o periscópio das seitas e catecismos catolaicos, alguns de filipina inspiração madrilena e navarrense, com algum besunto vaticano. Se ser de direita é ter que seguir as directivas morais dos bagão félix, eu sou de extrema-esquerda. Ponto. Parágrafo.
É por isso que saúdo um blogue anónimo, com quem ontem polemizei sem o nomear, precisamente por não ser assinado. Gosto de polémicas entre quem não confunde as árvores com a floresta e que aceita frechadas. Por isso, declaro que subscreveria o postal de réplica, dado que a corrente onde se filia também me deu raiz. Como saúdo também a emergência de uma maioria de democratas nos USA, com a liderança da senhora Nancy Pelosi, com quem simpatizo, nos seus 66 anos de mãe de cinco filhos e de avó de outros tantos netos. Como compreendo a vitória de Daniel Ortega na Nicarágua, depois de já termos Chávez na Venezuela e Morales na Bolívia, nessa revolta de um nacional-desenvolvimentismo anti-gringo que o bushismo despertou e contra a qual não há Alberto João que resista.
Para os devidos efeitos, declaro que não estou borracho e que subscrevo inteiramente as simbólicas frechadas de Fernando Pessoa contra o modelo salazarento, porque o poeta, cedendo ao lume da profecia, conseguiu detectar os desviacionismos do beatério autoritário que iriam amarfanhar-nos, durante décadas, retomando o pior da herança inquisitorial e carlotista. Odeio a tirania, a ignorância e o fanatismo e tenho que ser fiel à memória de sofrimento de meus parentes e avoengos que malharam com os ossos nas masmoras do santacombadense.
Se a nossa direita continuar a ser reverencialmente salazarenta e bushosa, lá terei que compreender as vitórias da esquerda folclórica na Nicarágua, na Bolívia e na Venezuela que sempre são melhores do que se colocar o regime de Zé Eduardo dos Santos como lanterna vermelha da corrupção…