Ago 06

Destas águas atlânticas voltadas para África, deste novo Mediterrâneo da história, deste mar cuja linha de horizonte vai de Leste para Oeste

Há uma semana que estou nesta imaginada casa branca de telha portuguesa, neste sítio onde há pedaços de sombra, num pátio interior, bem algarvio, ousando esquecer estes restos de quem sou. Aqui, neste lugar de calma, há um largo da praça, um azul solar, um devagar, e sempre uma folha branca por onde peregrinar, especialmente quando a manhã vai nascendo e apetece o aconchego de uma árvore ainda verde, em pleno Agosto, para mais um dia de pedra calcinada. Aqui sou, mais uma vez, à espera que novo dia me desperte, neste ritual de estar sentado a escrever-me, aqui estou, à minha espera, viajando pelas memórias que me desperta a gente que passa no largo da praça. Tento cumprir a missão de todos os dias me pensar, de todos os dias me escrever, mesmo quando não o comunico aos irmãos leitores destes postais. Deixo que a fluidez lírica que me impregne, que este ambiente aquífero e arenosos das dunas e sapais estimulem a minha própria procura, feita de quotidianos exercícios espirituais e de certa “ratio studiorum” que nem por isso me fazem guerrilheiro da palavra, ao serviço de um qualquer colectivismo moral. Até porque as escamas de sal e de sonho que trago no corpo vieram da realidade destas águas atlânticas voltadas para África, deste novo Mediterrâneo da história, deste mar cuja linha de horizonte vai de Leste para Oeste. Continuo sereno e difuso, anotando quem sou e procurando captar o sonho que me leva à escrita, neste escrever por ter de escrever, sem saber o que vai acontecer na linha que começo a escrever. Porque escrever-me à toa é procurar captar o manancial de signos e sensações que todos os dias vou resguardando na arca dos poemas por fazer. Confesso que neste bloguear continuo a ser abstracto demais para os caçadores de parangonas, mesmo quando peregrino pelas politiqueirices que me cercam e as quais tento enfrentar com o mínimo analítico do lume da razão, e com alguma imaginação criativa, dita lume da profecia (Padre António Vieira)

 

Ago 06

Lá vamos gaguejando e cientificando, levados, levados, não

Foi há poucos dias publicada uma entrevista do senhor ministro-presidente da Europa em matéria de ciência, e também supremo reformador das nossas universidades, que, do alto da sua vitória, nos manifesta que ainda está vivo o militante do verdadeiro e extremista socialismo científico, embora se presuponha que já deve ter abandonado as suas fúrias marxistas-leninistas. Verifico, contudo, que ainda conserva um restrito conceito de ciência que faz da ciência que diz praticar a única que merece o dom de arquitectónica, remetendo todas as outras para a categoria de ocultas servas dos professores pardais. As ideologias passam, as metodologias ficam.

Todo ele feito da tal ciência certa e do inequívoco poder absoluto, voltado para a vanguardista felicidade dos povos, continua a considerar que só existe aquilo que pode medir-se e que só é mundo o mundo que ele conhece. Daí que tenha a ousadia de determinar como paradigma apenas aquilo que se radica nas suas ideológicas raízes de despotismo teórico, aquilo que julga poder elevá-lo, de forma estruturalista, às culminâncias de um estadão decretino.

Até um anterior Prémio Nobel lusitano é determinado como simples acaso da área médica. Daí que, por mim, fomule um simples desejo: que deixe em paz criativa os portugueses à solta que procuram aquela imaginação politicamente científica que estimula todos os que pensam comunitariamente de forma racional e justa. Desses que, para serem científicos, não têm que vestir-se daquelas fatiotas pós-modernas que se iludem em captar as luzes das pretensas nações polidas e civilizadas.

Essas perspectivas, mui axiomaticamente-dedutivas e mui sintético-compendiárias, à boa maneira das deduções cronológico-analíticas dos livros únicos, podem conduir ao terrorismo de uma decepada razão que, se aliado ao decretino do Estado, acaba por reduzir-se a mais uma ideologia oficial. Especialmente quando não compreende que a razão inteira é uma razão complexa, axiológica e normativa, plena se símbolos, de imaginação e com muito lume da profecia. Não deixemos cair nos bolsos rotos da conspiração laboratorial dos batas brancas esses pretensos desperdícios que até fazem, da república, a comunidade das coisas que se amam.

Ago 06

Destas águas atlânticas voltadas para África, deste novo Mediterrâneo da história, deste mar cuja linha de horizonte vai de Leste para Oeste

Há uma semana que estou nesta imaginada casa branca de telha portuguesa, neste sítio onde há pedaços de sombra, num pátio interior, bem algarvio, ousando esquecer estes restos de quem sou. Aqui, neste lugar de calma, há um largo da praça, um azul solar, um devagar, e sempre uma folha branca por onde peregrinar, especialmente quando a manhã vai nascendo e apetece o aconchego de uma árvore ainda verde, em pleno Agosto, para mais um dia de pedra calcinada.

Aqui sou, mais uma vez, à espera que novo dia me desperte, neste ritual de estar sentado a escrever-me, aqui estou, à minha espera, viajando pelas memórias que me desperta a gente que passa no largo da praça. Tento cumprir a missão de todos os dias me pensar, de todos os dias me escrever, mesmo quando não o comunico aos irmãos leitores destes postais.

Deixo que a fluidez lírica que me impregne, que este ambiente aquífero e arenosos das dunas e sapais estimulem a minha própria procura, feita de quotidianos exercícios espirituais e de certa “ratio studiorum” que nem por isso me fazem guerrilheiro da palavra, ao serviço de um qualquer colectivismo moral. Até porque as escamas de sal e de sonho que trago no corpo vieram da realidade destas águas atlânticas voltadas para África, deste novo Mediterrâneo da história, deste mar cuja linha de horizonte vai de Leste para Oeste.

Continuo sereno e difuso, anotando quem sou e procurando captar o sonho que me leva à escrita, neste escrever por ter de escrever, sem saber o que vai acontecer na linha que começo a escrever. Porque escrever-me à toa é procurar captar o manancial de signos e sensações que todos os dias vou resguardando na arca dos poemas por fazer.

Confesso que neste bloguear continuo a ser abstracto demais para os caçadores de parangonas, mesmo quando peregrino pelas politiqueirices que me cercam e as quais tento enfrentar com o mínimo analítico do lume da razão, e com alguma imaginação criativa, dita lume da profecia (Padre António Vieira). É por isso que tenho lido algumas coisitas publicadas pela imprensa e que analisarei nos próximos postais, desde a entrevista de José Luís Sanches sobre a avençologia, à teoria da traição da zitomania, coisas que foram compensadas pela radicação patriótica de António Arnaut, sinais de crise desta coisa chamada regime…