Ago 22

Jamais voltarei a pedir esmola, dado que a dignidade individual … não pode estar sujeita às torturas e tonturas de uma infra-burocracia

Se julgo ter cumprido o meu dever de resistência e se, por parte da blogosfera, senti que existe ainda a fibra da solidariedade, não posso deixar de assinalar que um “big brother” endogâmico continua a autoreproduzir-se em concentracionarismo.

Independentemente da minha ligação ao caso, verifiquei que, numa secção de uma universidade pública, prenhe em guerrazinhas de homenzinhos, um qualquer burocrata, invocando a renovação gráfica e de conteúdos propagandísticos do “site” institucional, decidiu eliminar do servidor público onde o dito se aloja, um manancial de dados, subsidiado com os dinheiros públicos da FCT, produzindo um apagão de cerca de 183 MB, isto é, de doze mil ficheiros que tinham até agora mais de uma dezena de milhar de citações nos principais motores de pesquisa, que até constam de programas oficiais do próprio ministério educativo que com tanto salto tecnológico fica assim à mercê lógica de vão de escada, tal como outros e variados portais…

O acervo, começado a construir em 2000 e já depois de ter deixado de poder receber actualizações a partir de 2003, tem sido considerado um dos melhores e mais completos repositórios de dados políticos sobre o século XIX e XX portugueses (aliás, basta comparar com os projectos concorrentes, para verificarmos como a coisa até foi baratinha e deixou algum rasto…). Os testemunhos em inúmeros portais e obras científicas, bem como as qualificações de eminentes especialistas e revistas da especialidade são inequívocos. Verifica-se agora que o apagão, sem qualquer cuidado nem quanto a redireccionamentos, foi objecto de negligente gestão ou, o que seria mais grave, de dolosa violação dos princípios constitucionais de aplicação directa quanto à protecção da liberdade académica e do direito à memória.

Tudo aconteceu pela calada das férias e não parece que a desculpa de eventuais quebras de “links” sejam satisfatórias, depois da vigorosa reacção da blogosfera. Nota-se, objectivamente, que os serviços ditos públicos, principalmente de universidades ditas públicas, não podem apagar de um servidor público essa referência, mesmo que se desculpem com a ileteracia informática ou com os serviços a entidades empresariais de vão de escada ou a agentes pagos a recibos verdes.

O nome “utl” (Universidade Técnica de Lisboa) e o nome “pt” não podem carimbar graves erros técnicos ou dolosas violações da Constituição. Exige-se a imediata reposição da ofensa à liberdade e que os poderes públicos responsáveis pela aplicação das leis constitucionais sobre a liberdade de aprender e ensinar garantam um sistema de protecção de dados e do património cultural, principalmente pela manutenção em rede destes investimentos culturais. O pedido de desculpas ou a promessa de mais um inquérito não passam de argumentos esfarrapadas perante a ofensa praticada ao próprio nome da escola em causa.

Comuniquei a circunstância ao garante simbólico dos princípios académicos. Do alto da sua autonomia, nada disse. Terei de tirar as conclusões e, naturalmente, pedir novos sítios para o exercício da ideia de universidade. Nomeadamente, para um qualquer servidor que não tenha destas negligências ou destes dolosidades, onde os homens do poder brincam aos despachos do regulamentarismo kafkiano, á boa maneira do velho Pôncio, o tal que não mandou parar a guilhotina nem as remessas para os gulagues…

Serve-me de consolo o que, antes disto, foi referenciado por José Pacheco Pereira: Uma parte importante do “conteúdo” da Rede é feita por trabalhadores dedicados e incansáveis. Eles trabalham para nós, por gosto, por entusiasmo, porque têm interesses e curiosidades muito vivas, que querem transmitir, que colocam ao serviço de todos. Duvido, – não, tenho a certeza – , que não tiram daí quase nada, nem vantagens académicas, nem vantagens materiais, e, num país distraído de tudo e demasiado entretido com ninharias, escasso prestígio intelectual, cultural e social. Mas o seu entusiasmo é compulsivo e, de local em local, de plataforma em plataforma, eles fazem o seu trabalho de amador, no verdadeiro sentido da palavra. Um exemplo é o trabalho na Rede de José Adelino Maltez com o Cosmopolis e a Biografia do Pensamento Político.

Reforça-me a crença na ideia de universidade o que testemunhou um meu antigo professor, por acaso meu adversário no combate de ideias, Vital Moreira: Mandarinatos: quando a autonomia universitária medra em ambientes nocivos e é instrumentalizada por medíocres actores, geram-se estes mandarinatos universitários, autoritários, ressentidos, censórios e irresponsáveis.

Não posso deixar de salientar outra postura, a de Antóno Balbino Caldeira, que, aliás, em certas posições, aqui tenho criticado. Obrigado! Mas outros e variados têm sido os actos de solidariedade: Prosas Vadias, O Meu Quinhão de Tela, Pleitos e Apostilas, Cartas para Sakhalin, Nuno Zimas no “Arrastão”, o Eugénio de Almeida, o André Azevedo Alves, o António Manuel Venda, A Ilha dos Amores, o Tomar Partido

Até fiquei a saber, por manchete do Notícias Lusófonas, que o CEPP era de leitura obrigatória em Luanda, na Universidade Agostinho Neto e na Universidade Lusíada e fazia parte da bibliografia dos programas oficiais do ministério educativo…brasileiro.

Como o António Balbino disse: este post custa-me mais a escrever. Mas tem de sair. Custa-me mais, que a escrita custa sempre – além do atrito dos dedos sobre as novas canetas, que são os teclados, ou sobre as velhas canetas de aparo, esfera ou feltro, há o atrito psicológico da procura da substância e da melhor forma e a avaliação do impacto pessoal e comunitário do que se comunica – porque respeita à escola, o ISCSP, que ainda considero como minha, porque aí fiz a licenciatura, ainda no palácio Burnay da rua da Junqueira.

Informou no dia 17-8-2007, o Prof. Doutor José Adelino Maltez no seu blogue Sobre o Tempo que Passa, que foi apagado o arquivo do Centro de Estudos do Pensamento Político (CEPP) do sítio na Internet do ISCSP, escola da Universidade Técnica de Lisboa (estatal) onde lecciona. Num país com um atraso de instrução ainda maior do que o atraso económico, com grandes carências de publicação cultural e científica, que sentido faz apagar um acervo justamente considerado o melhor sobre a Ciência Política em Portugal, e nomeadamente sobre a cronologia do pensamento político em Portugal, e disponível em linha? É certo que o arquivo continua acessível num sítio – Respublica – criado e mantido pelo próprio Prof. Doutor José Adelino Maltez, mas este apagamento parece mais um exemplo da moda do autoritarismo de Estado que a democracia e o povo sofrem.

Não transcrevo os elogios, tal como não desvendo os círculos de confiança das relações interpessoais. Também não repito os gritos de revolta. Apenas sublinho alguns comentários dos muitos que estão “on line”: “Há dois tipos de pessoas no mundo: as que se elevam e as que se inclinam”. “Infelizmente a inveja é uma das características negativas do português, especialmente contra quem tem o ‘mau’ hábito de escrever factos, coisa essa que politicamente traz facilmente inimizades. Não espanta que tivessem apagado o arquivo. Eu, que o consultei tantas vezes, adimiro-me apenas que em vez de o terem apagado não o tivessem mutilidado ou abastardado.

Repito o que disse, sobre a matéria em 2003: Em nome de uma missão de verdade, continuarei, portanto, solitário. Sem desistir. A cumprir aquilo que penso ser o meu dever: disponibilizar as fichas de um projecto que já existia antes de haver CEPP e financiamento da FCT. A tentar prestar um serviço à comunidade. Jamais voltarei a pedir esmola, dado que a dignidade individual de um professor catedrático não pode estar sujeita às torturas e tonturas de uma infra-burocracia. E mais não digo, porque o ISCSP é a minha escola. Até sempre. Com muita revolta…

Apenas concluo com o grito de revolta que remeti à simbólica figura da máquina estatal que, através da imagem de Dali, reproduzi em cima: Venho, por este meio, solicitar …. formal audiência. Não para relatar mais uma das habituais guerrazinhas de homenzinhos dos conselhos científicos e das assembleias de representantes, mas para lhe dar conta de uma simples ocorrência. Desde o começo do milénio (mais propriamente a partir de Abril de 2000) houve um pequeno projecto subsidiado pela FCT que tornava disponível em http://www.iscsp.utl.pt/ceppp um certo manancial de informação científica. Uma coisita com cerca de 183 MB (182.246.466 bytes) que teve meio milhão de consultas para 12 000 ficheiros que colocavam a UTL e o ISCSP em qualquer motor de busca. Terei todo o prazer de lhe fornecer o relatório FCT de execução material do projecto e as inúmeras referências científicas de um esforço de investigação aplicada que coordenei, com a ajuda de dois simples alunos das então licenciaturas. A coisa naturalmente ficou sem actualização desde que não quiseram manter a colaboração de dois simples monitores. Mas a mesma coisa sempre esteve em arquivo pouco morto, dado que atingir um “ranking” de mil consultas diárias neste novo ramo da divulgação ainda é um bem escasso. Eis senão quando, em pleno Agosto, pela calada das férias, os arquivos desapareceram . Não digo do portal que o pode sanear, conforme os critérios editoriais de um qualquer chefe de repartição, coisa que admito. Desapareceram, pura e simplesmente, dos arquivos de consulta pública. Não comento a gravidade desse vazio. Outros a poderão qualificar. Apenas registo e peço que o nome “UTL” e o nome “PT” avaliem os estragos e garantam a liberdade de ensinar e aprender. Solicito, portanto, audiência formal a quem é simbolicamente o garante destes princípios constitucionais de aplicação directa…

Ago 22

Afinal a primeira imprensa a ler e a divulgar foi a “on line”. No “Notícias Lusófonas” de ontem

Afinal a primeira imprensa a ler e a divulgar foi a “on line”. No “Notícias Lusófonas” de ontem

Cultura provoca náuseasaos «donos» de Portugal – 21-Aug-2007 – 12:37

183 megabytes do Centro de Estudos do Pensamento Político, do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, atirados ao lixo Portugal ocupa os lugares cimeiros da cultura e da investigação universitária quer a nível europeu como, e porque não dizê-lo, a nível mundial. Dúvidas? Então leiam o que se segue. 183 megabytes do Centro de Estudos do Pensamento Político, do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas de Portugal mandados para o lixo. Culpado? Provavelmente o primo do cunhado do tio do avô da senhora da limpeza. Quando no centenário de um dos poetas mais populares portugueses, Miguel Torga, o Ministério da Cultura – presumimos que seja assim que se chame e se é que existe – pautou para ausência oficial a nível de chefias; Quando uma Universidade a quem são oferecidas duas obras – dois ensaios – não os aceita previamente sem antes analisarem à lupa (dixit) as referidas obras; … É porque se nada em cultura em Portugal.

No caso da rejeição das duas obras, recorde-se que são consideradas de consulta obrigatória na Universidade Agostinho Neto, em Luanda, e na Universidade Lusíada, na mesma cidade. Na Universidade Técnica de Lisboa (UTL), existe um Instituto, o Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) onde uma das suas principais vertentes lectivas, e como o nome sugere, está no estudo das Ciências Sociais (Ciências Políticas e Relações Internacionais).

Um dos suportes que os futuros licenciados, Mestres ou Doutores desta duas áreas era o Centro de Estudos do Pensamento Político (CEPP), sendo um dos seus principais dinamizadores e ex-director o professor José Adelino Maltez, agrupado, mais tarde, como portal no ISCSP. O CEPP era, ultimamente, um portal onde se podia aceder a cerca de 12 000 (doze mil) ficheiros da Ciência Política portuguesa e universal com uma área de 183 Megabytes. Um enorme ficheiro que a cultura e o ensino muito agradeciam.

Mas como a cultura é um bem de luxo – daí se compreende que em certos aspectos e em certos produtos se pague IVA dos mais altos – e como em Portugal não abundo o dinheiro, uma “personalidade” (provavelmente o primo do cunhado do tio do avô da senhora da limpeza) decidiu que este enorme tijolo que pesaria sobra as incautas e (in)cultas cabeças portuguesas – e que estrangeiros, inopinadamente e sem quaisquer custos, também tinham a mania de aceder – além de poder prejudicar, seriamente, os futuros utilizadores da UTL/ISCSP obrigando-os a pagar insuportáveis propinas (aquelas que já são das maiores da Europa, a nível de Universidades públicas), decidiu, escrevíamos, acabar com o CEPP e limpar dos acessos do ISCSP. 183 Mb deletados e mandados para o lixo como se de um antigo e inapropriado jornal ou livrinho de cordel se tratasse; 183 Mb daquilo que Pacheco pereira considerou como “…o excelente “site” sobre o pensamento político contemporâneo existente em Portugal”.

Se Portugal soubesse o que é cultura – há quem diga que já o soube até porque tem uma das universidades, a de Coimbra, mais antigas do Mundo – e se houvesse um ministro ou um Ministério que tutelasse a Cultura ou o Ensino Superior capazmente, de certeza que em vez de limparem o portal tê-lo-iam transferido para uma qualquer fundação. Não é isso que um tal Ministério do Ensino Superior propôs às universidades públicas portuguesas? A pagar, gratuito, restrito, pois fosse assim. Mas ninguém ficaria prejudicado. Mas não! À moda do Portugal que entre um génio sem cunha e um néscio com ela, escolhe…

posted by JAM | 8/22/2007 06:33:00 PM

Afinal, a imprensa também lê os blogues…No “Diário de Notícias” de hoje.

Destruição de arquivo vai originar queixa no DIAP

FRANCISCO ALMEIDA LEITE

DIREITOS RESERVADOS (imagem)

Os arquivos do Centro de Estudos do Pensamento Político (CEPP), que pertence ao Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) foram literalmente apagados, sem que o seu coordenador e principal mentor saiba porquê.

Ao DN, José Adelino Maltez diz que os conteúdos que figuravam do portal do CEPP (http/www.iscsp.utl.pt/ceppp) desapareceram, depois de no ISCSP lhe terem dito que o site seria reformulado. “Houve um professor que foi encarregue de controlar os sites e o servidor”, garante Maltez, acrescentando que o instituto que pertence à Universidade Técnica de Lisboa usa “contratados a recibo verde” no seu serviço de informática.O ataque àquele que é considerado o melhor arquivo de história política portuguesa contemporânea online – com mais de meio milhão de entradas desde a sua fundação no ano 2000, com o apoio da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) – deverá motivar uma queixa no Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP).

“Dou quinze dias para que haja uma responsabização para esta lisura dos serviços públicos que envolve domínios respeitados como “utl” [Universidade Técnica de Lisboa] e “pt”, depois disso escrevo ao Procurador-Geral da República e vou ao DIAP. Não podemos estar à mercê de um Big Brother que resolve fazer delete a anos de trabalho”, diz o catedrático do ISCSP.José Adelino Maltez sublinha que “a grave iliteracia informática que há ainda na universidade portuguesa, onde se confundem sites com blogues, está a prejudicar muitos no Brasil e em Angola, instituições de ensino que se baseavam nestas fontes para o seu trabalho”.

Apesar de tudo isto, Maltez afasta responsabilidades do ISCSP: “Em nome de uma missão de verdade, continuarei, solitário. A cumprir o meu dever: disponibilizar as fichas de um projecto que já existia antes de haver CEPP e financiamento da FCT. Jamais voltarei a pedir esmola, dado que a dignidade individual de um professor catedrático não pode estar sujeita às torturas e tonturas de uma infra-burocracia. E mais não digo, porque o ISCSP é a minha escola. Maltez está agora a tentar refazer parte do arquivo (http/maltez.info/respublica//) à sua custa. O DN tentou ontem ouvir o ISCSP, mas sem sucesso.