Um amigo, da velha esquerda liberdadeira, enviou-me a Carta aos Puros de Vinicius de Moraes, escrita na década de cinquenta do século XX. Olhei-me ao espelho da geração abrileira a que pertenço, onde uma certa esquerda lutava contra uma certa tirania, e uma certa direita contra uma indefinida tirania, ambas coincidindo no estilo. E tudo na complexidade de um processso que foi de antes e de após o 25 de Abril, mesmo quando os irmãos em disputa alinhavam em campos concorrencialmente adversários. Hoje, essas tiranias desvaneceram-se e, consequentemente, as esquerdas e as direitas, que viviam no encantamento das causas, ficaram desempregadas, como se tivessem descoberto a Índia, sem direito a visita à Ilha dos Amores. Porque venceram os tais agentes infra-estruturais do poder banco-burocrático e do totalitarismo doce, assente na vontade de servidão. Aliás muitos dos mais ruidosos abrileiros, armados em saudosistas da revolução perdida, não percebem que os respectivos opositores, também abrileiros, mas do anti-PREC, como eu, são tão ou mais anti-tiranias do que eles. Acresce que qualquer dos filhos e netos desses abrileiros, olhando o retrato mental dos pais, não consegue distinguir tais irmãos-adversários. Tal como eles e todos nós não percebem as oposições que marcavam os almeidistas e os afonsistas, da I República, ou os progressistas e regeneradores, do rotativismo. Obrigado, Paulo, pela lembrança! Lutemos contra o desemprego! Navegar é preciso, sobreviver não é preciso…