A imagem de um regime ensarilhado por gestores de contas foi ontem inequivocamente expressa pela embrulhada em que se meteu Aníbal Cavaco Silva quando “recusou a assumir ter comprado ou vendido acções da sociedade que controlava o BPN”, para citar a nota do semanário “Expresso” sobre a matéria. Custou-me ver o nosso Presidente da República contristado e combalido, cercado por imagens que nada tem a ver com a respectiva conduta pessoal e familiar, só porque cometeu um erro de “agenda setting” na gestão de silêncios que deveriam ter sido quebrados antes do adensamento das sombras. Por mim, assunto encerrado.
Mais graves são os alertas emitidos pela honrada figura de Nascimento Rodrigues que ontem renunciou, nomeadamente quanto à presente degradação da democracia. E anedóticos foram os comentários da segunda figura da pátria que, de forma oportunista, clamou contra os partidos e contra os entendimentos que todos eles fizeram sobre a lei do financiamento das respectivas despesas, em contraponto aos bailados negociais que levaram Jorge Miranda ao ridículo. Tenho a impressão que Jaime Gama, apesar de, piscicolamente, gostar de navegar em águas profundas, incluindo as poluídas com destroços e cagarras, é destacado militante de um dos principais partidos portugueses, chegou a ser candidato a líder do mesmo durante 24 horas e, de acordo com os registos, até foi o primeiro dos apoiantes do socratismo, depois de Kumba Yelá já ter subido ao poder, apesar da fragata. Não lhe ficou bem tentar varrer o lixo da partidocracia, de que é criador e baça imagem, para debaixo dos tapetes do palácio de Ventura Terra, pensando que o anexo do convento que presidencializa ainda pode servir de pára-tombos, com o edifício principal feito museu de figuras de cera.
Mas hoje pouco me estimulam as voltinhas campanheiras, não porque tenha saído a primeira sondagem a dar a vitória ao PSD e muito menos por causa da pouco dialogante disponibilidade do professor Vital face a uma entrevista ao segundo canal da televisão pública, onde quase ameaçou abandonar o directo vindo de Paredes de Coura, só porque a jornalista Patrícia em suave insistência o interrompia, como ele costuma fazer diante de outros debatentes. Além disso, não me apetece voltar a tentar descobrir quem eu colocaria como líder dos emplastros de campanha, dado que uma ex-ministra do PSD tem sido pujante nas aparições de segunda fila, como as imagens aqui dispersas recordam e os arquivos confirmam.
Infelizmente, não posso ainda dar detalhado testemunho dos pequenos sinais de micro-autoritarismo subestatal que ontem me chegaram, embora sejam surpreendentes os sinais de “out of control”, onde se misturam oficiais das forças armadas ao serviços de ministerialidades clandestinas, em inequívocas operações de pressão sobre carreiras de simples funcionários, para que eles não abram a boca, com mais graves jogadas ao contrário, isto é, com bandos de burocratas em autogestão, tentando ocupar o vazio de política, através de manobras de bastidores, totalmente desrespeitadoras do princípio do controlo político, em nome do poder dos funcionários e da tecnocracia dos pequeninos. Por outras palavras, o descontrolo que marca o ritmo dos operadores judiciários também atingiu outras zonas cimeiras da administração directa e indirecta do Estado.
Os habituais catadores de mensagens que emito neste blogue, especialmente a bufaria que é paga pela persiganga, de que algumas vezes tenho sido vítima, que descansem o “tonner”! Não estou a falar de casos em que esteja envolvido, de forma próxima ou remota, pelo que não precisam de levar a habitual fotocópia ao chefe, ou a um dos seus aliados ou ex-aliados do campo fascista cobarde ou estalinista persistente. Disso, falarei a seu tempo, quando me apetecer inventariar as manobras do mandarinato, onde algumas coincidências das imagens deste blogue não são apenas fortuitas, até para poder utilizar uma expressão de Vital Moreira, que tanto tenho atacado, mas que continuo a respeitar, porque, mesmo com erros, tem a honra de levar o combate a todas as trincheiras, pensando pela sua própria cabeça.
O sistema degradou-se mais por causa dos feitores e capatazes desta conspiração de avós e netos e é, nestes momentos de crepúsculo, que os habituais pescadores dos tempos de vésperas costumam lançar torpedos salazarentos e emitir as vérmicas golpadas de salão e corredores. O processo de desinstitucionalização em curso, com cenas de tragicomédia, apenas anuncia que todas as vidraças do sistema já estão estilhaçadas, depois da “Intifada” da presente campanha. Pedimos desculpa por estas interrupções. Depois do Freeport e do BPN, seguem-se outras séries enlatadas, como o BCP e outros BBs, enquanto a Qimonda vai fabricar Magalhães para o Vanuatu e a Autoeuropa decidiu optar pelo plano de restruturação que a plataforma da globalização alternativa pediu, em “ousourcing” e “avença”, a uma equipa que tem, como consultor sociológico, o Professor Boaventura Portalegre de Sousa Santos e, como consultor de competitividade da crise económica, o Professor Doutor Francisco Anacleto Louçã, num projecto que recebeu a redacção final do Professor Doutor Diogo Freitas do Amaral, de acordo com o mais recente código das afundações…