A tempestade perfeita em regime de pátio das cantigas…

“Estás convencido que por dar luz a uma simples rua, és igual ao sol que dá luz ao mundo!”. Vasco Santana in O Pátio das Cantigas (1942)

Quando o rotativismo, no último quartel do século XIX, começou a patinar, chegou a haver um governo de superação do impasse presidido por José Dias Ferreira, que teve que gramar o seu rival Joaqum Pedro Oliveira Martins como ministro da fazenda, mas que, depressa, deitou borda fora. Hoje, os descendentes dos regeneradores e dos progressistas são PSD e PS… A Manela é bisneta do Zé Dias e um outro nosso ministro das finanças recente, sobrinho-bisneto do Joaquim Pedro. Os descalabro de então foi por causa do sonhar é fácil de certos investimentos em vias de ferro, com velhos e clássicos corruptos nas concessionárias, como o Foz e o Burnay. Mas o povo gosta, até deu nome aos palácios que eles compraram nos Restauradores e na Junqueira. O primeiro acabou em cabaret. O segundo está hoje quase abandonado e a cair aos pedaços. Mas a pior consequência do desvario desse liberalismo a retalho com obras de fachada foi quando os credores internacionais nos caíram em cima. Quem se lixou foi o rei, assassinado, e a 1ª República que acabou pelas manobras de um contabilista. O último pedaço dessa dívida do rotativismo, por ironia da história, foi solvido pelo ministro Guilherme d’ Oliveira Martins… Quando a Primeira República entrou em estertor, nas vésperas de um revolucionário do 5 de Outubro, Mendes Cabeçadas, que há-de ser cabeça do golpe anti-salazarista de 1947, onde se estreou Palma Inácio, o partido-sistema de Afonso Costa passou a ser conhecido pelos “bonzos” que ganhava sempre aos “canhotos” e aos “endireitas”… Hoje, parece que conseguimos adicionar o estilo da crise do rotativismo ao estertor dos bonzos, porque todos sabem da impossibilidade de um 28 de Maio de 1926, onde, como foi demonstrado por Luís Bigotte Chorão, na sua tese de doutoramento, emerge como um dos principais líderes intelectuais dos anti-sistémicos um tal José Eugénio Dias Ferreira, filho do antigo chefe de governo da monarquia e avô da actual líder do PSD, bem conhecido por ter sido o estudante em revolta que foi pretexto para que se desencadeasse a greve académica de 1907. Pediram-me, pos, que comparasse este ciclo do regime a um filme clássico. Respondi: “O Pátio das Cantigas”. Pelo nome, evidentemente. Estamos a transmitir tragédia em ritmo revisteiro que pouco tem a ver com a “tempestade perfeita”. Malhas que outros impérios tecem…

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