Jun 21

A democracia em assunção

A democracia em assunção

por José Adelino Maltez

Há mais de dois mil anos, bem antes de Cristo, se marca um dia muito especial, o do solstício, dito de Jano, o dos (re)começos, donde veio Janeiro, o nome do mês, o do deus bifronte, de duas faces, uma visível, outra invisível, e com que muitos confundem, e ainda bem, o dia de São João. E, sem ser por acaso, a não ser os sagrados, Portugal também viveu, a 21, o dia de passagem do testemunho, e da eventual regeneração da república contra o cinzentismo da classe política e da partidocracia. Porque a derrota da véspera se transformou na vitória da divisão e interdependência dos poderes e de aviso à navegação contra o principado. Para que se consensualize a humildade da democracia pluralista, que não pode cair na virose do ir de vitória em vitória, para a nossa derrota final. Até há momentos que são os do regresso da palavra e do alto nível da democracia, como aconteceu no dia joanino de uma mulher, a que produziu um dos melhores discursos que ouvi na última década de um actor político. Fiquei feliz porque ela mostrou ser feliz em servir. E 186 deputados ajudaram à boa esperança. Que viva essa nossa democracia!

Jun 21

Assunção Esteves

Confesso a minha fragilidade: ainda vou em discursos. Mas o homem é um animal de palavra, sobretudo de “logos”, de palavra posta em discurso na cidade, coisa donde veio a democracia. Julgo que o homem é o único animal que fala e que, reconhecendo-se finito, inventou o sagrado, ou foi por ele recriado, em interacção.

Finalmente, uma neokantiana emerge no meio desta tristeza decadentista, barroca, utilitária e de neopositivistas, mal arrependidos de um marxismo de pacotilha. E Assunção fez a justiça de invocar Marx, o tal que um dia disse que não era marxista, quando reparou como a criatura se estava a refazer contra o próprio criador.

Há uma pequena coisa chamada coerência de princípios que, quando confirma a autenticidade, nos puxa para cima, em assunção que também pode ser ascensão. Quando a democracia rima com filosofia, o resultado pode ser esta razão prática.

O discurso de Assunção Esteves demorou trinta anos a fazer! Gostei de o sentir em pensamento, pensando o que na verdade sinto.

Espero que o discurso leve bom senso a algumas das ministerialidades vigentes que ainda têm a tentação de refazer o modelo gago ou neogaguista de “révolution dén haut”. Até já se vislumbravam alguns alfredos apimentados, disponíveis para o serviço da vulgata e do inquisitorialismo, não respeitando sequer o original…

Jun 21

Uma neokantiana

Confesso a minha fragilidade: ainda vou em discursos. Mas o homem é um animal de palavra, sobretudo de “logos”, de palavra posta em discurso na cidade, coisa donde veio a democracia. Julgo que o homem é o único animal que fala e que, reconhecendo-se finito, inventou o sagrado, ou foi por ele recriado, em interacção.

 

Finalmente, uma neokantiana emerge no meio desta tristeza decadentista, barroca, utilitária e de neopositivistas, mal arrependidos de um marxismo de pacotilha. E Assunção fez a justiça de invocar Marx, o tal que um dia disse que não era marxista, quando reparou como a criatura se estava a refazer contra o próprio criador.

 

Há uma pequena coisa chamada coerência de princípios que, quando confirma a autenticidade, nos puxa para cima, em assunção que também pode ser ascensão. Quando a democracia rima com filosofia, o resultado pode ser esta razão prática.

 

O discurso de Assunção Esteves demorou trinta anos a fazer! Gostei de o sentir em pensamento, pensando o que na verdade sinto.

 

Espero que o discurso leve bom senso a algumas das ministerialidades vigentes que ainda têm a tentação de refazer o modelo gago ou neogaguista de “révolution dén haut”. Até já se vislumbravam alguns alfredos apimentados, disponíveis para o serviço da vulgata e do inquisitorialismo, não respeitando sequer o original…