Infelizmente, passando os olhos para outros quadrantes, reparamos como muitos outros não sabem colocar-se nos lugares a que têm direito, continuando a brincar ao poder pelo poder, ou procurando controlar a história, através da criação artificial de uma gerontocracia, onde dominam e pedincham aqueles que não sabem que, todos os anos, vão fazendo setenta anos. Desses que não reparam como todas as gerontocracias da viuveira são marcadas pelo drama de tanto não meterem medo como perderem horizontes, mas que, quando caem no vício do poder pelo poder, julgam que ainda metem medo e que ainda têm vistas não curtas. Mas qualquer antropólogo já inventariou a razão que leva as boas sociedades a respeitarem os mais velhos. Quando estes respeitam valores como os da generosidade, do compromisso pela verdade perante um conflito, da opção pela justiça contra a vindicta, da negação da bisbilhotice, do uso responsável do dinheiro, do respeito pelos limites da propriedade, etc… Quando alguém, só pelo facto de ser mais velho apenas instrumentaliza a respectiva imagem para fazer o exacto contrário do que dele esperávamos, entramos no delírio da falta de autenticidade e daquela promiscuidade que nos faz regredir. Reparo que tal parece ser a viciosa tendência para um enferrujamento que afecta a partidocracia lusitana, dependente dos tais ausentes-presentes que utilizam a imagem dos gerontes para a eficácia da vontade de poder. Quando, na politiqueirice, aquilo que antes de o ser já o era, nessa lutável luta de gigantes entre os notáveis de província e os controladores caciqueiros das cidades, temos de concluir que não conseguimos dar resposta a certos desafios a que apetecia seguir o encanto, não resistindo e seguindo em frente, mistério dentro, sem sabermos o que nos pode suceder no dia seguinte. Especialmente, quando, fartos do torpor, apetecia sermos mobilizados pelo estreito risco de bruma que marca a linha do horizonte.
Abr
09