Chegou-me, pela via hertziana, o formoso som de uma gravação recuperada do violoncelo de Guilhermina Suggia e passei para o eterno, descobrindo, pela música, a manhã que ia chegando, aqui dentro, além de mim. Deixei-me mobilizar pelo belo programa que ia ouvindo, numa reportagem sobre o Conservatório de Música do Porto. Até ouvi, da senhora directora, cujo nome não fixei, uma das mais belas definições de professor, que ela terá recebido de um outro professor, segundo a qual “mal vai o professor que não tenha um aluno que o ultrapasse”. Como professor que professa e com o prazer de poder dizer que, em tal missão, realiza aquilo que sempre sonhou ser, assumo a suprema ambição de continuar a ser professor, assim sem mais, como palanques, comissões de serviço, requisições ou nomeações para altos cargos da dirigência escolar, da educacionologia, da avalialogia ou do cunhocentrismo. Apenas direi que, nessas simples e humildes palavras, senti o sinal clássico do vivermos o espírito de escola, de nos sentirmos corrente profunda, desse irmos além de nós que é ensinarmos aquilo que aprendemos, até sentirmos essa plenitude de podermos aprender com os antigos alunos, com os antigos discípulos, sem a lógica suicida dos eucaliptos que não têm a suprema ambição da humildade. Não pode ser mestre quem não sabe ser discípulo, até dos próprios discípulos. Que bom seria que este espírito de serviço comunitário inundasse as escolas, os partidos, os jornais, os sítios todos onde devíamos servir pátria, sem nos servirmos! Ser mais velho é acreditar que vale a pena continuar a esperança de semear…
Abr
10