Abr 08

A Europa dos impérios frustrados

Portugal já tinha saudades dos vibrantes discursos de Pedro, honra lhe seja, dado que começamos a perder a ajuizada vontade do pensar difícil, especialmente quando reparamos que o máximo de socialismo e de catolicismo coincidem nos que também representam o máximo de financismo e de filosofismo, nessas comunicativas personalidades do que está e do que estava, discordando no acordo de serem as duas faces da mesma moeda situacionista. Por isso, poucos se dão conta de debates como o francês, bem como das reuniões cimeiras do rolo compressor da Europa do directório, dessa federação de impérios frustrados que pretendem disciplinar os pequenos e médios Estados que ameaçam escapar ao controlo. Com efeito, a questão europeia só em Portugal é que não está na agenda. Porque começa a tornar-se prepotente este pretenso europeísmo de certos centros estaduais antinacionais, conformados pelas memórias de Napoleão ou pelos II e III Reich, esse métodos carolíngios ou bismarckianos, mais ou menos apoiados pelo vaticanismo que, depois de aprenderem com os erros das derrotas que lhes foram inflingidos pelas coligações negativas das resistências anti-imperiais, trataram de usurpar as boas intenções de Schuman e de Monnet, decretando agora tal europeísmo oficioso tão estreito e falsificador como a única maneira de podermos ser europeístas. Reclamando a vitória sobre o sovietismo, conseguiram instrumentalizar, à esquerda e à direita, o grande Bloco Central do interesses, os do Partido Socialista Europeu e do Partido Popular Europeu, bem como os dos neocorporativismoss sindicais e patronais. E, por ironia do destino, parece que as liberdades nacionais estão dependentes do chauvinismo francês que, a pretexto de Frankenstein ou lá o que é… e da recusa de adesão da Turquia, pode, através do “não”, dar aos europeus aquele necessário tempo de pausa que impeça a adopção de certas tolices gnósticas, emitidas pelo grupo capitaneado pelo senhor Valéry Giscard d’Estaing. O que seria uma notícia tão excelente quanto a que permitiu, outrora, a rejeição da UEO. Com efeito, o egotismo gaulês pode, paradoxalmente, permitir que se reformulem as actuais palas do projecto europeu dominante. Porque uma Europa que passe a depender, para o “sim” ou para o “não”, de uma votação conjuntural de mais um, ou de menos um, por cento, é uma Europa que deixa de assentar no necessário vasto consenso ou de uma votação por maioria qualificada. Fazermos depender um passo estrutural dessa dimensão da vontade de uma maioria conjuntural e relativíssima significa que passamos a andar a reboque de uma simples “vontade de todos” e não da necessária “vontade geral”. Por outras palavras, todos os nossos destinos comuns passam a depender de um breve fio de linho, onde tudo varia de acordo com dois ou três sinais de oportunismo reivindicativo e de um complexo de barganhas que pode pôr em perigo o método do sufrágio universal. Ninguém pode construir pátrias, ou grandes espaços marcados pela supranacionalidade, através desses passos de uma mágica aparelhística e eleitoralista. Ganhe o “não” ou o “sim”, no próximo referendo francês, já todos perdemos. E perderemos ainda mais se, como é previsível, soarem as trombetas épicas do euro-entusiasmo ou do euro-cepticismo. Porque, na imediata curva do caminho, o que se decidir num ou noutro sentido pode des-decidir-se meses depois, conforme se satisfaçam, ou não, as reivindicações instrumentalizadoras da ida às urnas, como já aconteceu com a compra de votos, depois do primeiro não dinamarquês a Maastricht. Aliás, se se impusesse um patamar mínimo de participação para a validação dos referendos, poderíamos concluir por uma eventual maioria de indiferentistas, bem superior aos euro-entusiastas ou euro-cépticos. Por outras palavras, tendemos cada vez a sermos cada vez menos euro-calmos, assentes numa contraditória gestão de geometrias variáveis, pouco interessadas na aplicação do princípio da subsidiariedade, quando este reforça os modelos de manutenção das autonomias nacionais.

Abr 08

Andam por aí inúmeros seres de intolerância

Andam por aí inúmeros seres de intolerância que me vão arrepelando a alma, desde jacobinos não reciclados, militantemente anti-religião, muitos pelos complexos e frustrações qye receberam em seminários e colégios religiosos, a permanentes ratos de sacristia, pintados de beatos. Ambos assumem a espionite da viperina língua, não disfarçando os salamaleques da diplomacia do croquete dos que se entretêm a espalhar o veneno da intriga neopidesca. E lá nos vamos estreitando em pedinchice de uma barataria que nos reduz a um entupido portugalório. Há muitas capelinhas que preferem actuar pela calada dos passos perdidos. Há muitos que continuam a fabricar aquelas cumplicidades que lhes permitiram ganhar a vida como pretensos donos daquilo que formalizam como inteligência, mas que assumem a intolerância típica dos inquisidores e sargentos da censura. Há muitos que apenas toleram que sejam eles próprios os fabricantes da intolerância, da difamação e do insulto. E ai de quem ousar pisar-lhes as calosidades opinativas, rejeitando seguir-lhes os ditames que emitem sobre a partidocracia que os protege e prebenda, ou ofender-lhes os meandros apoiantes do respectivo benefício situacionista. Têm sempre disponível matilhas de raivosos canídeos, que logo ribombam num eco multitudinários do mata e esfola. Claro que, graças às barrosadas e portadas de quem fostes servidores, atentos, reverendos e obrigados, haveis ido daquela para outra melhor, bem cobertos misticamente, e melhor subsidiados bancariamente, para que se cumprissem os objectivos da criação da tal direita que convém à esquerda. Vós sois os eternos críticos e oficiosos biografadores daqueles que, em troca, vos elogiam, irmanados que estais no sindicato das citações mútuas, nesses doces enlevos que vos fizeram encartados homens de cultura. Até esperais que mais doce ainda possa ser a vossa caminhada no “cursus honorum” das barretices e borladas de capelo olímpico, que vos hão-de doirar em retratos a óleo na sala de estar e em muitos bustos com ar de brutos. Porque, como cães de fila e vozes de dono, nunca passareis de engraxadores do ditirambo, visando subir mais alto, aos etéreos vértices donde, finalmente, podereis clamar o “cheguei, vi e venci”. Pois, continuai a falar em doutrinas como justificação para o insulto e a mentira, como outros disseram pátria e humanidade, para disfarçarem crimes de assasinato físico e moral. Eu não me calarei, enquanto a voz puder ser comunicada aos outros. Apenas me apetece recordar uma bela frase de Henrique Paiva Couceiro: “vocês não imaginam o quanto trabalho me deu na vida continuar pobre”.

Abr 08

A Europa dos impérios frustrados

Portugal já tinha saudades dos vibrantes discursos de Pedro, honra lhe seja, dado que começamos a perder a ajuizada vontade do pensar difícil, especialmente quando reparamos que o máximo de socialismo e de catolicismo coincidem nos que também representam o máximo de financismo e de filosofismo, nessas comunicativas personalidades do que está e do que estava, discordando no acordo de serem as duas faces da mesma moeda situacionista. Por isso, poucos se dão conta de debates como o francês, bem como das reuniões cimeiras do rolo compressor da Europa do directório, dessa federação de impérios frustrados que pretendem disciplinar os pequenos e médios Estados que ameaçam escapar ao controlo. Com efeito, a questão europeia só em Portugal é que não está na agenda. Porque começa a tornar-se prepotente este pretenso europeísmo de certos centros estaduais antinacionais, conformados pelas memórias de Napoleão ou pelos II e III Reich, esse métodos carolíngios ou bismarckianos, mais ou menos apoiados pelo vaticanismo que, depois de aprenderem com os erros das derrotas que lhes foram infligidos pelas coligações negativas das resistências anti-imperiais, trataram de usurpar as boas intenções de Schuman e de Monnet, decretando agora tal europeísmo oficioso tão estreito e falsificador como a única maneira de podermos ser europeístas. Reclamando a vitória sobre o sovietismo, conseguiram instrumentalizar, à esquerda e à direita, o grande Bloco Central do interesses, os do Partido Socialista Europeu e do Partido Popular Europeu, bem como os dos neocorporativismoss sindicais e patronais. E, por ironia do destino, parece que as liberdades nacionais estão dependentes do chauvinismo francês que, a pretexto de Frankenstein ou lá o que é… e da recusa de adesão da Turquia, pode, através do “não”, dar aos europeus aquele necessário tempo de pausa que impeça a adopção de certas tolices gnósticas, emitidas pelo grupo capitaneado pelo senhor Valéry Giscard d’Estaing. O que seria uma notícia tão excelente quanto a que permitiu, outrora, a rejeição da UEO. Com efeito, o egotismo gaulês pode, paradoxalmente, permitir que se reformulem as actuais palas do projecto europeu dominante. Porque uma Europa que passe a depender, para o “sim” ou para o “não”, de uma votação conjuntural de mais um, ou de menos um, por cento, é uma Europa que deixa de assentar no necessário vasto consenso ou de uma votação por maioria qualificada. Fazermos depender um passo estrutural dessa dimensão da vontade de uma maioria conjuntural e relativíssima significa que passamos a andar a reboque de uma simples “vontade de todos” e não da necessária “vontade geral”. Por outras palavras, todos os nossos destinos comuns passam a depender de um breve fio de linho, onde tudo varia de acordo com dois ou três sinais de oportunismo reivindicativo e de um complexo de barganhas que pode pôr em perigo o método do sufrágio universal. Ninguém pode construir pátrias, ou grandes espaços marcados pela supranacionalidade, através desses passos de uma mágica aparelhística e eleitoralista. Ganhe o “não” ou o “sim”, no próximo referendo francês, já todos perdemos. E perderemos ainda mais se, como é previsível, soarem as trombetas épicas do euro-entusiasmo ou do euro-cepticismo. Porque, na imediata curva do caminho, o que se decidir num ou noutro sentido pode des-decidir-se meses depois, conforme se satisfaçam, ou não, as reivindicações instrumentalizadoras da ida às urnas, como já aconteceu com a compra de votos, depois do primeiro não dinamarquês a Maastricht. Aliás, se se impusesse um patamar mínimo de participação para a validação dos referendos, poderíamos concluir por uma eventual maioria de indiferentistas, bem superior aos euro-entusiastas ou euro-cépticos. Por outras palavras, tendemos cada vez a sermos cada vez menos euro-calmos, assentes numa contraditória gestão de geometrias variáveis, pouco interessadas na aplicação do princípio da subsidiariedade, quando este reforça os modelos de manutenção das autonomias nacionais.