Agradeço aos estimados analistas ortodoxos da minha heterodoxia o convite que me fizeram para não ser. E que os deve ter enchido de gáudio, porque sempre avisaram quem de direito sobre o perigo desta espécie de bestas do apocalipse de que faço parte. Queria apenas dizer que o copo transbordou depois daquele pinguinho de água em que se traduziu a primeira provocação recebida sobre a matéria e que transcrevia uns “slogans” identitários que marcam este blogue desde a respectiva renascença. Imediatamente comuniquei a quem de direito que deixei de ser, para poder ser. Quem silencia (“tacet”), não consente (“nihil dicit”). Apenas nada diz, para poder voltar a dizer o que sempre disse, mesmo quando se treslia o que se lia. Os únicos realistas em Portugal são os adeptos do trancendentalismo da matéria, aqueles ideais-realistas que seguem a natureza das coisas. Porque o natural sempre foi o mesmo do que o dever-ser, onde, segundo o conceito grego e jusracionalista, natureza é o mesmo do que razão, do que procura da perfeição e do melhor regime. Aliás, é por dentro das coisas que as coisas realmente são. Ora, como o odiado teórico apenas é, segundo os tais gregos, que, afinal, somos nós todos, o homem maduro, isto é, o que repensa pela própria cabeça o pensamento dos outros, o que compreende, o que prende uma coisa com outra, folha com folha, árvore com árvore, para poder ter a intuição da essência daquilo que é todo, mesmo que seja a alma da floresta, não serei eu que passarei além da minha chinela, dado que apenas reclamo o tal conhecimento modesto sobre as coisas supremas.
Abr
19