Gostaria mesmo de não ter razão neste meu desassossego com os pés no chão, mas não me conformo com os conservadores do que está. E que estarão. Prefiro seguir meu signo de pensar ser dizer não, principalmente depois de ler a confirmação do rotativismo.
Monthly Archives: Junho 2011
Do programa de governo e outras notas
Escolas que mais perderam com este governo: faculdades de direito, mesmo que a Teresa Morais tenha “uma edição do Gabinete do Ministro da República Para a Região Autónoma dos Açores (2005) sobre violência doméstica” (do currículo divulgado), para além de “várias obras da área do Direito” (sic). Confirma-se a tese de certo ministro sobre a eventual não cientificidade da antiga grande área.
Distraído, não reparei, em pormenor, nesta de Carlos Fragateiro andar a ser processado. Mas ao ler a entrevista que anexo, apenas apetece comentar: a questão não é surrealista, é estúpida! Como se as leis não fossem juízos de valor sobre conflitos de interesses e a liberdade criativa não merecesse a prioridade desta hierarquia simbólica.
Acabei de ler o programa de governo. Um espaço de transacção entre o programa Catroga, as ideias pessoais de alguns ministros e a falta de ideias consolidadas dos dois partidos da coligação. Nalguns casos, tornam-se impenetráveis as cláusulas gerais e os conceitos indeterminados e metade do texto poderia ser subscrito pelos anteriores governantes socráticos.
Faltam ideias claras de reformismo, sendo marcante a cedência ao politicamente correcto da velha pilotagem automática, dando esperança às forças da inércia, numa confusão de estilos que revela sincretismo de fichas e certas banalidades discursivas. Será um texto devorável pelo contexto e onde o estilo dos ministeriáveis e a ditadura das circunstâncias acabará por ser predominante.
Quando eu era um miúdo, cheguei a ser especialista em programas de governo, nomeadamente nos presidenciais. Sei como se fazem essas coisas com assessores e adjuntos, como eu fui. Foi e é um erro, esse de programar discursos antes de fazer coisas. Porque, como dizia Camões, vale mais experimentá-lo que julgá-lo, mas que o julgue quem não pode experimentá-lo.
Se um sujeito sempre foi conformista face ao micro-situacionismo, é previsível que continue a ser conservador do que está, quando é elevado às alturas do macro-ministerialismo. Daí o telefonema que recebi de um anterior ministro socrático, rindo-se a bandeiras despregadas: “como vês, ainda continuo no poder, pelo menos no mental, nem estas quixotadas prometidas conseguem livrar-se da minha pesada herança”
Depois de ler o “download”, decidi reler outros programas de outras eras. Por exemplo, o da “Seara Nova” de 1921. Basta comparar. Até para me penitenciar face ao que, durante muito tempo, a minha ignorância pouco douta, julgou de Sérgio. Quando ainda não tinha compreendido o que devia ser um reformador à Descartes sem cartesianismo.
Passei depois para a revista Homens Livres – Livres da Finança & dos Partido: “Anima-nos o mesmo fogo sagrado contra a barbaria dos tempos presentes, – é nosso comum mandamento desafrontar o claro sorriso de Minerva das fumaradas insolentes de Vulcano…A esse brado respondemos sempre a tudo que seja por Portugal e a que não falte o selo dignificador da inteligência”.
Governo quer mais celeridade nos processos relativos a direitos da personalidade. A privatização de um dos canais públicos a ser concretizada oportunamente e em modelo a definir face às condições de mercado. Será apresentado “um novo PRACE que será objecto de uma execução rigorosa e ambiciosa”. Eis algumas das novidades, segundo as parangonas. Dá para muito e para o seu contrário.
A retórica ratoeira: “Cada ministro é responsável pelo estrito cumprimento dos limites orçamentais fixados para o seu ministério. Eventuais desvios serão compensados pelo próprio dentro do mesmo exercício”. O próprio não é o ministro, é o ministério…
O governo quer “reduzir substancialmente” o “Estado paralelo”, ou seja, a reavaliação dos institutos, fundações, entidades públicas empresariais, empresas públicas ou mistas ao nível da Administração Regional e Local. Mas num minstério fica a administração pública, no outro, a “reforma administrativa”, assim mantendo o duplo Estado, o dos macros e o dos micros, como se o pagante não fosse o mesmo.
Um velho amigo que agora voltou ao situacionismo e ficou assim aliviado, ainda há pouco lamentava aquilo que qualificava como “radical irredentismo”. Gostaria mesmo de não ter razão neste meu desassossego com os pés no chão, mas não me conformo com os conservadores do que está e que estarão. Prefiro seguir meu signo de pensar ser dizer não, principalmente depois de ler a confirmação do rotativismo.
O estado a que chegámos é, ao mesmo tempo, pequeno demais e grande demais. Pequeno demais para os nossos grandes problemas. Grande demais para os pequenos problemas do quotidiano, quando os poderosos, fracos perante os grandes, se vingam nos pequeninos. Apenas estou a glosar Daniel Bell e a rir-me do espectáculo e da retórica do estadão.
Bastava uma dúzia de decretos à Mouzinho da Silveira para refundar o Estado onde ele faz falta e extingui-lo no que ele é inútil. E somando reforço com abolição, a conta seria bem menos mesada. Por outras palavras, não chega liberalizar, impõe-se a libertação. Até dos chamados liberalizadores de fachada.
Qualquer especialista no estudo dos novos métodos de análise do conteúdo que pegasse no programa de governo, poderia chegar a conclusões interessantes sobre o conflito de discursos ou a banalidade de alguns “sound bites”. Comecei por espreitar a questão da corrupção, que aparece cinco vezes…
Em quatro das cinco vezes, a corrupção aparece sob os auspícios da palavra “combate”, banalizando os dois termos e gerando contradições, porque uma vezes é posta ao nível do combate “a posições dominantes”, outras vezes aos “conflitos de interesses”, para atingir o seu auge como secção da política desportiva: “erradicar fenómenos como a corrupção, a violência, a dopagem, a intolerância, o racismo e a xenofobia”.
Dez das catorze vezes em que aparece a palavra universidade, ela é precedida ou está dependente da palavra empresa, nunca rimando com humanismo…
A palavra combate aparece 38 vezes… Luta, só uma vez, e contra a violência doméstica. Nação e pátria, nunca. República, só para compromissos internacionais, uma vez. Comunidade, 26 vezes, mas sem nunca ter o sentido que lhe deu o Infante D. Pedro…
Já a palavra empresa aparece cento e vinte vezes… Por outras palavras, é, com efeito, a medida de todas as coisas. Isto é, gastou-se pelo uso e perdeu-se pelo mau uso da falta de ideia de obra.
Por isso partilhei esta nota de Leonor Martins de Carvalho, do avô:
“Confesso-me inocente da culpa de haver nascido com alguma tendência para endireitar o mundo, em cada caso ouvindo pessoas discretas dizerem-me que era torta a vara da minha justiça. Então olhava para ela e parecia-me direita… quem serve ao comum, não serve a nenhum”. Leiam tudo e confirmem que só é novo aquilo que se esqueceu.
Em presença deste sumário de inquietações, mudanças e perseguições, não posso dizer que fiz uma carreira oficial, digna de apresentar-se como exemplo a seguir por quem tenha ambições ou aspire à satisfação de as ver realizadas.
Novo governinho
Aí está, novo governo, já inteirinho. Menos meia dúzia, em quantidade, que no anterior. Quase o mesmo em qualidade. Excelentes currículos na minoria, óptimos activismos partidocráticos e empresariais na maioria. Naturalmente, vão, muitos, esta noite alterar o “facebook”, para que não fiquem ligados a “interesses” como o “nespresso” e o respectivo líder…
Há um núcleo duro de grande qualidade, como nunca deixou de existir, até com Sócrates, mas torna-se evidente a nossa falha na formação de elites de Estado, principalmente em grandes escolas de quadros dos próprios partidos. Nada de novo nesta frente da direita. Está tão cinzenta como a revogada frente de esquerda.
Convém insistir que, no anterior governo de Sócrates, havia uma dúzia de cidadãos de idêntica dimensão e que até conseguiram não perder a autenticidade. Mas ainda bem que há quem tenha a coragem de arriscar no serviço público. Temo que, depois da mobilização do estado de graça, as promessas sejam vencidas pela habitual força da inércia, como já se tornou patente com o número e na estrutura da novamente velha governança. Só há instituições com prévias ideias de obra e estas precisam de ser previamente trabalhadas com fé e humilde estudo.
Esperemos que os chefes deste governo sejam mais como o Paulo Bento. Entrem logo a jogar no risco, sem prévio treino. Para que voltemos a ter equipa de todos nós. Até porque, infelizmente, estamos muito dependentes dos jogos dos outros.
É evidente que não é das rápidas análises das autocontemplações curriculares que podemos fazer adequada avaliação no imediato. Vai ser mais interessante o escrutínio a que irão estar sujeitos. Especialmente por parte de opositores que sofreram esse tipo de exame e que moverão intensamente o bisturi da informação privilegiada para a adequada vindicta…
Mas os pesquisadores de perfis ainda não identificaram coisas tão sublimes como a da eventual pertença dos nomeados a entidades místicas como as igrejas protestantes, as obediências maçónicas, o sionismo, as irmandades católicas, as associações recreativas, os anteriores entusiasmos maoístas ou a posição que muitos tomaram no anterior referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez. Da mesma forma, seria imperioso elencar os que são indefectíveis de Pinto da Costa, quantos torcem pelo glorioso e os eventuais sócios da Briosa. Os cartões laranjas e portistas não chegam!
Há, aliás, maçons, de várias obediências maçónicas, que são deputados e ex-deputados, bem como entre actuais e ex-governantes. Mas há muitos outros, que estão de fora e que se celebrizam por declarações antimaçónicas, com real mercado nas parangonas. Sobretudo se estiverem à esquerda. Daí voltarem à ribalta com um problema de falsa consciência, para uso de suas desventuras no PS e no PSD!
Para mim, bastava uma dinâmica fotografia dos grupos de interesse e dos grupos de pressão que dependam da subsidiocracia estatense e da habitual empregomania. Sobre as outras identificações místicas, julgo que o nosso jornalismo comentarista está especialmente desinformado, até tropeçar no primeiro dos sensacionalismos e entrar em vómito analítico sobre o que é óbvio. Obviamente, numa sociedade pluralista, há de tudo. E ainda bem!
Farpas
Não gosto de expandir intuições imediatas, mas dentro de mim já se formou uma convicção sobre o tempo de vida deste governo e do que lhe vai suceder. Vamos ter grande coligação com o PS, tenho a certeza, o quando depende de campeonatos diversos da política doméstica. O tipo de escolhas dominantes nos secretários de Estado, entre tarimbeiros no lastro e velas quixotescas ao vento, serve para a bolina, mas não dá rota.
Partidos, há tanto tempo na oposição, deveriam ter uma ideia, sector a sector, e um programa com programas. Essa de na véspera fazerem estados gerais com independentes ou novas fronteiras com propaganda é má conselheira. E de se julgar que esta tudo em dois ou três livros de autor, com folclórica apresentação em jogos da taça das cidades com feira pode levar a autogolos, mesmo que seja em canto directo…
Se, por exemplo, nomeássemos um ex-bastonete dos abacates para secretário de estado da superação das PPPs nos transportes e comunicações poderia ser uma boa ideia quanto à renegociação de contratos…
Mas talvez eu esteja enganado… o problema da justiça em Portugal pode ser mera questão de assoalhadas e reabilitação urbana por causa da nova lei troikiana dos despejos…
O ministério politicamente mais forte é, sem dúvida e sem ironia, o da solidariedade e segurança social. Mota Soares e Marco António podiam inverter posições sem hierarquia prévia…
A equipa educativa é forte. A mais forte e coerente de todas. Pena terem que lidar com pesadas heranças e de, eventualmente, não terem jeito para a necessária acção bombeiral…
A equipa das finanças tem alguma modéstia na sua firme qualidade. O único drama é o Estado ser bem diferente do Banco de Portugal em termos de gestão de recursos. Mas sempre podemos trocar de ambiente. Infelizmente, não pode ser por decreto.
Há muito secretário de Estado com tentação mediática. Convém recordar-lhes que pela boca morre o peixe.
Governar não é “uma sequência finita de instruções bem definidas e não ambíguas, cada uma das quais pode ser executada mecanicamente num período de tempo finito e com uma quantidade de esforço finita” (definição wikipediana de algoritmo).
Aí está, novo governo, já inteirinho. Menos meia dúzia, em quantidade, que no anterior. Quase o mesmo, em qualidade. Excelentes currículos na minoria, óptimos activismos partidocráticos e empresariais na maioria. Naturalmente, vão, muitos, esta noite, alterar o “facebook”, para que não fiquem ligados a “interesses” como o “nespresso” e o respectivo líder…
Há um núcleo duro de grande qualidade, como nunca deixou de existir, até com Sócrates, mas torna-se evidente a nossa falha na formação de elites de Estado, principalmente em grandes escolas de quadros dos próprios partidos. Nada de novo nesta frente da direita. Está tão cinzenta como a revogada frente de esquerda. Marques Mendes acertou em todas e Marcelo Rebelo de Sousa lá fez das suas.
Convém insistir que, no anterior governo de Sócrates, havia uma dúzia de cidadãos de idêntica dimensão e que até conseguiram não perder a autenticidade. Mas ainda bem que há quem tenha a coragem de arriscar no serviço público. Temo que, depois da mobilização do estado de graça, as promessas sejam vencidas pela habitual força da inércia, como já se tornou patente com o número e na estrutura da novamente velha governança. Só há instituições com prévias ideias de obra e estas precisam de ser previamente trabalhadas com fé e humilde estudo.
Esperemos que os chefes deste governo sejam mais como o Paulo Bento. Entrem logo a jogar no risco, sem prévio treino. Para que voltemos a ter equipa de todos nós. Até porque, infelizmente, estamos muito dependentes dos jogos dos outros.
É evidente que não é, das rápidas análises das autocontemplações curriculares, que podemos fazer adequada avaliação no imediato. Vai ser mais interessante o escrutínio a que irão estar sujeitos. Especialmente por parte de opositores que sofreram esse tipo de exame e que moverão intensamente o bisturi da informação privilegiada para a adequada vindicta…
Mas os pesquisadores de perfis ainda não identificaram coisas tão sublimes como a da eventual pertença dos nomeados a entidades místicas como as igrejas protestantes, as obediências maçónicas, o sionismo, as irmandades católicas, as associações recreativas, os anteriores entusiasmos maoístas ou a posição que muitos tomaram no anterior referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez. Da mesma forma, seria imperioso elencar os que são indefectíveis de Pinto da Costa, quantos torcem pelo glorioso e os eventuais sócios da Briosa. Os cartões laranjas e portistas não chegam!
Há, aliás, maçons, de várias obediências maçónicas, que são deputados e ex-deputados, bem como entre actuais e ex-governantes. Mas há muitos outros, que estão de fora e que se celebrizam por declarações antimaçónicas, com real mercado nas parangonas. Sobretudo se estiverem à esquerda. Daí voltarem à ribalta com um problema de falsa consciência, para uso de suas desventuras no PS e no PSD!
Para mim, bastava uma dinâmica fotografia dos grupos de interesse e dos grupos de pressão que dependem da subsidiocracia estatense e da habitual empregomania. Sobre as outras identificações místicas, julgo que o nosso jornalismo comentarista está especialmente desinformado, até tropeçar no primeiro dos sensacionalismos e entrar em vómito analítico sobre o que é óbvio. Obviamente, numa sociedade pluralista, há de tudo. E ainda bem!
Farpas
Não gosto de expandir intuições imediatas, mas dentro de mim já se formou uma convicção sobre o tempo de vida deste governo e do que lhe vai suceder. Vamos ter grande coligação com o PS, tenho a certeza, o quando depende de campeonatos diversos da política doméstica. O tipo de escolhas dominantes nos secretários de Estado, entre tarimbeiros no lastro e velas quixotescas ao vento, serve para a bolina, mas não dá rota.
Partidos, há tanto tempo na oposição, deveriam ter uma ideia, sector a sector, e um programa com programas. Essa de na véspera fazerem estados gerais com independentes ou novas fronteiras com propaganda é má conselheira. E de se julgar que esta tudo em dois ou três livros de autor, com folclórica apresentação em jogos da taça das cidades com feira pode levar a autogolos, mesmo que seja em canto directo…
Se, por exemplo, nomeássemos um ex-bastonete dos abacates para secretário de estado da superação das PPPs nos transportes e comunicações poderia ser uma boa ideia quanto à renegociação de contratos…
Mas talvez eu esteja enganado… o problema da justiça em Portugal pode ser mera questão de assoalhadas e reabilitação urbana por causa da nova lei troikiana dos despejos…
O ministério politicamente mais forte é, sem dúvida e sem ironia, o da solidariedade e segurança social. Mota Soares e Marco António podiam inverter posições sem hierarquia prévia…
A equipa educativa é forte. A mais forte e coerente de todas. Pena terem que lidar com pesadas heranças e de, eventualmente, não terem jeito para a necessária acção bombeiral…
A equipa das finanças tem alguma modéstia na sua firme qualidade. O único drama é o Estado ser bem diferente do Banco de Portugal em termos de gestão de recursos. Mas sempre podemos trocar de ambiente. Infelizmente, não pode ser por decreto.
Há muito secretário de Estado com tentação mediática. Convém recordar-lhes que pela boca morre o peixe.
Governar não é “uma sequência finita de instruções bem definidas e não ambíguas, cada uma das quais pode ser executada mecanicamente num período de tempo finito e com uma quantidade de esforço finita” (definição wikipediana de algoritmo).
Aí está, novo governo, já inteirinho. Menos meia dúzia, em quantidade, que no anterior. Quase o mesmo, em qualidade. Excelentes currículos na minoria, óptimos activismos partidocráticos e empresariais na maioria. Naturalmente, vão, muitos, esta noite, alterar o “facebook”, para que não fiquem ligados a “interesses” como o “nespresso” e o respectivo líder…
Há um núcleo duro de grande qualidade, como nunca deixou de existir, até com Sócrates, mas torna-se evidente a nossa falha na formação de elites de Estado, principalmente em grandes escolas de quadros dos próprios partidos. Nada de novo nesta frente da direita. Está tão cinzenta como a revogada frente de esquerda. Marques Mendes acertou em todas e Marcelo Rebelo de Sousa lá fez das suas.
Convém insistir que, no anterior governo de Sócrates, havia uma dúzia de cidadãos de idêntica dimensão e que até conseguiram não perder a autenticidade. Mas ainda bem que há quem tenha a coragem de arriscar no serviço público. Temo que, depois da mobilização do estado de graça, as promessas sejam vencidas pela habitual força da inércia, como já se tornou patente com o número e na estrutura da novamente velha governança. Só há instituições com prévias ideias de obra e estas precisam de ser previamente trabalhadas com fé e humilde estudo.
Esperemos que os chefes deste governo sejam mais como o Paulo Bento. Entrem logo a jogar no risco, sem prévio treino. Para que voltemos a ter equipa de todos nós. Até porque, infelizmente, estamos muito dependentes dos jogos dos outros.
É evidente que não é, das rápidas análises das autocontemplações curriculares, que podemos fazer adequada avaliação no imediato. Vai ser mais interessante o escrutínio a que irão estar sujeitos. Especialmente por parte de opositores que sofreram esse tipo de exame e que moverão intensamente o bisturi da informação privilegiada para a adequada vindicta…
Mas os pesquisadores de perfis ainda não identificaram coisas tão sublimes como a da eventual pertença dos nomeados a entidades místicas como as igrejas protestantes, as obediências maçónicas, o sionismo, as irmandades católicas, as associações recreativas, os anteriores entusiasmos maoístas ou a posição que muitos tomaram no anterior referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez. Da mesma forma, seria imperioso elencar os que são indefectíveis de Pinto da Costa, quantos torcem pelo glorioso e os eventuais sócios da Briosa. Os cartões laranjas e portistas não chegam!
Há, aliás, maçons, de várias obediências maçónicas, que são deputados e ex-deputados, bem como entre actuais e ex-governantes. Mas há muitos outros, que estão de fora e que se celebrizam por declarações antimaçónicas, com real mercado nas parangonas. Sobretudo se estiverem à esquerda. Daí voltarem à ribalta com um problema de falsa consciência, para uso de suas desventuras no PS e no PSD!
Para mim, bastava uma dinâmica fotografia dos grupos de interesse e dos grupos de pressão que dependem da subsidiocracia estatense e da habitual empregomania. Sobre as outras identificações místicas, julgo que o nosso jornalismo comentarista está especialmente desinformado, até tropeçar no primeiro dos sensacionalismos e entrar em vómito analítico sobre o que é óbvio. Obviamente, numa sociedade pluralista, há de tudo. E ainda bem!
Farpas
Chegou o chefe no avião da carreira e acabaram as especulações sobre os secretariáveis. Ontem, Santana Lopes, que bebe do fino, nada disse aos costumes. Hoje, Marcello Rebelo de Sousa vai continuar nas alturas. Bispo não costuma tratar de trocos.
Estou a pensar na desgraça de hiper-informação empírico-analítica a que nos condenaram os pardais e manitus do costume. Qualquer tipo de bom senso mandava-os dar uma volta ao bilhar grande. Anexo um desses notáveis exemplos da universidade a que chegámos
Dizem várias pessoas em quem confio e que os conhecem que futuros responsáveis pelas decisões educativas são excelentes científicos e ilustríssimos matemáticos. Espero que respeitem a ciência e a a matemática, acabando com esta instrumentalização do científico e do matemático em contas de sumir e charlatanismo estatístico que não vê um boi diante do palácio.
Estes cristãos-novos dos métodos quantitativos, especialmente em áreas onde, por esse critério, muitas ciências não seriam científicas, deviam ser condenados a ler Pascal para se “finessificarem” e reciclarem pelo simples método da verdade…
Foi no jornal Expresso. Por volta de Março de 2005. Fiz o meu protesto na altura: http://tempoquepassa.blogspot.com/search?q=n
“a um cientista ou a qualquer amante da ciência custará ver esta palavra tão mal empregue. Não há nenhuma ciência da diplomacia nem nenhuma ciência da política ou do direito. São actividades humanas nobres, que podem ser estudadas com rigor, mas esse estudo, tal como o da história ou o da literatura, não constitui uma ciência. E talvez nunca venha a constituir.”
Saudar os vencedores
Relendo velhas tradições dos que apenas gostam de saudar os vencedores: “trabalhar o cacete, desandar o bordão, descarregar o arrocho, são axiomas eternos e invariáveis regras de justiça. Adeptos de “correada não só que deixe vergão, mas que corra sangue, ….só o sangue do açoite cura”. Quem se mete com o poder, leva, faz parte do manual dos intelectuários de serviço. Incluindo os viracasacas.
Universitarês
O universitarês é um primo do educacionês e pode ser praticado pelos que denunciam aristocretinamente o segundo, mesmo quando não disfarçam sua matriz seminarista e congreganista, de tão pouco agrado para a Igreja e as Congregações que estas, quase sempre, se livraram deles em devido tempo, recusando-lhes o “nihil obstat”. Apenas têm de os gramar os incautos e serviçais.
Farpas
Relendo velhas tradições dos que apenas gostam de saudar os vencedores: “trabalhar o cacete, desandar o bordão, descarregar o arrocho, são axiomas eternos e invariáveis regras de justiça. Adeptos de “correada não só que deixe vergão, mas que corra sangue, ….só o sangue do açoite cura”. Quem se mete com o poder, leva, faz parte do manual dos intelectuários de serviço. Incluindo os viracasacas.
Estava a espreitar um programa oficial do velho Ministério da Cultura. Apareceu um hierarca do situacionismo a dar lições literárias sobre o contrapoder. Desliguei imediatamente, porque corria o risco de vomitar. Porque o que ele nos escreve lá do cima custa uma imensidade de euros em cada vírgula. E nem sequer sabe escrever.
O universitarês é um primo do educacionês e pode ser praticado pelos que denunciam aristocretinamente o segundo, mesmo quando não disfarçam sua matriz seminarista e congreganista, de tão pouco agrado para a Igreja e as Congregações que estas, quase sempre, se livraram deles em devido tempo, recusando-lhes o “nihil obstat”. Apenas os têm de os gramar os incautos e serviçais.
O pior de muito anticlericalismo é a falsa consciência de antigos clericalistas. Foi mal de que padeceu muito jacobinismo e muito revolucionarismo marxistóide. E ainda por aí circula em música celestial laicista ou antilaicista. Mudam de cartilha, mas não de método e a respectiva retórica cheira a fedor, gasto pelo mau uso e prostituído pelo abuso.
Há uma coisinha do “ius cosmopoliticum”, e a que antigamente se chamava educação, segundo a qual não é conveniente entrar em casa de outro, onde se é admitido como hóspede, dizendo que ele é comuna, anticomuna, facho, ateu ou atua. Especialmente quando se pediu para entrar, sem prévio pedido do visado.
Sobretudo em matéria de religação, ou religião, há que respeitar quem se assume como homem religioso e, em muitos escritos, como tal se tem revelado. Os encontros imediatos com a divindade não são monopólio de ninguém e, portanto, não cabem em adjectivações unidimensionalizadoras.
Quando alguém se diz religioso e que tu é que não, só porque se julga que ele não obedece certa esquadria classificativa, tipo má língua de sociedade de corte, está a negar a todos os outros o sagrado reivindicativo da respectiva qualidade de homem religioso. Eu, pelo menos, não admito o insulto de me niilificarem nesses domínios. E mais não digo. A não ser com tecla lateral.
Ninguém se lembra do António José de Ávila como esquerdista juvenil, reformista no assalto ao pode, marquês, ou duque. Ficou para sempre como autor de um decreto de 1871, por causa da proibição das conferências de uns então marginais, dado que estas “procuram sustentar doutrinas e proposições que atacam a religião e as instituições políticas do Estado”
Quando se ouve um universitário que não depende de assessores de imprensa nem de consultores politiqueiros, sente-se. Sobretudo, a falta de autenticidade dos vigaristas, pardais e manitus…
Farpas
Um dos três ex-presidentes do PSD que é comentador televisivo, acabou de rapar de uma lista e, demonstrando que bebe do fino, indicou meia dúzia dos novos secretários de estado. Até explicou que os deputados do PSD que não votaram em Nobre podiam ser os ilhéus que queriam um presidente parlamentar das autonomias…
No PS começou a caça aos santos, só porque deixou de haver mouro na costa…
Não é por acaso que o Marquês de Pombal foi paradigma de jacobinos e salazarentos. Eu continuo a preferir a análise do respectivo perfil, conforme Camilo Castelo Branco. Daí que não alinhe no elogio a neoministro feito por direitistas e socialistas, subscrevendo o que dele acaba de dizer Pacheco Pereira.
António Barreto denuncia a lei que regula a instabilidade nomeativa dos altos cargos da administração pública, sem dúvida a principal fonte de clientelismo, aguardando pela atitude do novo situacionismo, apar sabermos se o devorismo rotativista vai ou não continuar.
Altos hierarcas dos anteriores situacionismos dissertam em programas televisivos sobre a estrutura de concentração do novo governo. Ainda ninguém disse que o ministério de Álvaro Santos Pereira nada mais do que a reedição do Ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria, criado para Fontes Pereira de Melo em 1852, coisa que, na república, mudou de nome para Ministério do Fomento.
Em Portugal com este estúpido artigo constitucional que permite a mudança de ministérios e nomes com o simples decreto presidencial de nomeação dos ministros, apenas é novo aquilo que se esqueceu…
Quem fez os distritos não foi o Mouzinho da Silveira, mas o Rodrigo da Fonseca em pleno devorismo, quando inventou uma estrutura de compra dos opositores através da “mesa do orçamento” para que todos passassem a alegres convivas com os impostos do povo, dando satisfação à política de empregadagem do Estado Moderno…
Depois, Costa Cabral, com o despotismo dito democrático do controlo eleitoral, a corrupção e o centralismo, gerou o facto consumado que ainda não foi possível lancetar, gerando-se sucessivos absolutismos de facto de variados e contraditórios regimes e do equilíbrio capitaleiro de forças vivas que degeneram as democracias…
Basta recordar que um dos gritos reivindicativos do 28 de Maio de 1926 foi a criação das províncias, que era então um nome equivalente ao da regionalização. Nem em ditadura o conseguiram, conforme o belo relatório dito “Reforma Administrativa” emitido, depois, pelo Ministério do Interior. Porque iriam para a desertificação as cidades de província que perdessem os serviços do governo civil…
”Um governo bom, de média 16…é tão bom como era o primeiro governo de Sócrates…mais importante do que o perfil dos ministros é “a capacidade de resistência que irão demonstrar” (JAM, Público, hoje)
“Um governo bombeiro, tipo troika” que irá fazer leis “conforme os incêndios” (JAM, Público, hoje)
Se “com os dados que temos hoje” é possível dizer que “o país fecha daquia um ano ou dois”, temos de iniciar uma cruzada do “federalismo europeu…escolhemos para ministro das Finanças um subsecretário de Estado de Bruxelas…uma boa escolha” (JAM, Público, hoje)
As agressões ideológicas do liberal mistruram “o preconceito de esquerda e o fantasma de direita”. Portugal é o único país da Europa onde é pecado ser liberal (JAM, Público, hoje)
Os secretariáveis, depois dos nomes já lançados para a figueira, e sem que o telefone toque, nem sequer aproveitam a ponte, tostando diante das ondas. Ainda por cima, o grande chefe não vem de jacto especial… ainda aterra na Portela e na carreira do costume…
Um livrinho para fim de semana de futuro secretário de estado, Almeida Garrett, “Portugal na Balança da Europa. Do que tem sido e do que ora lhe convém ser na ordem nova de coisas do mundo civilizado”, Londres, S. W. Sustenance, 1830. Sobretudo o “de que ora lhe convém ser”…
Quatro anos depois de Garrett, em 22 de Abril de 1834, o mais importante tratado da liberdade nacional portuguesa, o de Paris. Isto é, França e Grã-Bretanha coordenam conjuntamente Portugal e a Espanha. Península Ibérica passa a ser controlada por esta dupla do directório europeu e da hierarquia das potências, isto é, Lisboa deixa de depender directamente de Madrid.
A viagem pela criatividade faz passagem obrigatória nas mensagens do Bloco Esquerda. São vários filmes e passam por duas rubricas: Retratos da Geração à Rasca e o Bê-á-Bá da Renegociação. Todos eles têm uma imagem cuidada, por detrás de uma história de sensibilidade, sentimento e alguma saudade. «É um mainstream entre Deolinda e Homens da Luta», diz José Adelino Maltez.
O politólogo adianta que os tempos de antena reflectem «a esquerda caviar». A esquerda dos catedráticos e dos artistas. «Louçã é o único candidato a primeiro-ministro que ainda é catedrático», refere. Os tempos de antena reflectem essa forma de estar. Defendem as ideias de esquerda, mas embrulham tudo na melhor qualidade de som, imagem ou criatividade.
Em contrapartida os tempos de antena da CDU raramente mudam. Reflectem a mesma imagem, assente nos mesmos ideais e no mesmo discurso. Durante décadas. «Podiam ser a preto e branco que ninguém reparava na diferença», garante. «Acho que não é preciso dizer mais nada.» Só uma coisa, talvez: os tempos de antena dizem também eles cada vez menos.