Sou suspeito, até pelo curriculum de professor que nasceu numa, cresceu noutra e chegou a acumular por amor e a ser maltratado por isso. Mas há problemas culturais que implicam a eliminação de algumas megalomanias de escolas de regime, marcadas pelo oportunismo e que impedem a superior leitura da eterna ideia de universidade, em tempos de primado da subsidiocracia e de cobarde carreirismo
Monthly Archives: Junho 2011
Hoje é dia de São João
Os secretariáveis, depois dos nomes já lançados para a figueira, e sem que o telefone toque, nem sequer aproveitam a ponte, tostando diante das ondas. Ainda por cima, o grande chefe não vem de jacto especial… ainda aterra na Portela e na carreira do costume…
O Guerra Junqueiro até previa a hipótese de chegada de um D. Sebastião científico. Não era piada ao marxismo. Era ao habitual Professor Pardal das pastas educativas. O que costuma ser sugerido e escolhido pelos senhores primeiros ministros que ouvem o douto conselho do Professor Manitu que sempre gostou dos redactores do Grito do Povo.
O novo ministro da Administração Interna diz que em plena época de incêndios não é oportuno avançar com mudanças. Aliás, nem Salazar, a partir de 1928, tocou no Alberto Xavier, o democrático super-burocrata do Ministério das Finanças, tal como Manuel Rodrigues manteve o secretário-geral do Ministério da Justiça, antigo ministro afonsista. A moda destruidora é bem mais recente.
Quando eu era puto e funcionário do Ministério do Comércio, antes dos trinta anos, tive um ministro socialista que manteve o director-geral que tinha herdado. Só ficou irritado com a comissão de trabalhadores e emitiu um despacho proibindo que os seus funcionários emitissem declarações públicas sobre questões internas. O ministro era António Barreto, um dos sindicalistas era eu.
A comissão de trabalhadores em causa foi das primeiras não-PCP nem sequer de esquerda. Andávamos nos tempos áureos da central UGT e até participámos nas sementes do Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado, depois de perdermos as eleições para o PCP no primeiro sindicato da função pública. E no meu caso, bem desencávamos no ministro António Barreto…
Belos tempos de funcionário público. O meu colega de gabinete era o José Manel Silva Rodrigues e na direcção-geral congénere trabalhava na mesma função o Guilherme d’ Oliveira Martins, todos ministerializados pelo tal de António Barreto. Que não nos topava muito bem, porque eu e o Guilherme tínhamos sido adjuntos do antecessor, o Magalhães Mota.
Um livrinho para fim de semana de futuro secretário de estado, Almeida Garrett, “Portugal na Balança da Europa. Do que tem sido e do que ora lhe convém ser na ordem nova de coisas do mundo civilizado”, Londres, S. W. Sustenance, 1830. Sobretudo o “de que ora lhe convém ser”…
Quatro anos depois de Garrett, em 22 de Abril de 1834, o mais importante tratado da liberdade nacional portuguesa, o de Paris. Isto é, França e Grã-Bretanha coordenam conjuntamente Portugal e a Espanha. Península Ibérica passa a ser controlada por esta dupla do directório europeu e da hierarquia das potências, isto é, Lisboa deixa de depender directamente de Madrid.
Hoje é dia de São João. O de tempos imemoriais, conforme foi recordado neste dia do ano de 1717 em “Goose and Gridiron Ale House”, St Paul’s Churchyard. Daí a bela confusão de solstício. Como no dia de Natal.
Depoimento ao jornal Público
“Um governo bom, de média 16…é tão bom como era o primeiro governo de Sócrates…mais importante do que o perfil dos ministros é “a capacidade de resistência que irão demonstrar” (JAM, Público, hoje).
As agressões ideológicas do liberal mistruram “o preconceito de esquerda e o fantasma de direita”. Portugal é o único país da Europa onde é pecado ser liberal (JAM, Público, hoje)
Farpas
António Barreto denuncia a lei que regula a instabilidade nomeativa dos altos cargos da administração pública, sem dúvida a principal fonte de clientelismo, aguardando pela atitude do novo situacionismo, apar sabermos se o devorismo rotativista vai ou não continuar.
Os tais distritos, formalmente provisórios desde a Constituição original de 1976, resistem e persistem por uma simples razão: os partidos que se oligarquizam eleitoralmente para as listas eleitorais, donde vem a principal matriz dos pequenos poderes domésticos e caciqueiros, bem mais importantes do que os governadores nomeados.
Quem fez os distritos não foi o Mouzinho da Silveira, mas o Rodrigo da Fonseca em pleno devorismo, quando inventou uma estrutura de compra dos opositores através da “mesa do orçamento” para que todos passassem a alegres convivas com os impostos do povo, dando satisfação à política de empregadagem do Estado Moderno…
Depois, Costa Cabral, com o despotismo dito democrático do controlo eleitoral, a corrupção e o centralismo, gerou o facto consumado que ainda não foi possível lancetar, gerando-se sucessivos absolutismos de facto de variados e contraditórios regimes e do equilíbrio capitaleiro de forças vivas que degeneram as democracias…
Basta recordar que um dos gritos reivindicativos do 28 de Maio de 1926 foi a criação das províncias, que era então um nome equivalente ao da regionalização. Nem em ditadura o conseguiram, conforme o belo relatório dito “Reforma Administrativa” emitido, depois, pelo Ministério do Interior. Porque iriam para a desertificação as cidades de província que perdessem os serviços do governo civil…
Hierarcas
Um dos três ex-presidentes do PSD que é comentador televisivo, acabou de rapar de uma lista e, demonstrando que bebe do fino, indicou meia dúzia dos novos secretários de estado. Até explicou que os deputados do PSD que não votaram em Nobre podiam ser os ilhéus que queriam um presidente parlamentar das autonomias…
No PS começou a caça aos santos, só porque deixou de haver mouro na costa…
Não é por acaso que o Marquês de Pombal foi paradigma de jacobinos e salazarentos. Eu continuo a preferir a análise do respectivo perfil, conforme Camilo Castelo Branco. Daí que não alinhe no elogio a neoministro feito por direitistas e socialistas, subscrevendo o que dele acaba de dizer Pacheco Pereira.
António Barreto denuncia a lei que regula a instabilidade nomeativa dos altos cargos da administração pública, sem dúvida a principal fonte de clientelismo, aguardando pela atitude do novo situacionismo, apar sabermos se o devorismo rotativista vai ou não continuar.
Altos hierarcas dos anteriores situacionismos dissertam em programas televisivos sobre a estrutura de concentração do novo governo. Ainda ninguém disse que o ministério de Álvaro Santos Pereira nada mais do que a reedição do Ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria, criado para Fontes Pereira de Melo em 1852, coisa que, na república, mudou de nome para Ministério do Fomento.
Em Portugal com este estúpido artigo constitucional que permite a mudança de ministérios e nomes com o simples decreto presidencial de nomeação dos ministros, apenas é novo aquilo que se esqueceu…
Quem fez os distritos não foi o Mouzinho da Silveira, mas o Rodrigo da Fonseca em pleno devorismo, quando inventou uma estrutura de compra dos opositores através da “mesa do orçamento” para que todos passassem a alegres convivas com os impostos do povo, dando satisfação à política de empregadagem do Estado Moderno…
Depois, Costa Cabral, com o despotismo dito democrático do controlo eleitoral, a corrupção e o centralismo, gerou o facto consumado que ainda não foi possível lancetar, gerando-se sucessivos absolutismos de facto de variados e contraditórios regimes e do equilíbrio capitaleiro de forças vivas que degeneram as democracias…
Basta recordar que um dos gritos reivindicativos do 28 de Maio de 1926 foi a criação das províncias, que era então um nome equivalente ao da regionalização. Nem em ditadura o conseguiram, conforme o belo relatório dito “Reforma Administrativa” emitido, depois, pelo Ministério do Interior. Porque iriam para a desertificação as cidades de província que perdessem os serviços do governo civil…
”Um governo bom, de média 16…é tão bom como era o primeiro governo de Sócrates…mais importante do que o perfil dos ministros é “a capacidade de resistência que irão demonstrar” (JAM, Público, hoje)
“Um governo bombeiro, tipo troika” que irá fazer leis “conforme os incêndios” (JAM, Público, hoje)
Se “com os dados que temos hoje” é possível dizer que “o país fecha daquia um ano ou dois”, temos de iniciar uma cruzada do “federalismo europeu…escolhemos para ministro das Finanças um subsecretário de Estado de Bruxelas…uma boa escolha” (JAM, Público, hoje)
As agressões ideológicas do liberal mistruram “o preconceito de esquerda e o fantasma de direita”. Portugal é o único país da Europa onde é pecado ser liberal (JAM, Público, hoje)
Os secretariáveis, depois dos nomes já lançados para a figueira, e sem que o telefone toque, nem sequer aproveitam a ponte, tostando diante das ondas. Ainda por cima, o grande chefe não vem de jacto especial… ainda aterra na Portela e na carreira do costume…
Um livrinho para fim de semana de futuro secretário de estado, Almeida Garrett, “Portugal na Balança da Europa. Do que tem sido e do que ora lhe convém ser na ordem nova de coisas do mundo civilizado”, Londres, S. W. Sustenance, 1830. Sobretudo o “de que ora lhe convém ser”…
Quatro anos depois de Garrett, em 22 de Abril de 1834, o mais importante tratado da liberdade nacional portuguesa, o de Paris. Isto é, França e Grã-Bretanha coordenam conjuntamente Portugal e a Espanha. Península Ibérica passa a ser controlada por esta dupla do directório europeu e da hierarquia das potências, isto é, Lisboa deixa de depender directamente de Madrid.
Farpa
Não é por acaso que o Marquês de Pombal foi paradigma de jacobinos e salazarentos. Eu continuo a preferir a análise do respectivo perfil, conforme Camilo Castelo Branco. Daí que não alinhe no elogio a neoministro feito por direitistas e socialistas, subscrevendo o que dele acaba de dizer Pacheco Pereira.
O poder, de vez em quando, fica nu… ou a questão das secretas
Conheci e privei com o principal especialista em secretas no último meio século. Não nas secretas, mas na universidade. Por isso, quando leio que um ex-chefe das nossas secretas terá passado informação ao grupo económico para onde foi trabalhar, apenas sorrio com o sofisma. A principal fonte de informações é o próprio e nunca os papéis que ele leu ou relatou. A guerra é outra. Bem mais “silly”.
Não conheço nenhuma boa ideia que não tivesse gerado sistemas de fanatismo, intolerância e ignorância, com o consequente terrorismo. Ontem foi um conservador, cristão, adepto da caça e de jogos de computador, solteiro, director da quinta biológica, maçon, nacionalista e verdadeiro norueguês. Cada um pode escolher o seu fantasma para continuar em preconceito.
A primeira página do semanário do regime é directamente proporcional à homilia dominical do comentador do regime. É tudo tão óbvio quanto o Senhor de La Palisse, entre um que sondou e outro que terá passado. Por mim, prefiro reconhecer que há coisas que só acontecem uma vez na vida. E hoje até sonhei com uma delas. E não foi com espiões em autogestão, quando eles perdem o sentido dos gestos.
Noto os restantes nomes dos escolhidos para a CGD: Pedro Rebelo de Sousa, Nuno Fernandes Tomaz, Eduardo Paz Ferreira, Álvaro do Nascimento e Rui Machete. O regime em peso. Dos prós e dos contras. Um modelo de acalmação suprapartidária que vai além do próprio Bloco Central. São muitos associados do IPCG
O poder, de vez em quando, fica nu. Fica sem concha e sem enfeite, isto é, fora da bainha. Foi o poder dos controleiros dos mercados. É a pressão descarada dos grupos de pressão internos, procurando influenciar certas decisões políticas. E o máximo de poder fáctico: a violência do terrorismo. Tudo sinais de vazio de política.”
António José Seguro está à frente na eleição para o cargo de secretário-geral do PS com cerca de 71% dos votos, num momento em que estão contabilizados cerca de 20.100 votos num total de 25 mil.”
A democracia em assunção
A democracia em assunção
por José Adelino Maltez
Há mais de dois mil anos, bem antes de Cristo, se marca um dia muito especial, o do solstício, dito de Jano, o dos (re)começos, donde veio Janeiro, o nome do mês, o do deus bifronte, de duas faces, uma visível, outra invisível, e com que muitos confundem, e ainda bem, o dia de São João. E, sem ser por acaso, a não ser os sagrados, Portugal também viveu, a 21, o dia de passagem do testemunho, e da eventual regeneração da república contra o cinzentismo da classe política e da partidocracia. Porque a derrota da véspera se transformou na vitória da divisão e interdependência dos poderes e de aviso à navegação contra o principado. Para que se consensualize a humildade da democracia pluralista, que não pode cair na virose do ir de vitória em vitória, para a nossa derrota final. Até há momentos que são os do regresso da palavra e do alto nível da democracia, como aconteceu no dia joanino de uma mulher, a que produziu um dos melhores discursos que ouvi na última década de um actor político. Fiquei feliz porque ela mostrou ser feliz em servir. E 186 deputados ajudaram à boa esperança. Que viva essa nossa democracia!
Assunção Esteves
Confesso a minha fragilidade: ainda vou em discursos. Mas o homem é um animal de palavra, sobretudo de “logos”, de palavra posta em discurso na cidade, coisa donde veio a democracia. Julgo que o homem é o único animal que fala e que, reconhecendo-se finito, inventou o sagrado, ou foi por ele recriado, em interacção.
Finalmente, uma neokantiana emerge no meio desta tristeza decadentista, barroca, utilitária e de neopositivistas, mal arrependidos de um marxismo de pacotilha. E Assunção fez a justiça de invocar Marx, o tal que um dia disse que não era marxista, quando reparou como a criatura se estava a refazer contra o próprio criador.
Há uma pequena coisa chamada coerência de princípios que, quando confirma a autenticidade, nos puxa para cima, em assunção que também pode ser ascensão. Quando a democracia rima com filosofia, o resultado pode ser esta razão prática.
O discurso de Assunção Esteves demorou trinta anos a fazer! Gostei de o sentir em pensamento, pensando o que na verdade sinto.
Espero que o discurso leve bom senso a algumas das ministerialidades vigentes que ainda têm a tentação de refazer o modelo gago ou neogaguista de “révolution dén haut”. Até já se vislumbravam alguns alfredos apimentados, disponíveis para o serviço da vulgata e do inquisitorialismo, não respeitando sequer o original…
Uma neokantiana
Confesso a minha fragilidade: ainda vou em discursos. Mas o homem é um animal de palavra, sobretudo de “logos”, de palavra posta em discurso na cidade, coisa donde veio a democracia. Julgo que o homem é o único animal que fala e que, reconhecendo-se finito, inventou o sagrado, ou foi por ele recriado, em interacção.
Finalmente, uma neokantiana emerge no meio desta tristeza decadentista, barroca, utilitária e de neopositivistas, mal arrependidos de um marxismo de pacotilha. E Assunção fez a justiça de invocar Marx, o tal que um dia disse que não era marxista, quando reparou como a criatura se estava a refazer contra o próprio criador.
Há uma pequena coisa chamada coerência de princípios que, quando confirma a autenticidade, nos puxa para cima, em assunção que também pode ser ascensão. Quando a democracia rima com filosofia, o resultado pode ser esta razão prática.
O discurso de Assunção Esteves demorou trinta anos a fazer! Gostei de o sentir em pensamento, pensando o que na verdade sinto.
Espero que o discurso leve bom senso a algumas das ministerialidades vigentes que ainda têm a tentação de refazer o modelo gago ou neogaguista de “révolution dén haut”. Até já se vislumbravam alguns alfredos apimentados, disponíveis para o serviço da vulgata e do inquisitorialismo, não respeitando sequer o original…