Não sou católico, mas não perdi os directos de Luanda com o Papa, na comemoração da cristianização de Angola, sinónimo da presença dos portugueses, a partir da passagem de Diogo Cão pelo Zaire e, sobretudo, quando os portugueses do Brasil fundaram uma nova São Paulo, a de Luanda, visando a criação do triângulo estratégico de um novo “mare liberum” que ainda tem amanhã, hoje. Porque foi na viagem de regresso de Paulo Dias de Novais que começou certa globalização, a que ainda falta justiça. Tentei ouvir Ratzinger sem preconceitos nem fantasmas, procurando a mensagem que ele quis deixar para o que normalmente chama homens de boa vontade. Quase tudo o que disse sobre o humanismo não me foi alheio, tocou-me por dentro e assim dialoguei por cinco séculos de luzes e de sombras e, diante daquele povo novo que emergiu dessas convergências e divergências, apeteceu a metafísica, respeitando o passado, reconhecendo o presente, sonhando o futuro. Vibrei particularmente com o cântico das batucadas e senti o meu Portugal, do abraço armilar, porque nada há de mais português nessas paragens do que ser angolano até aos limites cósmicos do universal. Porque os suíços podem construir relógios, mas os africanos inventaram o tempo. Apeteceu voltar a agradecer a Angola o facto de se ter tornado independente, de ser mais uma nação a caminho de uma super-nação futura. O Portugal da “spera, sphera, sperança”, semeado por D. João II, pode ter morrido, tentando, mas ficou a vida, aquela a que hoje damos o nome de Angola e do Brasil. Por cá, apenas temos que saber triangular, recordando um tal Sá Nogueira, o da Bandeira, a quem chamavam maluquinho, nos anos trinta do século XIX, porque, quando era ministro, apenas mostrava planos de uma cidade nova, a de Luanda, com um diploma que queria aplicar dando direito a voto aos locais do senhorio natural, para a fundação de muitas repúblicas municipais…