Jan 06

Algumas glosas sobre a oligarquia das bestas

1
Tenho a impressão que a constituição, constitucionalmente falando, deve obediência ao direito e que o direito serve a justiça. Parecer não chega para juristício…que até esse era juridicamente regulado.

2
Juristício, segundo o velho direito romano, era um período de tempo limitado em que, na república, se suspendia o direito, instaurando-se a chamada ditadura clássica. Não era como a ditadura derivada da falta de aplicação da Constituição de 1933, onde a suspensão provisória, prevista no parágrafo único sobre direitos, liberdades e garantias, se tornou definitiva…Em ditas moles é tudo mais hipócrita.
3
Por cá, neste reino cadaveroso, do pensar baixinho, como dizia Sérgio, continua o regime do chamado respeitinho por quem, todos os dias, falta ao respeito aos fins que o poder devia servir, sem que os detentores do dito, dele se servissem.
4
O patrão, ou dono, pode mandar na casa. Na política não há donos. Inventámos a política para sairmos da casa e deixarmos o “dominus” (chefe da “domus”). Em grego, dono era “despote” e casa, “oikos”…
5
Ai de quem não diz que sim senhor, ao senhor director, ao senhor ministro, ao senhor rector, a qualquer senhor que se subscreva presidir ao coiso! Mesmo que seja para dizer que eles, muitas vezes, põem as ordens contra os regulamentos ou as circulares contra as leis, legislando sem obediência ao direito.
6
Contra a desordem instalada, impõe-se a procura da ordem que seja subversão pela justiça. Quem todos os dias reprime apenas o faz, coitadinho, porque tem medo da justa revolta do reprimido. Mudar é não rebaixar os fins do poder, é pensar mais alto.
7
Há muitas décadas, há muitos séculos, que os verdadeiros teóricos da política, os que pensam a prática, sofrendo o mal, inventariaram as categorias do despotismo democrático, do absolutismo democrático e, mais recentemente, da democracia totalitária. Nasceu sempre do mais baixo para o mais alto…quase sempre a partir do indiferentismo e da corrupção.
8
Quase tudo tem a ver com a falta de educadores que possam dar o exemplo de viver como pensam, sem pensarem como depois vão viver…
In STQP
Jan 06

Quando se rebaixam os fins da política, o lodaçal encharca e o que parece não é

Para os que não podem espreitar Plutarco, aqui deixo o título das três obras: “Como Distinguir um Adulador de um Amigo” (leitura obrigatória entre os habituais sindicatos de elogio mútuo, como na política e na universidade), “Como Retirar Benefícios dos Inimigos” (de grande utilidade nas presidenciais) e “Acerca do Número Excessivo de Amigos” (sobretudo para agências internéticas de criação de listas).

Neste retiro da minha ilha, a que hoje recheguei, tenho, pelo menos, tempo para ler a bela tradução de Paula Barata Dias sobre as “Obras Morais” de Plutarco. É evidente que o conceito de amigo não coincide com a polifilia dos do FB. Mas mesmo nesta pode surgir a autêntica amizade. Porque “a harmonia entre a harpa e a lira nasce da concórdia entre tons diferentes”…

Transformar documentos da pide em peças jornalísticas ou utilizá-los como pretexto para ataques a adversários políticos é subscrever métodos da pide e dos seus antecedentes e lugares paralelos, dos vigilantes revolucionários e formigas, aos moscas do intendente. Infelizmente, continuamos herdeiros dos inquisidores!

Quando se começa no regicído, pode acabar-se no republiquicídio…

Li ontem, sobre a questão do BPN: “Mas Dias Loureiro elogiou também as características políticas de Sócrates. Por exemplo, a sua “atenção aos detalhes”. “Só quem está atento aos detalhes pode fazer grandes coisas. Essa é uma característica dos grandes homens.” Elogiou-lhe também a “sensatez” e a “prudência” e ainda o seu “optimismo”: “O optimismo de Sócrates faz muito bem a Portugal”.

Papagaio real, diz-me, quem passa?
– É alguém, é alguém que foi à caça.
Do caçador Simão!…
(Guerra Junqueiro, 1890, com invocação de uma bela Purdey e de um belo texto onde havia tiros a Louçã, mas com muitas balas que saem pela culat…

Quem anda à chuva, molha-se. Só um milagre consegue que alguém passe apenas entre pingos da mesma chuva. Por outras palavras, quase todos os telhados de vidro começam a estilhaçar-se. Quando se rebaixam os fins da política, o lodaçal encharca e o que parece não é.