Ago 26

Velhos quesitos aqui publicados há anos em forma de memória viva

Ao mui ilustre e abstracto leitor*

Sempre gostei que comigo entrassem em contradita, pelas ideias a que me dou e pelas quais me manifesto e não pelos fantasmas que alguns dizem que tenho, só porque não penso aquilo que convém, quando sinto ter o dever de pensar, mesmo quando o professo em contra-corrente.

Por isso não me amedrontam os adjectivos diabolizantes dos pequenos inquisidores que caçam nas névoas dos bruxedos.

Penso o que tenho o dever de pensar e cumpre-me dar disso testemunho, mesmo que corra o risco de estar em minoria.

Porque ter coragem é não contabilizar a opinião quantitativa e não procurar saber de que lado sopra o vento. Pensar é resistir, é ter a coragem de sermos minoria, assumindo a atitude daquele que, para estar de acordo consigo mesmo, tem, por vezes, que estar em desacordo com todos os outros, não para “épater le bourgeois”, mas para servir a comunidade, mesmo que a comunidade o não reconheça no seu próprio tempo de vida.

Pensar é, para esses seres semoventes, entoar uma espécie de música celestial que só influenciaria os habitantes da utopia. Porque, aqui e agora, o dinheiro que compra o poder e a inteligência, o dinheiro que dobra as vontades, começa a tornar-se no valor predominante.

Escrever é assumir o risco de viver, de estar sempre à beira de um abismo onde, muitas vezes, não existem corrimões nem as habituais redes protectoras que nos sustenham a queda, como é habitual neste país de meias tintas, entre a esquerda menos e a direita envergonhada, onde quem é do centro, muitas vezes, não passa de um jogo de soma zero, resultante da mistura da esquerda mais com a direita menos, ou do mais direita com o menos esquerda, como sempre foi a preferência dos vários situacionismos, onde sinais contrários não conseguem disfarçar a existência da mesma substância.

Nós e aquilo que temos a ilusão de criar não passamos da poeira de um caminho que nossos vindouros hão-de calcorrear. Importa ter a humilde consciência deste dever. De sermos parcela da longa corda de transmissão de um sinal de sonho. E é nesta postura de serviço que conquistaremos a eternidade, mesmo que não o registem em nota de pé de página.

No intervalo, apenas seremos compreendidos pelas almas gémeas que servem connosco o mesmo objectivo desta procura colectiva. Mesmo que não surjam anónimos sinais de irmandade. Quem tem a consciência de assim estar vivo e sentir o silêncio dos que, em fidelidade, comungam connosco do mesmo ideal de vida, apesar de se poder sentir só, sabe, intimamente, que não está só e que muitas outras mãos nos querem dar as suas mãos de escrita.

O elemento mais marcante do salazarismo sempre foi a hipocrisia. Pior: o paradoxo de se fazer um discurso contra a hipocrisia a fim de se fazer ainda mais hipocrisia. Isto é, teorizando-se a necessidade da autenticidade, faz-se o exacto contrário do que se vai proclamando.

10º

E agora tudo se disfarça com as mãos papudas do salamaleque de salão, com a cadeirinha de coiro preto, sacanamente posta para o tolo do gabiru julgar que o assassinato pode ser gratificante. E tudo sempre na solenidade ritual de gabinetes grandiosos, onde a luz esguia dos candelabros, o óleo frio dos quadros épicos e o retorcido das escrivaninhas, nos parece transportar para a delícia cultural dos livros de carneira cheios de bicho, cheirando ao mofo dos inquisidores da treta.

11º

O chefe supremo tem sempre as mãos higienicamente desinfectadas, porque ele apenas é mais um desses honestos que, infelizmente, tem que gerir uma plebe de intermediários desonestos, desde a bufaria dos serviçais que esperam ser promovidos, à minoria dos jagunços violentistas, numa rede que só é eficaz se o vértice continuar a parecer o exacto contrário daquilo que o conjunto é, na realidade.

12º

A rede de dependências e medos vai continuar enquanto não assumirmos que em situações pós-totalitárias e pós-autoritárias, mesmo depois de se eliminarem os aparelhos visíveis da repressão e da corrupção, permanecem os subsistemas de medo e de venalidade que os mesmos geraram.

13º

Pior: abundam os micro-autoritarismos sub-estatais e esses modelos de temor reverencial podem aí ser substancialmente agravados e fomentados, principalmente quando as pequenas e os pequenos chefes do bando actuam em legítima defesa, em épocas de transição ou de crepúsculo.

14º

Neste regime de pequenos feudalismos em que se enreda o oportunismo lusitano, o longo prazo do combate por ideias nunca conseguirá ter qualquer espaço de comunicação com o frenesim do mediático. Os candidatos com mais sucesso, silenciando irreverentes, souberam criar uma espécie de sociedade de Corte, tecendo uma rede de fidelidades e simpatias, tal como ilustres gestores do presente aparelho de Estado subiram ao poder gerindo adequadamente o saco azul, vermelho, preto ou amarelo dos pareceres e avenças.

15º

Por outras palavras, o quintal português da feira das vaidades é estreito demais tanto para a autonomia da sociedade civil como até para efectiva expressão da liberdade de pensamento. Os grandes controleiros deste pequeno “big brother” devem ser, aliás, os primeiros que se riem com os habituais invocadores da chamada teoria da conspiração. E isto porque a estreiteza do nosso espírito capitaleiro produziu uma lógica de campanário na nossa principal aldeia, a que damos o nome de Lisboa.

16º

Quando a política de campanário nos vai fragmentando em facciosismos e pequenas zangas de comadres e compadres, onde não faltam os potentados dos pequenos e velhos padrinhozinhos. Quando o futuro se confunde com cinematográficos regressos ao passado e quase todos se diluem na procissão carneiral dos colectivismos morais, importa reparar que à míngua de pátria é o povo comum que começa a perder a vontade de sorrir.

17º

Quando é a esperança colectiva que vai definhando, face à falta de sentido cívico e ao vazio de justiça, começamos a notar que surge uma sociedade de ouriços cacheiros, onde em vez do individualismo da criatividade pessoal e das boas sociedades de egoístas, começa a marcar ritmo de desespero o “vê se te avias” e a moral do sapateiro de Braga, onde tanto não há moralidade como ninguém come nada.

18º

O próprio discurso sobre o bem comum foi esfacelado e usurpado por vendedores de banha da cobra que o encomendaram aos assessores honestos que recrutaram no mercado do proletariado intelectual. Os tais para quem a moral é uma lei que eles impõem aos outros, mas de que se pensam dispensados pela graça do poder, esquecendo-se que não podem invocar tais normas de autonomia os que são exemplos de falta de autenticidade. E não nos parece que os anunciados candidatos à reflexão presidencial tenham suficientes saudades de futuro para provocarem o urgente acordar deste nebuloso letargo em que nos vamos enrodilhando.

19º

Este profundo estado depressivo em que nos deglutimos nada tem a ver com as tensões do tudo e do seu nada de anteriores crises colectivas, quando a alma colectiva ainda não era pequena e nos entusiasmavam os sonhadores activos. Agora, vive-se uma espécie de definhamento com barriga cheia e luxo à farta, com que vamos alimentando a ilusão de ainda sermos uma comunidade nacional.

20º

A mentalidade típica de certos donos do poder está em que entre a teoria e a prática tudo é teoricamente prático e tudo é praticamente teórico, porque, na prática a teoria é outra. Mas, como pela boca morre o peixe e estamos na terra do sapateiro de Braga e de Frei Tomás, se uns logo observam que ou há moralidade ou comem todos, muitos outros logo reconhecem que bem pregas Frei Tomás.

21º

Enquanto estes pálidos e pretensos taumaturgos continuarem nos pedestais do seu ministerial despotismo, não são possíveis gestos com sentido. Eles prostituíram a palavra e profanaram os símbolos. Pujantes em seu efémero julgam-se donos da eternidade. E se alguns dos que vivem como pensam podem volver-se em agnósticos, muitos outros ainda continuam a semear a esperança dos desesperados.

22º

O proibicionismo caceteiro e a persiganga, só porque assentam nos donos do subsidiável e do inspeccionável e que nem sequer têm que registar interesses e acumulações, podem continuar a inspirar muitas transpirações serôdias, inumeráveis cortes de salamaleques, lisonjas e engraxamentos, mas acabam por contribuir para o nosso fenecer sem honra nem humildade.

23º

O decretino e o mediático podem ter, no curto prazo, a razão da eficácia, mas nem por isso se livram de poderem ser um clamoroso erro no médio prazo e até uma estupidez destrutiva no longo prazo. De boas intenções está o inferno do pseudo-reformismo cheio

24º

Não há meio de compreenderem que a história, mais do que o produto da intenção de certos homens que dizem deter o monopólio das boas intenções, é, sobretudo, o produto da acção dos homens livres. A história é sempre uma co-criação de homens livres e raramente é detida pelo caixilho teórico dos que apenas pensam que pensam.

25º

O dominador sempre conseguiu controlar as esperanças e domar as ilusões, através do magistral uso do chicote e da cenoura, usando apenas o primeiro de forma selectiva, de maneira a liquidar as cabeças que se assumem como alternativas oposicionistas.

26º

A cultura imperial-otomana que nas amarfanha, pintando-se de bom pai tirano, sempre soube manipular de forma magistral o pão e o circo, desde a jantarada à custa do dinheiro do contribuinte, às sucessivas farras e guitarradas, para que a rapaziada se embebede e não cuide da chefia da cidade.

27º

E neste ambiente de acrítico louvaminheirismo continua a ser pecado produzirmos simples farpas que ousem sair da mediania estupidocrática dos produtores de hossanas nas alturas aos contadores de histórias que ocupam as chefias.

28º

Porque ninguém ousa dizer em voz alta, mesmo sem berros, o que todos vão comentando pelo sussurro, sobre a total inutilidade de instituições que, sem ideias, apenas servem de corrimão para gentes viciadas em protagonismos balofos de falso mediatismo, apesar de as cortes se emprenharem em ilusionismos activistas

29º

Ainda há instituições que continuam a ser espaços infradomésticos de falso paternalismo, porque ingloriamente dependentes de certos capatazes e dos respectivos fiéis. E nesse universo de cinzentismo pós-totalitário, quem se assume da oposição quase parece que comete um pecado, porque os donos e senhores da coisa logo dizem que monopolizam o conceito de bem institucional, considerando os divergentes como dissidentes a abater. E assim podem sobreviver, para além do prazo de validade, sistemas imperiais de gestão, marcados pela arendtiana categoria do governo dos espertos, onde se manipula a legalidade, conforme o uso que dela podem fazer os espiões da Razão de Estado. Os quais nem sequer alguma vez compreederam o mínimo denominador comum da civilização do Estado de Direito.

30º

A cultura da dependência, gerada pela estreiteza de vistas do paroquialismo balofo e pelo charlatanismo dos piratas com chapéu de coco, que confundem a palavra com a demagogia, apenas afina o delírio de um carreirismo cobarde.

*As trinta citações que faço são retiradas deste blogue. Têm todas cerca de três anos de emissão. Qualquer coincidência deste passado-presente com a falta de saudades de futuro é para quem quiser enfiar a carapuça.

Ago 26

O acervo

O acervo, começado a construir em 2000 e já depois de ter deixado de poder receber actualizações a partir de 2003, tem sido considerado um dos melhores e mais completos repositórios de dados políticos sobre o século XIX e XX portugueses (aliás, basta comparar com os projectos concorrentes, para verificarmos como a coisa até foi baratinha e deixou algum rasto…). Os testemunhos em inúmeros portais e obras científicas, bem como as qualificações de eminentes especialistas e revistas da especialidade são inequívocos. Verifica-se agora que o apagão, sem qualquer cuidado nem quanto a redireccionamentos, foi objecto de negligente gestão ou, o que seria mais grave, de dolosa violação dos princípios constitucionais de aplicação directa quanto à protecção da liberdade académica e do direito à memória.

 

 

Tudo aconteceu pela calada das férias e não parece que a desculpa de eventuais quebras de “links” sejam satisfatórias, depois da vigorosa reacção da blogosfera. Nota-se, objectivamente, que os serviços ditos públicos, principalmente de universidades ditas públicas, não podem apagar de um servidor público essa referência, mesmo que se desculpem com a ileteracia informática ou com os serviços a entidades empresariais de vão de escada ou a agentes pagos a recibos verdes.

 

 

O nome “utl” (Universidade Técnica de Lisboa) e o nome “pt” não podem carimbar graves erros técnicos ou dolosas violações da Constituição. Exige-se a imediata reposição da ofensa à liberdade e que os poderes públicos responsáveis pela aplicação das leis constitucionais sobre a liberdade de aprender e ensinar garantam um sistema de protecção de dados e do património cultural, principalmente pela manutenção em rede destes investimentos culturais. O pedido de desculpas ou a promessa de mais um inquérito não passam de argumentos esfarrapadas perante a ofensa praticada ao próprio nome da escola em causa.

 

Por outras palavras, o limpamento ordenado foi qualificado como avaria técnica dos pretensos saltos tecnológicos e a defesa dos direitos da memória foi reencaminhada para outro braço anónimo do mesmo “big brother”, uma coisa que tanto pode ser uma oficina de vão de escada que recebe ordens do chefe de repartição, como um qualquer recibo verde que pode deixar de ser pago caso não se obedeça ao adjunto do subchefe do chefe, ao melhor estilo daquilo que Hannah Arendt qualificou como “governo dos espertos”, em aliança com o “domínio perpétuo do acaso” e do senhor “ninguém”.

 

 

Entretanto, o “big brother” vai dizendo: eu sou Portugal, eu sou a República, eu sou o Estado, eu sou a Universidade, eu sou a Escola, eu sou a mudança e as quebras de “links” são negligência e não dolo, nem sequer eventual. Logo, mesmo que a negligência gere cessantes homicídios culturais, a culpa continua solteira. E nada melhor esperar que a justiça lentamente mate mesmo a liberdade.

 

 

Por isso, continuarei a resistir. A liberdade não tem férias nem fins de semana. Obrigado, blogosfera! Viva a república universal das pessoas livres e da consequente sociedade civil internacional, enquanto não eliminarem os “links” e o espaço nos servidores, ao serviço de um pretenso pensamento único. Reparo, contudo, que sou um privilegiado: professor catedrático, subdecano da instituição, com alguma voz. E que conheço os meandros dos pré-totalitarismos, com algumas provas prestadas.

 

O que está a acontecer não é mera vingança. É meticulosa repetição da velha estratégia do maquiavelismo clássico. Se eles até decapitam quem não se submete à corte, todos os outros se moldarão sem necessidade de repressão, gerando-se uma maioria de cobardes, sobre a qual será mais fácil o exercício do unidimensional rolo compressor. Daí a táctica do salame e das correias de transmissão, para que o rebelde ou o dissidente possa ser qualificado como doidinho pelo pelourinho da paz dos cemitérios.

 

 

Como professor, não é a minha pessoa que está em causa. É o exemplo que devo dar. Aliás, ainda há dois anos, o “big brother” ainda me ofereceu o poder de carregar no botãozinho da campainha com que se liquidam mandarins no exótico ou na vizinhança. Recusei. Não lhe reconheci autoridade para me dar poderes que não são dele. Eu sei resistir. Não sei se as instituições que eles capturaram já o podem fazer sem o exílio dos homens livres.

 

Não quero agora invocar testemunhos da “Revista História” de Fernando Rosas, bem como as centenas de citações científicas que o arquivo agora apagado têm suscitado. Basta um saltinho à Google e a contagem de 11 800 citações. Repito: onze mil e oitocentas citações. Num tempo em que a ciência se mede também quantitativamente pelo serviço público, apenas anoto a histeria da persiganga.

 

 

 

Deixo o registo destas chaves de acesso a quem, hoje ou amanhã, se queira dedicar a viajar pelos kafkianos processos da nossa liberdade académica em tempo de muitos Pilatos.

Adelino Maltez sobre o apagão «bárbaro» do CEPP

«Querem criar um ambiente de servidão voluntária no País» 

Na sequência da eliminação dos arquivos do CEPP — entretanto repostos —, Adelino Maltez, fundador do site, refere no seu blogue que estamos perante um ataque aos homens livres do País e que, caso não regressem os arquivos para consulta pública irá agir judicialmente contra o Estado
Ana Clara
Porque os donos do poder desta secção da universidade eliminaram dos arquivos de consulta pública o Centro de Estudos do Pensamento Político (CEPP), isto é, 183MB com 12 mil ficheiros e meio milhão de entradas. É desta forma que José Adelino Maltez, fundador do «site», Professor Catedrático do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), denuncia o apagão daquele que é considerado «o melhor arquivo» de história política portuguesa contemporânea «online», www.iscsp.utl.pt/ceppp — e dos ataques constantes aos homens livres deste País.  

12 mil ficheiros apagados

Adelino Maltez salienta que o Centro de Estudos do Pensamento Político, constituído em 2000, por si e por mais dois estudantes, atingiu «a quantia de 183 MB e 12 mil ficheiros e com mais de 11800 citações em motores de pesquisa na Internet. «Além disso, faz ainda parte do currículo oficial do Ministério da Educação, é “livro” de consulta na universidade de Luanda, apoio académico no Brasil e tem tido recepções críticas na Revista de História», informa.

Recorda que, pelo meio, em 2003, «os patrões» da sua universidade — o ISCSP — «não quiseram as duas pessoas que trabalhavam comigo, tudo, porque eram, alegadamente, esquerdistas e não permitiram a continuidade de tal investimento ». «O site ficou inactivo mas apenas em termos de actualizações. Contudo, ficou no servidor porque era um projecto público, pago com dinheiros públicos e tinha que estar alojado no servidor», argumenta, acrescentando que, ele próprio o actualizava — e pagava as custas do seu bolso. 

«Chefe da situação não gosta de mim» 

O Professor Catedrático lembra que «estamos a falar de um caso grave que se está a passar numa escola pública e que por acaso se chama Universidade Técnica de Lisboa». «Recentemente decidiram não gostar de mim — uma das vozes da oposição — e a verdade é que houve um professor bibliotecário nomeado que iria reformular o site mas a primeira coisa que fez foi apagar os dados do CEPP no servidor», denuncia.

«Como cidadão português, obviamente que não me sinto bem. Salvaguardei os dados para salvar o património cultural. Acho gravíssimo que um burocrata qualquer com empresas de “outsourcing” ou funcionários a recibo verde, que não têm responsabilidade sequer disciplinar de um funcionário público, usurpem princípios e bens públicos tão facilmente», lamenta.

E questiona: «se fazem isto a um Professor Catedrático, coordenador das áreas científicas de Relações Internacionais e de Ciência Política, o que é que não fazem a um desgraçado de um assistente ou de um monitor?».

Recorda que compete ao Estado português e aos serviços públicos «o dever de dar o exemplo»: «tenho obrigação moral de dizer, perante os meus colegas que um Professor Catedrático tem que dar o exemplo. O exemplo de não ter medo porque a pior coisa que pode acontecer num País é não haver homens livres. E o exemplo deve vir de cima».

E acusa: «o que certos donos do poder querem é criar um ambiente de servidão voluntária para sermos todos uns escravos doces». E sublinha que «a culpa dos autoritarismos, totalitarismos e compadrios é de não haver revolta. Se conseguirmos espremer, gota a gota, cada um dos escravos que temos dentro de nós, seremos homens e mulheres livres».

«Truque do pré-totalitário em nome da técnica»

Afirma que, neste caso concreto, «está em causa a Universidade Técnica de Lisboa — a que pertence o meu Instituto — que é, curiosamente, a matriz da técnica e da informática e situações como esta não podem repetir-se». Todavia, lembra que «casos como este acontecem em todo o lado na Função Pública»: «estamos a afastar as competências e a criar os subservientes».

E vai ainda mais longe: «como é que garantimos a liberdade académica de ensinar e aprender e como é que a lei garante a manutenção em liberdade de consulta universal no arquivo informático? Estamos a falar de um caso que seria igual a porem lixívia em ¾ da Torre do Tombo ou fazerem arder uma estante de livros de uma biblioteca pública».

Maltez frisa que o CEPP «era essencialmente um site de memória política do século XX. Aquilo não é de ninguém, mas sim de 100 anos de história. E eu resistirei até à última gota de liberdade académica».

Por tudo isto Maltez garante que vai apresentar queixa no DIAP. Contra quem? À pergunta, responde peremptoriamente: «contra o Estado. Tudo, porque a lei portuguesa tem algumas lacunas na defesa destes modelos e na reposição imediata da legalidade».

«O que estão a fazer é o habitual truque do pré-totalitário e, em nome da técnica, querem obrigar alguém a ser servil. Eu não o serei», conclui, sentindo-se envergonhado «com este colectivismo de seita em que a culpa morre sempre solteira».

Adelino Maltez diz que antes de denunciar o ataque ao CEPP, comunicou o sucedido ao reitor do ISCSP, e pediu uma audiência, marcada para a próxima semana. Entretanto, o presidente do Conselho Directivo do ISCSP vai instaurar um inquérito com eventuais consequências disciplinares a Maltez, na sequência das denúncias sobre a destruição do arquivo «online» do CEPP e da eventualidade, ponderada por Maltez, em recorrer ao Departamento de Investigação e Acção Penal.

Resta ainda acrescentar que, à hora de fecho desta edição, os arquivos do CEPP já tinham sido repostos.
Em Caixa
Adelino Maltez: um homem livre!

José Adelino Maltez, conhecido Professor Catedrático e politólogo, nasceu em Coimbra e foi na cidade dos estudantes que se licenciou em Direito, entre 1969 e 1974. Iniciou a actividade docente como Assistente da Faculdade de Direito de Lisboa, de 1977 a 1985, onde colaborou no âmbito das cadeiras de História das Instituições e de História do Direito. Actualmente docente no ISCSP, foi nesta escola que foi assistente de Adriano Moreira no âmbito das cadeiras de Ciência Política, Doutrinas Políticas e Sociais e Teoria das Relações Internacionais.

Doutorado em 1990 com uma dissertação sobre «O Ensaio sobre o Problema do Estado», Maltez é dos poucos homens «livres» deste País e que pouco ou nada se importa com o que os outros dele pensam, como afirmou ao nosso jornal. O homem livre, no pensamento e nas ideias, vive, agora, na pele, o sabor amargo da destruição de anos de trabalho e daquele que é considerado um dos maiores arquivos de pensamento político do País, disponível «online» até há poucos dias.
Foto Maltez — Partilha — Pasta Adelino Maltez, com a legenda:
Adelino Maltez diz que resistirá «até à última gota de liberdade académica»

 

Ago 25

De como desatei aos pontapés, a tocar violino e a chamar nomes a todos os não-ninguém …

Agradeço as manifestações de solidariedade que me têm chegado e, sublinho, da blogosfera, pedindo desculpa pelas que me escapam, as tomadas de posição de Ortogal, de Golfinho, do Blasfémias, do Tugir e do Fumaças. Quero também fazer devido destaque para a posição publicamente assumida por Marcelo Rebelo de Sousa no seu blogue, transcrito hoje no “Sol”. O triângulo de solidariedade, entre uma voz da escola-mãe onde me formei, através de Vital Moreira, da escola onde aprendi a ser professor e onde iniciei a minha carreira docente por concurso público, a Faculdade de Direito de Lisboa, através do seu presidente do conselho científico, e a quebra de bloqueio expressa pelo decano da minha actual escola ao DN, Carlos Diogo Moreira, faz-me sentir universitariamente apoiado.

Logo, calarei neste lugar, a partir de agora, o destaque desta infeliz saga que, reposto o objectivo de desapagamento de um bem público, merece o trancamento de balneário, pedindo desculpa pela interrupção do meu ritmo normal de análise que, aliás, continuei em manuscrito, nomeadamente sobre a campanha para a liderança do PSD, o caso Somague e outras deste defeso de politiqueirismo. Apenas transcrevo a pequena observação de José Joaquim Lopes Praça, de 1868, com que inicio o meu “Metodologias da Ciência Política” que, em breve, será lançado, em breve cerimónia pública, num qualquer lugar de memória, mesmo que seja contra a vontade do editor: muitas vezes se tem dito, e é uma verdade, que não há mais país livre sem instrução, nem um país pode ser bem governado, quando as ciências que mais contribuem para ilustrar os governantes se abandonam ao desamparo…

Como a matéria do apagão, conforme aqui descrevi, pode entrar, de um momento para o outro, em silêncio processual, corro o risco de só poder falar sobre a dita em regime de segredo de justiça, através do advogado que sou obrigado a constituir, dado que a face visível do poder instalado acabou hoje de declarar ao DN que não aprecia o toque de violinos e que a minha actuação sobre a matéria equivale aos sociológicos conceitos de desatar aos pontapés e a chamar nomes a alguém. Aliás, na revista Sábado, que também se referiu ao assunto, páginas volvidas, transcrevem-se afirmações minhas que põem em causa o bom nome da pátria e do regime, quando sobre o jogging de Sócrates, declaro o seguinte: o Cavaco subia coqueiros, o Sócrates faz jogging. São dois exemplos de fenómenos de propaganda de imagem. Apenas isso.

Espero que Marcelo Rebelo de Sousa não seja vítima de uma intenção de inquérito, a promover pelo respectivo conselho directivo, por ter escrito, no semanário “Sol”, o que se segue: um abraço solidário para José Adelino Maltez. O sítio do ISCSP acaba de “sanear” o pecúlio de dados histórico-filosófico-políticos por ele laboriosamente recolhidos ao longo de muitos anos. A saber, o arquivo do Centro de Estudos do Pensamento Político.

Qualquer aprendiz de pesquisador de opiniões pode recolher neste blogue e nas minhas intervenções de publicista, em quase todos os principais órgãos de comunicação social, inúmeras actividades delituosas desse teor e bem podem pesquisar as defuntas fichas da PIDE, do KGB e da CIA que nelas não encontrarão mais do que publicamente incluo no meu “curriculum” cívico e académico, disponível há muitos anos na Internet (http://maltez.info/). E também poderão ler o que quotidianamente emito neste blogue sobre as circunstâncias políticas domésticas e a própria vida universitária. É o meu património não apagável por qualquer apreciador de violinos que, do alto das suas altas funções administrativas, pode continuar a mandar afixar nas vitrinas da respectiva administração, todas as entrevistas políticas que vai dando sobre o PRACE na pátria e na região autónoma que o contratou como reformador local.

Por hoje hoje apenas transcrevo parte do artigo do Diário Notícias, a diponível na net. Desde já informamos que a fotografia de Vasco Neves, incluída no mesmo, não foi obtida nas instalações geridas pelo inspirador da presente reforma do Estadão … na Madeira, pelo que não tem que ser movido qualquer inquérito aos serviços que têm as chaves de tais instalações. Fui fotografado numa cyberloja, diante do Liceu Camões, mas, quando se pediu autorização ao responsável, este logo disse: já sei, é por causa do CEPP, já estou informado pela NET…

Professor do ISCSP inquirido por delito de opinião

FRANCISCO ALMEIDA LEITEVASCO NEVES (imagem)

O Conselho Directivo (CD) do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) vai instaurar um inquérito com eventuais consequências disciplinares ao professor catedrático José Adelino Maltez. Na base deste procedimento está, segundo um documento a que o DN teve acesso, “alegadas intervenções do mesmo professor gravissimamente lesivas para o bom nome e imagem do ISCSP”.

Quem o escreve é João Bilhim, presidente do Conselho Directivo do ISCSP, numa carta que enviou esta quinta-feira a todos os docentes daquela instituição e na sequência de uma notícia do DN desse dia, na qual José Adelino Maltez garantia que poderia recorrer ao Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) por causa da destruição do arquivo online do Centro de Estudos do Pensamento Político. Na carta, Bilhim diz que vai propor na próxima sessão do órgão que dirige “a abertura de um inquérito, destinado a apurar os factos e as correspondentes consequências disciplinares”.

Ao DN, Maltez afirma que o inquérito “é uma ameaça”, rementendo para estas declarações que colocou no seu blogue pessoal (www.tempoquepassa.blogspot.com): “Como toda a universidade pode calcular, saúdo, com toda a veemência da liberdade de expressão, a instauração de tal inquérito que, aliás, já tinha sido, há meses, por mim solicitado em pleno Conselho Científico e que ficou em veto de gaveta. Sugiro, aliás, que o mesmo possa ser levado a cabo por uma entidade independente, nomeadamente a Procuradoria-Geral da República, recorrendo a peritos que saibam distinguir um mail de um weblog, ou uma página oficial de um servidor”.

João Bilhim, por sua vez, declara ao DN que “uma vez que o prof. Maltez tinha dito que ia apresentar queixa ao DIAP e alguns blogues falam na necessidade de a Inspecção Geral do Ensino Superior se pronunciar, eu sou o primeiro a pedir uma clarificação”. Bilhim explica que o inquérito “não é com certeza para tocar violinos, um inquiridor pretende saber se há factos do objecto de delito”.

Este especialista em Sociologia das Organizações – que presidiu à comissão técnica do PRACE, programa governamental que apontava para a redução de cerca de 120 organismos da Administração Central – afirma que ele próprio viu o site do Centro de Estudos Administração Pública e Políticas Públicas, que dirige, ir abaixo durante as reformulações no endereço electrónico do ISCSP. “E não desatei aos pontapés e a chamar nomes a ninguém”, diz ao DN, acrescentando que considera que as declarações públicas de Maltez “são lesivas do bom nome do ISCSP”.

Quem não concorda é Carlos … Moreira, o decano dos professores catedráticos do ISCSP, depois de Adriano Moreira e de Narana Coissoró se terem jubilado. “A carta do presidente do CD deixa-me perplexo, o que me parecia curial era que o prof. Bilhim tivesse, primeiro, procurado falar com o prof. Maltez para se elucidar das razões que o levam a dizer o que disse”, diz Carlos … Moreira, que considera Maltez “um catedrático prestigiadíssimo que merece consideração”.Este sociólogo defende que a carta do presidente do CD, dirigida a todos os professores, “revela precipitação e insensatez”. Mais, segundo Carlos … Moreira, a carta “não corresponde à imparcialidade que o cargo exige”.

Este catedrático condena a passagem em que Bilhim diz “vivemos um momento muito difícil na vida da UTL e do Instituto” e questiona: “Que momento difícil? Só se for a propósito dos novos estatutos do ISCSP que foram propostos contra a vontade de muitos”.

Ago 24

“Http://www.iscsp.utl.pt/cepp” foi declarado de volta! E outras voltas do canto do cisne e do assobio dos camarões…

Eram 22 horas e 39 minutos de ontem quando começou a reposição no servidor de iscsp.utl.pt os arquivos do CEPP que, assim, voltam a poder ser consultados: http://www.iscsp.utl.pt/cepp. Agradeço à blogosfera o apoio recebido nesta luta. Agradeço também à imprensa que fez eco de alguma coisa que me ultrapassa. Informo que, desde 2003, o arquivo em causa não mais teve a hipótese de ser actualizado pela equipa que o concebeu e realizou, não apenas com zelo profissional, mas também com o afecto das coisas que se amam.

Infelizmente, apesar de já surgir o portal do arquivo, os milhares de ficheiros que o sustentam continuam por encontrar, perdidos nos “missing links”. Estão apenas visualizáveis meia dúzia de pastas, tentando tapar-se o sol com a peneira. Espero apenas que não tenham feito “delete” e que estejam amargurados nas andanças do “undelete”, porque o vazio continua e de boas intenções está o inferno do apagão bem cheio…

Por enquanto as firmes competências que produziram o apagão não parecem capazes de reposição dos 183 MB, temendo eu que a gestão em causa tenham corrompido toda a base… esperemos que não!

Infelizmente, o processo do apagão vai continuar. No dia em que a Presidência da República promulgava o novo RJIES, um presidente do conselho directivo emitia uma nota onde as minhas actuações sobre a questão eram decretadas como gravissimamente lesivas para o bom nome e imagem do ISCSP e de pessoas que nele ou para ele trabalham, pelo que anunciava: desde já vos anuncio que vou propor ao Conselho Directivo na sua próxima sessão a abertura de um inquérito, destinado a apurar os factos e as correspondentes consequências disciplinares.

Como toda a universidade pode calcular, saúdo, com toda a veemência da liberdade de expressão, a instauração de tal inquérito que, aliás, já tinha sido, há meses, por mim solicitado em pleno Conselho Científico e que ficou em veto de gaveta. Sugiro, aliás, que o mesmo possa ser levado a cabo por uma entidade independente, nomeadamente a Procuradoria-Geral da República, recorrendo a peritos que saibam distinguir um “mail” de um “weblog”, ou uma página oficial de um servidor. A primeira entidade a que comuniquei este apagão foi a toda a comunidade dos docentes da escola, antes de remeter toda a informação que tinha sobre a matéria ao meu reitor.

O normal anormal deste domínio perpétuo do acaso que marca domínio do ninguém de certa burocracia, onde, para parafrasear Jorge Coelho, a culpa costuma morrer solteira, não me espanta. No meu currículo profissional já me deparei com situações paralelas: nos anos da brasa de 1976-1977, quando era membro de uma comissão de trabalhadores do ministério do comércio, obriguei a que o ministro tivesse emitido nota oficiosa proibindo que os funcionários prestassem declarações públicas sobre matérias de cabaz de compras, mas continuei a escrever nos jornais e até qualifiquei como mentiras, declarações do primeiro-ministro. Não consta que o mesmo me tenha processado.

Alguns anos depois, quando era dirigente da administração pública agrícola, um secretário-geral decidiu tirar da tipografia um prefácio meu à reedição do projecto de lei de fomento rural de Joaquim Pedro de Oliveira Martins. Imediatamente o reeditei à minha custa. E logo me candidatei a deputado contra o próprio ministro no mesmo distrito eleitoral. O tal ministro em causa também me renomeou director de serviços, mas, no dia seguinte, pedi a demissão e fui servir outra direcção pública, mas com a compressão das competências tive tempo para frequentar o curso de defesa nacional e concluir a redacção da minha dissertação de doutoramento.

Só uma vez me lembra de ter sido punido, quando em 1975 fui expulso formalmente como estudante da Universidade de Coimbra, por um plenário movido por alguns militantes de uma esquerda tão à esquerda que, sem ser do MRPP, tinha como activistas ilustres futuros membros do governo da direita cavaqueira e banqueiral. Infelizmente, não tinham notado que já me tinha licenciado em 31 de Outubro de 1974 e sem passagens administrativas. E que, meses volvidos, era adjunto de um dos governos provisórios.

Fechando o círculo, a punição política do tempo do cabaz de compras foi por ter sido adjunto político do anterior ministro do governo provisório anterior. A punição do tempo do governo cavaqueiro foi também por ter sido adjunto de anteriores ministros da mesma área dos tempos dos governos eanistas, incluindo o pintasilguista, e do balsemismo.

A ameaça com que se coroa, na minha escola, o fim do modelo de gestão com que a Lei Gago vai encerrar um ciclo que um quarto de hora antes de morrer já estava morto e quase me faz recordar a coincidência de nomes entre o actual “big brother” e os autores morais de um processo de ocupação violenta de instalações na Rua da Junqueira durante o governo Guterres, quando certos membros da minha escola, em nome do pretenso bom nome da dita, transformaram instalações do ministério de Gago, que era ministro da ciência sem universidades, em objecto ocupável.

Eu fui um dos dois professores que tomaram posição pública contra a operação. O mentor do processo nunca me perdoou e é ele que, por acaso, é o directo responsável pelo apagão do CEPP. Venha o inquérito! Num Estado de Direito a lei já não é quod princeps dixit e o mesmo príncipe está sujeito à própria lei que edita. Aliás já nem há o “l’État c’est moi”, porque o Estado somos nós todos.

Como escrevo no último livro que publiquei, reproduzindo um texto de 1996: uma das consequências habituais do estabelecimento de novas intelligentzias oficiais consiste na expulsão dos universitários que não jurem fidelidade ao novo estado de coisas e no estabelecimento, directo ou indirecto de livros únicos, conforme o modelo da reforma pombalina da Universidade e dos subsequentes saneamentos de lentes liberais pelos miguelistas, ou de lentes miguelistas pelos liberais, numa sementeira de intolerância que prosseguiu por ocasião da instauração da República, da institucionalização do Estado Novo ou do lançamento do processo revolucionário em curso dos anos de 1974-1975. Já chega! Saúdo o actuais presidente da república, primeiro-ministro e ministro da universidade por nunca me terem acusado de pôr em causa o bom nome de Portugal e da República pelas críticas frontais que lhes movo nas inúmeras peças deste blogue e nos jornais onde me expresso desde 1967, quando o meu primeiro artigo em letra de forma foi completamente decepado pela censura, dado que aí anunciava que o totalitarismo só se conciliaria com a liberdade quando os camarões assobiassem…

Ago 24

Entrevista

Ficámos surpresos quando durante as férias nos inteiramos, através do seu blog “Sobre o Tempo que Passa”, que o link http://www.iscsp.utl.pt/cepp, teria sido apagado naquele que o professor classificou como um “acto de saneamento e censura”. O que é exactamente o CEPP? E o que se passou com este link?

 

Às 22 horas e 39 minutos do dia 23 de Agosto foi reposta a ordem alterada e qualquer navegador já pode consultar sem adjectivações um arquivo objecto de apagão. São 183 MB e 12 000 ficheiros, transformados em consulta pública entre 2000 e 2003 e que pertenciam a um pomposo CEPP, quase exclusivamente constituído pela minha equipa docente que, pelo menos, deixou essa obra palpável, que não pertence ao tradicional discurso da música celestial, prenhe daquelas boas intenções de que o inferno costuma estar cheio. Basta consultar os registos das consultas, o relatório de execução e os milhares e milhares de referências, especialmente num tempo em que muitos medem a ciência pelo quantitativo das ditas. Como, para essa execução informática  fomos subsidiados pela FCT, onde quase todos os fundos serviram para compensar o trabalho de dois estudantes que inventaram o modelo de divulgação, os arquivos do CEPP já não são meus, são um bem público, da  comunidade que a eles acede. E o que é comum não é de nenhum e por todos deve ser defendido, como aconteceu com a reacção da blogosfera e da imprensa que dela fez eco.

 

Os atritos entre o Prof. e o Prof. Bilhim têm vindo a aumentar. Tanto que na última conferência das jornadas de C.P. o Prof. Bilhim saiu de rompante a meio da dita cuja, visivelmente perturbado com o que o Prof. estava a dizer. Quer comentar?

As instituições são ideias de obra, onde tem que haver manifestações de comunhão entre os seus membros, todos obedecendo às mesmas regras. E como o absolutismo, em termos de dever já foi revogado pelo Estado de Direito, julgo que neste não é lei o que o príncipe, ou os seus cortesãos, dizem, tal como o príncipe e os mesmos cortesãos estão sujeitos às regras que eles próprios podem emitir. Julgo que já acabou o tempo do “l’état c’est moi”. Não comento quem foge aos debates de ideias. Os estudantes foram felizmente testemunhas dessa interpretação de tolerância a críticas não personalizadas. -

 

 

Quem são os novos donos do poder? Que é como perguntar… O Presidente do nosso Conselho Directivo e mais quantos? “Um desses aliados dos novos donos do poder, ainda há semanas me confessava, no silêncio do gabinete que não tinha dúvidas em mandar-me fuzilar se a revolução dele triunfasse, apesar de continuar meu amigo.”       www.tempoquepassa.blogspot.com, “O “big brother”… culpa vai morrer solteira… Toma!“

 

 

 

“Os Donos do Poder” é o título de um dos mais brilhantes estudos politológicos de língua portuguesa, onde Raimundo Faaoro, um brasileiro da segunda metade do século XX, aplicou a metodologia weberiana para a análise da sociedade e do Estado no Brasil, demonstrando como a legitimidade patrimonial do velho feudalismo predominava no nosso pós-absolutismo.  No ISCSP, os sintomas de escola de regime, oriundos do salazarismo, continuam a perpetuar-se nas presentes encruzilhadas desta democracia pós-autoritária.  É verdade das memórias íntimas esse episódio. Qualquer estudante de ciência política o pode descodificar. Mas pouco interessa a personalização, interessa bem mais assumir uma atitude de resistência contra as teses neo-realistas e neo-maquiavélicas que sempre justificaram o totalitarismo e o autoritarismo e assumir a ideia pluralista militante, segundo a qual não há ciência política sem democracia e não há democracia sem separação de poderes e possibilidade de denúncia daquilo que Montesquieu notou: todo aquele que é detentor do poder tende a abusar do poder que tem, indo até onde encontra limites. Logo, era o mesmo Montesquieu que acrescentava a necessidade da própria virtude democrática também dever ser limitada, porque o absolutismo também podia ser democrático, dado que poderia emergir o despotismo de todos. Coisa que já o nosso Silvestre Pinheiro denunciava sobre o desvio oclocrático das aparências de jacobinismo.

 

 

 

 

 

Ainda bem que a amizade é muita, mas dentro desse mundo muito próprio de lutas de galos, qual o lugar da Instituição, do Conhecimento e… já agora dos Alunos? “…embora admita que terei de mudar a senha, até porque as entradas no meu “gmail” podem ser objecto de espionite, quando o faço no computador da universidade.”

 

www.tempoquepassa.blogspot.com ,“Dificuldades de visualização deste blogue…”

 

 

A instituição não é da endogamia carreirística que nela se instalou, é do povo que a paga. Por isso é que os concursos universitário deveriam ser todos efectivamente públicos e nacionais, sob controlo externo, para acabarmos com os tradicionais concursos com fotografia, numa escola onde tem funcionado o impulso do convidado para o início de carreira. Eu que entrei na universidade pública por concurso, revolta-me que não tenha sido dado cumprimento a inúmeras deliberações do Conselho  Científico sobre a abertura de concursos para catedráticos e para auxiliares, mesmo que com isso introduzíssemos concorrência com os instalados sem qualificações idênticas a muitos doutores, alunos do ISCSP, que não tiveram a sorte neofeudal da protecção de actuais e anteriores donos do poder.

 

-

 

 

 

Hackers…? Ou pelo menos o medo destes? É este o tempo a que chegamos no I.S.C.S.P. (e O.)?

 

Como depois da minha denúncia pública do apagão do CEPP, a resposta formal do senhor presidente do conselho directivo foi a de anunciar um processo de inquérito, coisa que já há meses, sobre lugares paralelos, tinha formalmente proposto ao Conselho Científico, guardarei para esse acto a indicação de prova sobre a matéria.

 

Tendo em conta os títulos de algumas das personagens iscspianistas envolvidas nos maiores problemas do nosso Instituto, e também alguns relacionamentos professor-aluno que por cá existem, cabe-nos a nós perguntar. Pensa existir alguma ligação directa entre a aquisição de um grau académico mais elevado, o ego inflado, as atitudes mimadas, e a consequente redução de capacidades mentais?

Chateaubriand disse um dia que a aristocracia começou por ser nobreza, passou depois a ser dos fidalgos (os filhos de algo, isto é da nobreza de serviço)  acabou nas vaidades. Acrescentarei, criticando Marx, que não é a luta de classes a principal energia da história, é a luta de invejas.

-

 

 

Que análise faria à actual direcção do I.S.C.S.P.(e O.)?

É o regresso à velha continuidade que pode conduzir a área das ciências sociais, na sua versão institucional, ao sistema de apodrecimento por dentro que fez implodir as universidades privadas da mesma área. E a coincidência dos mesmos actores desses dois processos entre os actuais donos do poder no ISCSP parece não ser simples ficção. Basta percorrer a lista dos accionistas da Universidade Internacional, dos cooperantes da Universidade Lusófona ou dos altos dirigentes da Universidade Moderna, para percebermos que temos tanto que mudar de vida como mudar de discurso. Agora, descobriram que o principal inimigo a derrubar  era este entrevistado. Não me sinto honrado com a infâmia, prefiro andar com os pés na lama do caminho e os olhos no sonho, sem fantasmas nem preconceitos. Prefiro Sancho Pança a D. Quixote…

-

 

 

Agora que assumiu as coordenações de C.P. e R.I., o que pretende para estas licenciaturas?

Ainda não foi homologada a acta do Conselho Científico. Ainda estou à espera dos “dossiers” da herança imediatamente pedidos. E  não irei personalizar o poder. Na área das relações internacionais, há coordenadores para cada ciclo: Vasconcelos Saldanha, no primeiro ciclo; Almeida Ribeiro no segundo e Sousa Lara no terceiro. Isto é todos os que anteriormente coordenaram a velha UCP. Em ciência política, como sempre foi o meu programa, teremos Manuel Merinho no primeiro ciclo e José Luís Jacinto no segundo. Não convidei o anterior coordenador da UCP para o terceiro ciclo, dadas as ciclópicas tarefas que tem em curso, com a presidência do Conselho Pedagógico, a direcção da revista e a coordenação das áreas de estratégia, estudos africanos e programas de cooperação europeia. Mas teria muito gosto em que todos déssemos o belo exemplo da não omnisciência.

-

 

 

Quais são os desafios do I.S.C.S.P.(e O.) para o futuro?

 

Reconhecer que os cemitérios estão cheios de insubstituíveis, a começar por mim. Que hoje mesmo tenho de ir constituir um advogado para me poder instruir sobre a literatura de Kafka. Depois disso, vou criar as condições para a equipa coordenadora das UCPs citadas possa cumprir a respectiva missão, preparar a próxima intervenção no Senado da UTL e tentar saber o que vai o Conselho Directivo fazer sobre aquilo que uma comissão criada pelo Conselho Científico deliberou sobre o CRIPE, o Centro de Estudos em Relações Internacionais, Ciência Política e Estratégia  que, apesar de nascer da iniciativa científica e cívica dos respectivos associados, livre dos favores dos donos do poder do ISCSP, está espera do fim de veto de gaveta do Conselho Directivo para poder dar uma pequena parcela de futuro ao ISCSP.

Ago 23

Os alunos não precisam de alguém – para todos os efeitos um professor catedrático…!? – que deforme despudoradamente a qualidade da instituição (sic)

Hoje, já depois de a revista “Sábado” (p. 28) voltar a referir-se ao apagão, todos as caixas de “mail” foram inundadas com longos lençóis do “big brother” anunciando que tudo se tratou de um “missing link”, anexando-se ordens e contra-ordens para subalterno e sobre-alterno sobre a reposição dos arquivos banidos. De qualquer maneira, continua o apagão. As ordens e contra-ordens ainda não repuseram a coisa, até porque a última mensagem do executante diz segue hoje por correio o site do CEPP.

É evidente que se eu não conhecesse os antiquados manuais dos inquisidores, dos moscas do intendente, das práticas das bufarias pidescas ou dos mais recentes meandros da espionite em autogestão, ou desempregados, preocupar-me-ia com a resposta que ao caso do apagão foi dada por um dos vice-presidentes dos órgãos de gestão da minha escola. Prefiro deixá-la assim sequinha, omitindo o nome do douto dirigente da administração pública, para não cair no logro da publicidade enganosa.

Caros Colegas,

O último episódio do Professor Maltez contra a imagem do ISCSP (notícia de ontem na secção nacional do Diário de Notícias, com destaque e fotografia) não pode ficar sem resposta por parte de quem realmente se preocupa com o nosso futuro institucional e profissional.

O ISCSP é muito diferente daquele que o Professor Maltez pinta repetida e publicamente, quer no seu blogue quer nos jornais. No semanário O Diabo, por exemplo, no mês passado, afirmou numa entrevista que despediria metade dos docentes do ISCSP.

Nós não precisamos disto e, sobretudo, os alunos não precisam de alguém – para todos os efeitos um professor catedrático…!? – que deforme despudoradamente a qualidade da instituição onde se formam, numa altura em que existem dezenas de milhar de licenciados desempregados.

A atitude é inqualificável, para mais quando é sabido que o jornalista do Diário de Notícias que redigiu a notícia – Francisco Almeida Leite – é, nas palavras do próprio Professor Maltez, “meu amigo e antigo companheiro de lides jornalísticas”, conforme revela no seu blogue Sobre o Tempo que Passa.

Temos direito à indignação.

Sem medo, defendamos o ISCSP!

Outro mais alto dirigente da escola, directo pelo apagão, em longo lençol justificativo, qualifica esta mensagem que transcrevi como serena e corajosa, terminando o seu anúncio de reposição do CEPP, ainda não concretizado, com estes carinhos: Pelo que se pode ver, o nosso Missing Link tem sido tratado com todo o desvelo e carinho, pago em espécie com a peça no DN e os acrescentos do blog. As mensagens e respectiva cronologia falam por si. Sem comentários. Trata-se de alinhar factos e não, de alimentar polémicas…

Assim reduzido a ponto de interrogação por um senhor professor do não quadro, apenas quero dar-lhes os parabéns. Com mais alguns “mails” deste teor já conseguiram armar o cenário que lhes permitirá que nos próximos júris de ascensão da carreira se libertem de todos os eventuais homens livres que os julguem, incluindo este autor do postal que, em anteriores actos do género, sobre os ditos cujos, sempre os sufragou positivamente. Mais não digo, por enquanto. Direi aqui, depois de o dizer no lugar próprio.

O Francisco Almeida Leite que se cuide. Foi pago em espécie e é meu amigo e antigo companheiro de lides jornalísticas. Toda a blogosfera que apoia a causa da luta contra o apagão, se calhar, também é paga na mesma espécie e nunca pensei que houvesse tantos amigos e actuais companheiros na luta blogosférica pela liberdade de expressão e pelo direito à memória. Vamos a factos. Os arquivos têm que ser repostos. De promessas está o inferno cheio…

Ago 23

É proibido ter memória… a cegueira voluntária é o pior dos atestados e defeitos da vida mental portuguesa

Há quem diga que os mais sublimes exercícios da liberdade nascem quando esta, em vez de reduzir-se a mera concessão do soberano vencedor, vive a raiva de poder ser uma conquista dos oprimidos, quando ela se assume como um insolente exercício da rebeldia contra a desordem instalada. Acontece que, quando o homem revoltado actua apenas num microcosmos pré-político, ainda por cima rodeado por um ambiente global de Estado de Direito dito democrático, qualquer grito de alforria pode arriscar-se a ser interpretado como picardia diletante de quem quer colocar-se em bicos de pés para armar espectáculo de exibicionismo ou narcisismo.

Por isso me custa, ter que continuar a usar este espaço para uma defesa de uma aparente microcausa, especialmente quando o abstracto censor faz parte daqueles surfistas das ondas do poder burocrático que apenas pensam em cavalitar nas ondas da vaidade e raramente reparam nos efeitos destrutivos do tal belo horrível, bem expresso pelo dedilhar da lira da música celestial da lenda de Nero que continuou imperador, apesar de uma cidade ter ardido.

Mesmo assim, não posso deixar de assinalar mais apoios recebidos: do João Carvalho Fernandes, do Jumento, de Rádio Macau, do Alcatruz, do Zé Coelho, do Almocreve das Petas, do Almanaque Republicano, bem como de alguns outros cujo rasto nos registos do “sitemeter” perdi, devido ao número de coonsultas. Permitam-me que destaque os meus colegas de luta pelo direito à memória do Almanaque Republicano e do Almocreve:

Um censor alucinado, maliciosamente alojado no ISCSP e a coberto de um presuntivo iletrismo informático, apagou o valioso e estimado acervo do Centro de Estudos do Pensamento Político (CEPP) laboriosamente lavrado pelo professor José Adelino Maltez.

O lugar (CEPP) que tão bem soube agasalhar um infindável rol de personagens que são pertença da nossa história; esse abundante inventário, ordenado e minuciosamente classificado de homens, mulheres e eventos da nossa memória colectiva; esse conjunto de verbetes únicos sobre o pensamento político português; os valiosos quadros cronológicos facultados; tudo o que era uma fonte de consulta obrigatória para estudiosos, leitores atentos ou simples curiosos, lastimosamente se esfumou da rede. O “reservado”, onde tantas e tantas vezes recorremos para trabalhos biográficos ou simples iniciação, foi extraviado.

Essa biblioteca virtual, que com mérito e generosidade o professor José Adelino Maltez construiu e nos honra, sofreu um rude “apagão” às mãos da ignorância, da irresponsabilidade e da arrogância de “mandarinatos universitários” (citando Vital Moreira), que ontem como hoje têm da cultura, do trabalho e do ensino um insaciável desprezo. Que esses fantasiosos académicos, neste país de “muita vergonha”, habitem o Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) e a Universidade Técnica de Lisboa, surpreende pela sua gratuidade e impressiona. Não sabem dignificar a instituição, revelando, bem à maneira do que diz o vate Pessoa, que a cegueira voluntária é o pior dos atestados e defeitos da vida mental portuguesa. E que é proibido ter memória.

Também o “Jumento”, habitual vítima dos mesmos devaneios dos desenhadores mentais do PRACE, onde a coincidência até tem o mesmo responsável, observou:

O caso do apagão do CEEP, um trabalho do professor Adelino Maltez do ISCP, parece ser um mais um caso de mediocridade, alguém não gostou que houvesse algo de útil feito pelo professor Maltez e com um simples “DEL” escangalhou uma base de dados única e útil para muitos estudantes de ciência política. A Universidade que se imagina centros de disseminação e multiplicação do saber acaba por ser um exemplo de mediocridade onde muitos asseguram a sua sobrevivência destruindo o saber alheio. Mas desta vez tiveram azar, tropeçaram no professor Maltez que, como diz o povo, parece ter sido “enxertado em corno de cabra” e, como se isso não bastasse, ficaram com a blogosfera e muito graças as esta também com a comunicação social à perna….

Sucede que a Universidade Técnica de Lisboa é pago com os dinheiros dos contribuintes e no caso do portal silenciado por um qualquer idiota que ainda não reparou que a Santa Inquisição há muito que se resguardou nas sacristias, houve também um financiamento com dinheiros da FCT. A autonomia universitária não serve nem para transformar as universidades em escolas privatizadas por e para proveito de alguns dinossauros locais nem para esconder o que por lá se possa fazer com o dinheiro cobrado aos contribuintes.

Mas como o Estado funciona ficamos à espera que as instituições actuem, se os responsáveis do ISCSP são incapazes de apurar o que sucedeu é inevitável que seja a Inspecção-Geral do Ensino Superior a intervir. Cabe ao ministro Mariano Gago intervir pois o ruído é mais do que suficiente para que tome a iniciativa a que legalmente está obrigado.

Reparo, agora, que a aparente microcausa tem muitos outros paralelismos, dado que muitos outros “sítios” desaparecem quando novos donos do poder usurpam anos de trabalho, especialmente quando, com algum atraso, estes descobrem que há servidores, páginas e até blogues. Apenas tenho saudades de certos tempos de pioneirismo, quando, mesmo na minha escola, participei nas primeiras aventuras informáticas, com jovens estudantes e monitores, iniciando de forma artesanal a primeira sala de computadores e as primeiras aventuras, ainda no século passado, antes da chegada dos grandes sistemas, das grandes regras e dos engenheiros de vão de escada, formados em universidades também de vão de escada, quando a imaginação do “software”, incluindo o piratado, não estava dependente do ónus do “hardware” dos almoxarifados e dos economatos, gestores das verbas com que também se compram os rolos de papel higiénico, as borrachas, os lápis azuis, a lixívia e os suplementos de vencimento para os cabos eleitorais do chefe. .

Ago 22

Jamais voltarei a pedir esmola, dado que a dignidade individual … não pode estar sujeita às torturas e tonturas de uma infra-burocracia

Se julgo ter cumprido o meu dever de resistência e se, por parte da blogosfera, senti que existe ainda a fibra da solidariedade, não posso deixar de assinalar que um “big brother” endogâmico continua a autoreproduzir-se em concentracionarismo.

Independentemente da minha ligação ao caso, verifiquei que, numa secção de uma universidade pública, prenhe em guerrazinhas de homenzinhos, um qualquer burocrata, invocando a renovação gráfica e de conteúdos propagandísticos do “site” institucional, decidiu eliminar do servidor público onde o dito se aloja, um manancial de dados, subsidiado com os dinheiros públicos da FCT, produzindo um apagão de cerca de 183 MB, isto é, de doze mil ficheiros que tinham até agora mais de uma dezena de milhar de citações nos principais motores de pesquisa, que até constam de programas oficiais do próprio ministério educativo que com tanto salto tecnológico fica assim à mercê lógica de vão de escada, tal como outros e variados portais…

O acervo, começado a construir em 2000 e já depois de ter deixado de poder receber actualizações a partir de 2003, tem sido considerado um dos melhores e mais completos repositórios de dados políticos sobre o século XIX e XX portugueses (aliás, basta comparar com os projectos concorrentes, para verificarmos como a coisa até foi baratinha e deixou algum rasto…). Os testemunhos em inúmeros portais e obras científicas, bem como as qualificações de eminentes especialistas e revistas da especialidade são inequívocos. Verifica-se agora que o apagão, sem qualquer cuidado nem quanto a redireccionamentos, foi objecto de negligente gestão ou, o que seria mais grave, de dolosa violação dos princípios constitucionais de aplicação directa quanto à protecção da liberdade académica e do direito à memória.

Tudo aconteceu pela calada das férias e não parece que a desculpa de eventuais quebras de “links” sejam satisfatórias, depois da vigorosa reacção da blogosfera. Nota-se, objectivamente, que os serviços ditos públicos, principalmente de universidades ditas públicas, não podem apagar de um servidor público essa referência, mesmo que se desculpem com a ileteracia informática ou com os serviços a entidades empresariais de vão de escada ou a agentes pagos a recibos verdes.

O nome “utl” (Universidade Técnica de Lisboa) e o nome “pt” não podem carimbar graves erros técnicos ou dolosas violações da Constituição. Exige-se a imediata reposição da ofensa à liberdade e que os poderes públicos responsáveis pela aplicação das leis constitucionais sobre a liberdade de aprender e ensinar garantam um sistema de protecção de dados e do património cultural, principalmente pela manutenção em rede destes investimentos culturais. O pedido de desculpas ou a promessa de mais um inquérito não passam de argumentos esfarrapadas perante a ofensa praticada ao próprio nome da escola em causa.

Comuniquei a circunstância ao garante simbólico dos princípios académicos. Do alto da sua autonomia, nada disse. Terei de tirar as conclusões e, naturalmente, pedir novos sítios para o exercício da ideia de universidade. Nomeadamente, para um qualquer servidor que não tenha destas negligências ou destes dolosidades, onde os homens do poder brincam aos despachos do regulamentarismo kafkiano, á boa maneira do velho Pôncio, o tal que não mandou parar a guilhotina nem as remessas para os gulagues…

Serve-me de consolo o que, antes disto, foi referenciado por José Pacheco Pereira: Uma parte importante do “conteúdo” da Rede é feita por trabalhadores dedicados e incansáveis. Eles trabalham para nós, por gosto, por entusiasmo, porque têm interesses e curiosidades muito vivas, que querem transmitir, que colocam ao serviço de todos. Duvido, – não, tenho a certeza – , que não tiram daí quase nada, nem vantagens académicas, nem vantagens materiais, e, num país distraído de tudo e demasiado entretido com ninharias, escasso prestígio intelectual, cultural e social. Mas o seu entusiasmo é compulsivo e, de local em local, de plataforma em plataforma, eles fazem o seu trabalho de amador, no verdadeiro sentido da palavra. Um exemplo é o trabalho na Rede de José Adelino Maltez com o Cosmopolis e a Biografia do Pensamento Político.

Reforça-me a crença na ideia de universidade o que testemunhou um meu antigo professor, por acaso meu adversário no combate de ideias, Vital Moreira: Mandarinatos: quando a autonomia universitária medra em ambientes nocivos e é instrumentalizada por medíocres actores, geram-se estes mandarinatos universitários, autoritários, ressentidos, censórios e irresponsáveis.

Não posso deixar de salientar outra postura, a de Antóno Balbino Caldeira, que, aliás, em certas posições, aqui tenho criticado. Obrigado! Mas outros e variados têm sido os actos de solidariedade: Prosas Vadias, O Meu Quinhão de Tela, Pleitos e Apostilas, Cartas para Sakhalin, Nuno Zimas no “Arrastão”, o Eugénio de Almeida, o André Azevedo Alves, o António Manuel Venda, A Ilha dos Amores, o Tomar Partido

Até fiquei a saber, por manchete do Notícias Lusófonas, que o CEPP era de leitura obrigatória em Luanda, na Universidade Agostinho Neto e na Universidade Lusíada e fazia parte da bibliografia dos programas oficiais do ministério educativo…brasileiro.

Como o António Balbino disse: este post custa-me mais a escrever. Mas tem de sair. Custa-me mais, que a escrita custa sempre – além do atrito dos dedos sobre as novas canetas, que são os teclados, ou sobre as velhas canetas de aparo, esfera ou feltro, há o atrito psicológico da procura da substância e da melhor forma e a avaliação do impacto pessoal e comunitário do que se comunica – porque respeita à escola, o ISCSP, que ainda considero como minha, porque aí fiz a licenciatura, ainda no palácio Burnay da rua da Junqueira.

Informou no dia 17-8-2007, o Prof. Doutor José Adelino Maltez no seu blogue Sobre o Tempo que Passa, que foi apagado o arquivo do Centro de Estudos do Pensamento Político (CEPP) do sítio na Internet do ISCSP, escola da Universidade Técnica de Lisboa (estatal) onde lecciona. Num país com um atraso de instrução ainda maior do que o atraso económico, com grandes carências de publicação cultural e científica, que sentido faz apagar um acervo justamente considerado o melhor sobre a Ciência Política em Portugal, e nomeadamente sobre a cronologia do pensamento político em Portugal, e disponível em linha? É certo que o arquivo continua acessível num sítio – Respublica – criado e mantido pelo próprio Prof. Doutor José Adelino Maltez, mas este apagamento parece mais um exemplo da moda do autoritarismo de Estado que a democracia e o povo sofrem.

Não transcrevo os elogios, tal como não desvendo os círculos de confiança das relações interpessoais. Também não repito os gritos de revolta. Apenas sublinho alguns comentários dos muitos que estão “on line”: “Há dois tipos de pessoas no mundo: as que se elevam e as que se inclinam”. “Infelizmente a inveja é uma das características negativas do português, especialmente contra quem tem o ‘mau’ hábito de escrever factos, coisa essa que politicamente traz facilmente inimizades. Não espanta que tivessem apagado o arquivo. Eu, que o consultei tantas vezes, adimiro-me apenas que em vez de o terem apagado não o tivessem mutilidado ou abastardado.

Repito o que disse, sobre a matéria em 2003: Em nome de uma missão de verdade, continuarei, portanto, solitário. Sem desistir. A cumprir aquilo que penso ser o meu dever: disponibilizar as fichas de um projecto que já existia antes de haver CEPP e financiamento da FCT. A tentar prestar um serviço à comunidade. Jamais voltarei a pedir esmola, dado que a dignidade individual de um professor catedrático não pode estar sujeita às torturas e tonturas de uma infra-burocracia. E mais não digo, porque o ISCSP é a minha escola. Até sempre. Com muita revolta…

Apenas concluo com o grito de revolta que remeti à simbólica figura da máquina estatal que, através da imagem de Dali, reproduzi em cima: Venho, por este meio, solicitar …. formal audiência. Não para relatar mais uma das habituais guerrazinhas de homenzinhos dos conselhos científicos e das assembleias de representantes, mas para lhe dar conta de uma simples ocorrência. Desde o começo do milénio (mais propriamente a partir de Abril de 2000) houve um pequeno projecto subsidiado pela FCT que tornava disponível em http://www.iscsp.utl.pt/ceppp um certo manancial de informação científica. Uma coisita com cerca de 183 MB (182.246.466 bytes) que teve meio milhão de consultas para 12 000 ficheiros que colocavam a UTL e o ISCSP em qualquer motor de busca. Terei todo o prazer de lhe fornecer o relatório FCT de execução material do projecto e as inúmeras referências científicas de um esforço de investigação aplicada que coordenei, com a ajuda de dois simples alunos das então licenciaturas. A coisa naturalmente ficou sem actualização desde que não quiseram manter a colaboração de dois simples monitores. Mas a mesma coisa sempre esteve em arquivo pouco morto, dado que atingir um “ranking” de mil consultas diárias neste novo ramo da divulgação ainda é um bem escasso. Eis senão quando, em pleno Agosto, pela calada das férias, os arquivos desapareceram . Não digo do portal que o pode sanear, conforme os critérios editoriais de um qualquer chefe de repartição, coisa que admito. Desapareceram, pura e simplesmente, dos arquivos de consulta pública. Não comento a gravidade desse vazio. Outros a poderão qualificar. Apenas registo e peço que o nome “UTL” e o nome “PT” avaliem os estragos e garantam a liberdade de ensinar e aprender. Solicito, portanto, audiência formal a quem é simbolicamente o garante destes princípios constitucionais de aplicação directa…

Ago 22

Afinal a primeira imprensa a ler e a divulgar foi a “on line”. No “Notícias Lusófonas” de ontem

Afinal a primeira imprensa a ler e a divulgar foi a “on line”. No “Notícias Lusófonas” de ontem

Cultura provoca náuseasaos «donos» de Portugal – 21-Aug-2007 – 12:37

183 megabytes do Centro de Estudos do Pensamento Político, do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, atirados ao lixo Portugal ocupa os lugares cimeiros da cultura e da investigação universitária quer a nível europeu como, e porque não dizê-lo, a nível mundial. Dúvidas? Então leiam o que se segue. 183 megabytes do Centro de Estudos do Pensamento Político, do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas de Portugal mandados para o lixo. Culpado? Provavelmente o primo do cunhado do tio do avô da senhora da limpeza. Quando no centenário de um dos poetas mais populares portugueses, Miguel Torga, o Ministério da Cultura – presumimos que seja assim que se chame e se é que existe – pautou para ausência oficial a nível de chefias; Quando uma Universidade a quem são oferecidas duas obras – dois ensaios – não os aceita previamente sem antes analisarem à lupa (dixit) as referidas obras; … É porque se nada em cultura em Portugal.

No caso da rejeição das duas obras, recorde-se que são consideradas de consulta obrigatória na Universidade Agostinho Neto, em Luanda, e na Universidade Lusíada, na mesma cidade. Na Universidade Técnica de Lisboa (UTL), existe um Instituto, o Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) onde uma das suas principais vertentes lectivas, e como o nome sugere, está no estudo das Ciências Sociais (Ciências Políticas e Relações Internacionais).

Um dos suportes que os futuros licenciados, Mestres ou Doutores desta duas áreas era o Centro de Estudos do Pensamento Político (CEPP), sendo um dos seus principais dinamizadores e ex-director o professor José Adelino Maltez, agrupado, mais tarde, como portal no ISCSP. O CEPP era, ultimamente, um portal onde se podia aceder a cerca de 12 000 (doze mil) ficheiros da Ciência Política portuguesa e universal com uma área de 183 Megabytes. Um enorme ficheiro que a cultura e o ensino muito agradeciam.

Mas como a cultura é um bem de luxo – daí se compreende que em certos aspectos e em certos produtos se pague IVA dos mais altos – e como em Portugal não abundo o dinheiro, uma “personalidade” (provavelmente o primo do cunhado do tio do avô da senhora da limpeza) decidiu que este enorme tijolo que pesaria sobra as incautas e (in)cultas cabeças portuguesas – e que estrangeiros, inopinadamente e sem quaisquer custos, também tinham a mania de aceder – além de poder prejudicar, seriamente, os futuros utilizadores da UTL/ISCSP obrigando-os a pagar insuportáveis propinas (aquelas que já são das maiores da Europa, a nível de Universidades públicas), decidiu, escrevíamos, acabar com o CEPP e limpar dos acessos do ISCSP. 183 Mb deletados e mandados para o lixo como se de um antigo e inapropriado jornal ou livrinho de cordel se tratasse; 183 Mb daquilo que Pacheco pereira considerou como “…o excelente “site” sobre o pensamento político contemporâneo existente em Portugal”.

Se Portugal soubesse o que é cultura – há quem diga que já o soube até porque tem uma das universidades, a de Coimbra, mais antigas do Mundo – e se houvesse um ministro ou um Ministério que tutelasse a Cultura ou o Ensino Superior capazmente, de certeza que em vez de limparem o portal tê-lo-iam transferido para uma qualquer fundação. Não é isso que um tal Ministério do Ensino Superior propôs às universidades públicas portuguesas? A pagar, gratuito, restrito, pois fosse assim. Mas ninguém ficaria prejudicado. Mas não! À moda do Portugal que entre um génio sem cunha e um néscio com ela, escolhe…

posted by JAM | 8/22/2007 06:33:00 PM

Afinal, a imprensa também lê os blogues…No “Diário de Notícias” de hoje.

Destruição de arquivo vai originar queixa no DIAP

FRANCISCO ALMEIDA LEITE

DIREITOS RESERVADOS (imagem)

Os arquivos do Centro de Estudos do Pensamento Político (CEPP), que pertence ao Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) foram literalmente apagados, sem que o seu coordenador e principal mentor saiba porquê.

Ao DN, José Adelino Maltez diz que os conteúdos que figuravam do portal do CEPP (http/www.iscsp.utl.pt/ceppp) desapareceram, depois de no ISCSP lhe terem dito que o site seria reformulado. “Houve um professor que foi encarregue de controlar os sites e o servidor”, garante Maltez, acrescentando que o instituto que pertence à Universidade Técnica de Lisboa usa “contratados a recibo verde” no seu serviço de informática.O ataque àquele que é considerado o melhor arquivo de história política portuguesa contemporânea online – com mais de meio milhão de entradas desde a sua fundação no ano 2000, com o apoio da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) – deverá motivar uma queixa no Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP).

“Dou quinze dias para que haja uma responsabização para esta lisura dos serviços públicos que envolve domínios respeitados como “utl” [Universidade Técnica de Lisboa] e “pt”, depois disso escrevo ao Procurador-Geral da República e vou ao DIAP. Não podemos estar à mercê de um Big Brother que resolve fazer delete a anos de trabalho”, diz o catedrático do ISCSP.José Adelino Maltez sublinha que “a grave iliteracia informática que há ainda na universidade portuguesa, onde se confundem sites com blogues, está a prejudicar muitos no Brasil e em Angola, instituições de ensino que se baseavam nestas fontes para o seu trabalho”.

Apesar de tudo isto, Maltez afasta responsabilidades do ISCSP: “Em nome de uma missão de verdade, continuarei, solitário. A cumprir o meu dever: disponibilizar as fichas de um projecto que já existia antes de haver CEPP e financiamento da FCT. Jamais voltarei a pedir esmola, dado que a dignidade individual de um professor catedrático não pode estar sujeita às torturas e tonturas de uma infra-burocracia. E mais não digo, porque o ISCSP é a minha escola. Maltez está agora a tentar refazer parte do arquivo (http/maltez.info/respublica//) à sua custa. O DN tentou ontem ouvir o ISCSP, mas sem sucesso.

 

Ago 21

De Scolari à madailização que nos envolve

Nestes reinos da quotidiana, horária e semi-horária hiperinformação, onde todos somos agentes da Judiciária ou treinadores de sofá, também todos pudemos assistir, em directo, à verdadeira “mentira” do fora de jogo de um esboço de murro que talvez tenha apenas arranhado “um pouquito” quem queria agredir o “menino”. Por outras palavras, o senhor Felipão, talvez em homenagem à visita do Dalai Lama, caiu na esparrela de responder a uma eventual provocação e abandonou a sua posição de autoridade, para entrar nos terrenos movediços do poder do murro, isto é, deixou de ser o “mister”, o “professor”, o “coacher” e encenou uma imagem de agressor que agora ocupa todas as parangonas. A rapidez com que se passa de bestial a besta, ou de engraxado a punido, é facilmente demonstrada pela ligeireza com que agora se analisam as vulutas cerebrais de um qualquer mediático exótico que nos tenha visitado, neste ambiente de “voyeurismo”. Como já escrevi há uns anos, tanto não tenho jeito para Sancho Pança, como também prefiro usar a lança da palavra, não contra moinhos de vento, mas contra as vacas sagradas que nos continuam a poluir. Não quero é abdicar daquele supremo direito da cidadania que é a liberdade de expressão, mesmo que continue a ter razão antes do tempo e que sofra alguns incómodos de vingativos salazarentos reciclados pela mentira. Neste sentido, julgo que seria uma ilusão tirar-se um bode expiatório da cena, mantendo os bastidores que o sustentam e os autores do guião de que ele é mero executante. Não vale a pena tratar as moscas com insecticida se permanecer, no ambiente, a fonte poluidora de que elas se alimentam.