Manuela não é uma montanha, nem Rangel parece assumir-se como um qualquer ratinho, emitido pelas dores do parto, mas, de qualquer maneira, acabou por ser o normal-anormal de uma surpresa, dado que a primeira das mais valias criadas pelo novo ciclo do partido laranja foi imediatamente desviada para um intenso combate político. Dizer que ele é um jovem, apenas pode partir daqueles que reservam a política para envelhecidas criaturas como as que escrevem estas linhas. Porque não podemos esquecer que o actual líder parlamentar do PSD, da geração 1968, está no momento ideal para fazer a síntese entre a criatividade e a maturidade. Aliás tem a grande qualidade de ter chumbado no primeiro exame que lhe foi feito por Constança Cunha e Sá, acusando-o de “não conhecer o país”.
Por mim, apenas recordo o vaticínio que, um dia, ouvi do jornalista Carlos Magno, apontando-o como uma das promessas do Porto, ao melhor estilo de certa sementeira de ideias lançada por Francisco Lucas Pires. Da respectiva conduta parlamentar, apenas o tenho confirmado. É bom que os melhores de nós todos não desistam. Até porque a circunstância vai obrigar outro valor, de uma geração mais velha, a dos meus jovens professores, como a que é representada por Vital Moreira, a não seguir os conselho “emerrepianos” da excelente embaixadora que foi Ana Gomes, mas que, agora, parece ter transformado o blogue “Causa Nossa” num espaço de apreciação estética de senhoras mais velhas, só porque a autora não quer ver-se ao espelho. Tenho a certeza que Vital e Rangel vão elevar o nível da luta política, porque estão um para o outro, em termos de qualidade pessoal e vão confirmar a dominação interna das duas principais multinacionais partidárias europeias.
De qualquer maneira, não fiquei entusiasmado, porque as escolhas revelam o recurso da partidocracia à prata da casa. Entre a senhora do PCP e Edite Estrela, ou entre Nuno Melo e Miguel Portas, tudo como dantes, isto é, a mesma palha de Abrantes que não vai conseguir polir a ferrugem que marca as canalizações representativas da presente democracia. Mesmo entre a democracia dos cartazes, a nova força política do MEP recorre à antiga jornalista de “O Independente” Laurinda Alves, todos reciclando peças que usavam para outros fins. Por outras palavras, as europeias, ao serem meras primárias das duas outras eleições que se lhes seguem, não passam do nível secundário das escolhas, dado que o principal vencedor, nesta fase da luta já foi encontrado: chama-se José Manuel Durão Barroso.
Com efeito, este mau líder do PSD e este péssimo primeiro-ministro de Portugal inverteu o princípio de Peter e transformou-se no único político português das nossas gerações que atingiu o grande palco internacional, onde as virtudes próprias do homem souberam aproveitar as circunstâncias. O excelente universitário, formado no Campo Grande e Genebra, pioneiro no tratamento português de matérias politológicas e dos campos da teoria da decisão em política externa, conseguiu inscrever um nome com til na galeria dos europeístas históricos, dado que, até ele, apenas tínhamos algumas notas-pé-de-página de alguns caixeiros viajantes, à excepção da intervenção do nosso embaixador António Ferro nos encontros internacionais de Genebra. Daí que a decisão de Sócrates sobre os interesses nacionais na recondução de Barroso, depois dos apoios que lhe foram dados por Gordon Brown e Zapatero, seja uma exigência da própria ditadura dos factos.