Set 14

Breves heresias de política internacional, ao correr da tecla

Enquanto os cristãos diabolizam os gregos, o Norte de África assiste ao regresso dos otomanos, com Erdogan a visitar triunfalmente o Cairo. Estes regressos da história, nomeadamente do predomínio dos impérios centrais, derrotados na Grande Guerra, apenas deveriam obrigar a Europa a compreender a falta que lhe faz a necessária alma atlântica.  A Turquia é um dos nossos aliados tradicionais a nível da NATO, já lá vão umas décadas. Talvez apenas esteja a arranjar bons argumentos para pressionar a adesão à União Europeia. A Europa continua balança, apenas lhe falta fiel.  Não sou optimista nem pessimista, prefiro ser realista e reler o Lawrence da Arábia. O seu rei aliado acabou no trono… do Iraque. E essa do “baasismo” deu a efémera República Árabe Unida, a subida de Saddam ao poder, e daqueles que ainda estão a mandar em Damasco… Convém ler os sinais dos tempos… O Mediterrâneo já é multipolar…  A CDU é católica e protestante e o papa é bávaro… Ora, ter um papa germânico em Roma diante das primaveras árabes talvez seja tão importante quanto ter havido um papa polaco. A Baviera é tão mista quanto era Cracóvia. Entendem essa coisa do cinturão das populações mistas e do sincretismo que pode trazer futuro, preparando o diálogo. Por acaso, sou dos que têm esperança que isto vai resolver-se sem o habitual desespero das guerras. Ou, pelo menos, contendo-as.  A vantagem do protestante é haver muitos protestantes, tal como no mundo católico, haver hereges…  Além disso, ainda há jesuítas que querem pôr Confúcio no altar… Os turcos  nem sequer são árabes… E têm uma certa identidade com muitas ex-repúblicas que foram o Sul da URSS. Isto é, são a mesma coisa…  Julgo que foi o otomano que acolheu muitos dos judeus expulsos aqui da Ibéria…Um deles ainda foi chefe do governo do sultão já na era contemporânea…  Nunca me senti tão europeu quanto ao ver cair a neve em Santa Sofia, nem tão português quanto na sinagoga de Amsterdão…sobretudo, a meditar no erro de certas guerras, sobretudo das civis. Principalmente das guerras civis europeias do século XX, da chamada Grande Guerra à II GM. E eu até sou do povo do Vasco da Gama, do D. Francisco de Almeida e do Afonso de Albuquerque. Os tais que foram para a Índia combater o turco pelas traseiras. Só que, depois, fomos além do Ceilão, passámos Malaca, e circum-navegámos em armilar.


Set 14

Passos contra Seguro

No estádio nacional de São Bento, em mais uma eliminatória da liga de honra, os dois grandes jogaram ao ataque e sem muitas rasteiras. A oposição melhorou, mas o governamentalismo não desiludiu. Não foram para desempate com grandes penalidades, mas as fintas da retórica foram abundantes.

 

Os discursos de Barroso, Passos e Seguro foram notáveis. Desde 1976 que PS e PSD têm tido a maioria dos nossos aparelhos de poder. Desde sempre fizeram discursos notáveis. Lançam o foguetório e logo correm a apanhar as canas. Continuam a monopolizar o vivório…

Set 14

PASSOS COELHO vs. PORTAS (Correio da Manhã)

 

PASSOS COELHO vs. PORTAS

 

Ambos são dois parceiros da mesma multinacional partidária da Europa e subscritores do sistema de resgate do protectorado dos credores, mas ambos tentaram apresentar fingir um “mix” feito de metáforas onde entram coxos e muletas. O jogo teve duas partes: na primeira, Portas manobrou e teve bom domínio de argumentos, mas, na parte final e no prolongamento, deslumbrado pela retórica, acabou por assumir, como propostas suas, reformas que, constitucionalmente, só podem ser asumidas, pelo menos, com o acordo entre os três partidos do arco da “troika”. Mas ambos demonstraram que apenas são uma das faces da moeda do situacionismo

 

 

PASSOS COELHO

 

POSITIVO

 

Soube demonstrar o irrealismo das propostas de Portas, sem o acusar de clientelismo ou de caciquismo

 

NEGATIVO

Deixou enredar-se num moderação defensiva que quase nos fez parecer que tinha comandado o gobernó nos últimos seis anos

 

 

PAULO PORTAS

 

POSITIVO

Conseguiu aproveitar os argumentos antipassistas vindos do PS e atacar o PSD à esquerda, ao centro e à direita

 

 

NEGATIVO

Não foi capaz de olhar de frente para o adversário quando teve conciencia de ter ultrapassado os limites da prudência

 

In Correio da Manhã

Set 14

Farpas

Rebaixando os fins da política podemos transformar um povo numa multidão de instintos e estupidificar a racionalidade, quando a entalamos nos prós e contras de fantasmas de direita e de preconceitos de esquerda

Se a maioria do eleitorado se capacitasse da revolta individual, isto é, que não pertence ao dito povo de esquerda nem àquela direita que não tem a coragem de esquerda de dizer que é de direita, poderia haver mesmo mudança pelo poder de sufrágio, como aqueles golpes de estado sem efusão de sangue que fazem a beleza da democracia…

Com o púlpito do trono assente em sermões de província, há quem responda com um altar feito de porco no espeto. Ou de como se invoca cardeal para eclesiástica censura a um qualquer abade lá da raia. Prefiro citar o discurso do papa a homenagear noventa e nove anos de lei da separação e setenta de concordata, revista e anotada.

Vou ouvindo na TSF debate do DN sobre o estado a que chegou o Estado. Ninguém diz que há estados dentro do velho Estado e Estados além do estado a que chegámos. O leilão da dívida foi exemplar: passou, quase ao mesmo tempo, por Roma, Madrid e Lisboa, com Pequim a meter a farpa…

Infelizmente, as nossas elites, as que misturam os manuais de OPAN do salazarismo com resquícios das vulgatas marxistóides e maoístas, tanto desconhecem o liberalismo à antiga como as receitas federalistas que fizeram coisas como a Suíça ou os Estados Unidos. Não sou suficientemente loucas para construir a grandeza.

O Estado desta parvónia são pés inchados e muitas arrastadeiras. Ele deixou de ser o cérebro social. Logo, como não se pensa, continua à espera do falso desembarque dos amigos de Peniche, pedindo votos em nome das lentilhas que os que compram e vendem poder deixam escorregar para os que entram no jogo suicida que nos adia…

Todos citam Paul Krugman, ora a torto, ora a direito, conforme as conveniências da propaganda. Ainda não vi nenhum compreendê-lo no essencial. Isto é, no próprio título do blogue que emite no NYTimes, “a consciência de um liberal“.

O país em parangonas: Estado comprou dívida ao Estado. Custo extra com a dívida vai consumir poupança com corte dos salários. Sócrates acusa Cavaco de “não estar à altura” dos interesses de Portugal. China confirma ter emprestado muito dinheiro a Portugal e elogia o país. Apoio custará mais do que juros, dizem peritos: mais África e apoios fiscais. Venha a mim o vosso voto. Amen…

Em Castelo Branco, houve porco no espeto para o comício. Cavaco, em Trás-os-Montes, diz que foi à missa e cita o sermão do senhor prior. Defensor dança bem a coladeira. Nobre comovido com o abraço de um alentejano de 87 anos. Lopes sopra no vidro na Marinha Grande. Mais não digo.

Vou ouvindo na TSF debate do DN sobre o estado a que chegou o Estado. Ninguém diz que há estados dentro do velho Estado e Estados além do estado a que chegámos. O leilão da dívida foi exemplar: passou, quase ao mesmo tempo, por Roma, Madrid e Lisboa, com Pequim a meter a farpa..

Como dizia Daniel Bell, o Estado (o de Salazar, Cavaco e Sócrates) é, ao mesmo tempo, grande demais para os pequenos problemas da proximidade e pequeno demais para os grandes problemas do nosso tempo. A solução passa pelo aparente paradoxo da descentralização e da concentração estratégica. Para evitarmos as vulnerabilidades e flexibilizarmos as potencialidades.

Infelizmente, as nossas elites, as que misturam os manuais de OPAN do salazarismo com resquícios das vulgatas marxistóides e maoístas, tanto desconhecem o liberalismo à antiga como as receitas federalistas que fizeram coisas como a Suíça ou os Estados Unidos. Não sou suficientemente loucas para construir a grandeza.

O Estado desta parvónia são pés inchados e muitas arrastadeiras. Ele deixou de ser o cérebro social. Logo, como não se pensa, continua à espera do falso desembarque dos amigos de Peniche, pedindo votos em nome das lentilhas que os que compram e vendem poder deixam escorregar para os que entram no jogo suicida que nos adia…

Há os mercados primatas e os ditos secundários. E resta sempre saber de onde veio a procura. Eu cá também não sei. Prefiro a do tempo perdido…mas à maneira do Proust que também não sabia nada de finanças…

A economia, ciência da casa (oikos) pertence ao espaço do doméstico. A política apenas acontece quando se sai do dono e se discute a palavra na praça pública. Mas tudo começa na moral, na ciência dos actos do homem enquanto indivíduo.

E a teologia, desde que não seja ciência arquitectónica, ou rainha das ciências sociais, é indispensável para a compreensão da “polis”, que só emergiu quando as várias aldeias se federaram em torno da acrópole, a colina onde existia o templo (p. e. a sé, que laicizámos como nação, ou pátria) e a sala do concelho (o aparelho de poder, a que damos o nome de Estado). Está tudo no tratado do Aristóteles, revisto e acrescentado por São Tomás e, mais recentemente, por Hannah Arendt…

Noto que a procura foi superior à oferta para os de Espanha e de Itália, hoje. Os juros são mais do que foram e menos do que são. Hoje foi além da Estrela e dos Alpes, nos ultramontanos, ontem, no daquém, cá na Parvónia. Krugman já fala em Pirro. Logo, não mais o vão citar, certos campanheiros. Apenas um conselho aos nossos propagandistas do situacionismo: sejam cidadãos do mundo e não gozem mais com a tia!

Krugman alerta, Teixeira exulta. Afinal Nossa Senhora Aparecida ainda não foi desta. Bastou injecção do BCE e olhos em bico abrindo a caixa registadora da loja dos trezentos. E um quarto de hora antes da coisa, lá podemos saltar barreiras no tejadilho da carripana. O bafo quente do jardim faz crescer anonas e saltar coelhos que não andam a passos…

Só ganharemos todos, quando o todo nos puder mobilizar, em cada um, pela autonomia moral, em que deve assentar a própria procura da riqueza.

Capitalismos, há muitos! O estadualizado, nosso, banco-burocrático, não pode continuar a ser o unicitário. Prefiro a fisiocracia do “laissez faire”, segundo a lei natural e a própria lei divina. Logo, sou mais girondino do que jacobino, mais liberal do que socialista, mais “whig” do que “tory”. Em linguagem da Parvónia, é o político longe da sacristia e da cavalariça…onde a primeira não é religião e a segunda não é a tropa…

Quando nos deixamos violentar pelo estadão, corremos o risco de não ficar apenas um pedacinho grávidos, neste ambiente hermafrodita, de muitas barrigas de aluguer. A metáfora-base não é minha, é do pai do “Wirtschaftswunder”, um tal Ludwig Erhard…

Há muitos intelectuários que se prestam a servir de flores da botoeira de certa pirataria.Tal como muitos partidocratas que procuram emprego como feitores de ricos. Sou pela separação de poderes e contra a compra da política pela dita economia, com muita indignificação do trabalho, dependente ou independente.

Até o velho Marshall denunciava os chapéus de coco com alma de corsário. Logo, um liberal pode espreitar como no jogo da bolsa de hoje, muita banca, que o não devia ser, logo recuperou, à custa dos impostados de hoje e de amanhã…

 

 

11

Daqui a cem anos, quando candidato da presidencial situação for nota pé-de-página da história e quando o candidato oposicionista, mas da governamental situação, continuar a ser cantado, todos poderão concluir como andamos mesmo desafinados, só porque pusemos tocadores de rabecão a fazer de sapateiros, pondo os pés em lugar da cabeça..