O país da gleba hipotecária, fabricada para uso da banca e dos patos bravos, financiamento partidocrático e oleosidade da futebolítica, com música celestial de políticos, politólogos e pulhíticos, não vai hoje a fátima nem ao fado, mas ao confronto do Pinto da Costa com o Luís Filipe Vieira, com multinacionais da bola vestidos com a ilusão de camisolas dos dragões e dos águias, antes de preencher o formulário do IRS da troika. Golo!
É preciso que o país da realidade, o país dos casais, das aldeias, das vilas, das cidades, das províncias, acabe com o país nominal, inventado nas secretarias, nos quartéis, nos clubes, nos jornais, e constituído pelas diversas camadas do funcionalismo que quer e há-de ser (Alexandre Herculano, na Carta aos Eleitores do Concelho de Sintra, de 1858)
Se os nossos seleccionadores de elites, os dirigentes dos principais partidos, fossem publicamente escrutinados, como os da futebolítica, já teriam direito a adequadas chicotadas psicológicas. Basta lembrar-nos das cenas que precedem a engenharia das listas eleitorais, ou das manobras de sociedade de corte que envolvem os congressos partidários para as escolhas dos comissionados. Ainda se lembram das cenas que envolveram o presente hemiciclo de São Bento? Aquele onde Basílio Horta+Fernando Nobre=0…entre o modelo Catroga e o desembarque da troika..
Se eu fosse um velho republicano, queria uma espécie de Confederação Helvética, até para a tropa. Como eu sou português, quero o que, de melhor, me trouxe Abril: autarquias locais reforçadas e responsabilizadas e extensão das autonomias regionais políticas ao Continente. Quero um Portugal federalista no plano interno.
O programa da regeneração resume-se a uma frase de Alexandre Herculano: para que o País possa ser administrado pelo País. Acrescento eu: e para que o Povo não continue a ser governado da partidocracia, para a partidocracia e pela partidocracia. Temos de impedir a emergência de uma democracia sem povo, com uma eventual democratura, mesmo que seja em nome da Santa Aliança da troika.
Não fui apenas eu o autor do texto dos dois últimos postais. Foi um velho militante do comunalismo do velho PPM e um activista do movimento Portugal Plural, quando se aliou ao velho federalismo republicano e socialista, em nome das autonomias que vêm dos povos contra o Estadão, através da urgente Patuleia dos resistentes intelectuais ao regresso do despotismo iluminado.
O ministro da província e os deputados da província, muitos com pronúncia do norte, são exactamente aqueles a quem os donos do poder encomendam as falsas reformas locais, típicas do capitaleirismo dominante. A única reforma que permitiria superar a retórica passa pela extinção do estadão, isto é, do conceito de centro da sociedade de corte, pela efectiva regionalização e pelo reforço das renovadas autonomias locais, através de forais contratualizados e de novas comunas sem carta, para que o Estado volte a ser um concelho em ponto grande.