Geração à Rasca
O sociólogo do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Elísio Estanque, está de acordo. “Para além das dificuldades, da precariedade e da falta de perspectivas, havia um desgaste muito grande do Governo Sócrates e uma crispação muito grande da sociedade por causa do desemprego”, descreve, recordando que o protesto evidenciou que “havia novas camadas, fora das estruturas partidárias e sindicais, que mostraram que estão presentes”.
“Isso contribuiu para a perda de legitimidade do Governo da altura”, observa o sociólogo. Contudo, com a queda do Governo e a entrada do actual, “o quadro mais geral de dificuldades aumentou”, e o Executivo, “muito seguidista das orientações austeras de Bruxelas”, como que adormeceu o povo. “Há uma mistura de passividade com paciência, não se vêem grandes convulsões nem agitação social, apesar de continuar a haver sinais de luta e paralisação”. Em suma, “há muitas dúvidas de que volte a existir outra iniciativa inorgânica deste tipo”.
Protestos europeus germinaram no Rossio
Contudo, a “manutenção da mesma forma de protesto falhou”, porque nenhuma das iniciativas que se lhe seguiram tomou a mesma forma. “Há ciclos, e este movimento social está à espera de novos movimentos políticos”. Até agora, os partidos políticos “não aproveitaram” o balanço do 12 de Março, sintetiza.
Apesar disso, os epítetos do 12 de Março são fortes. “A coisa importante da manifestação é que superou o que era expectável. A autogestão não foi controlável. Nesse sentido, fica para a história. Talvez tenha sido das maiores manifestações dos últimos anos”, sublinha Adelino Maltez. Para Elísio Estanque, “foi um marco, que não vai sair do imaginário dos jovens”.
Aliás, o sociólogo vê na manifestação que atravessou Portugal a 12 de Março o brotar da indignação no resto da Europa. “O protesto teve algum efeito de contaminação para o resto da Europa. Algumas manifestações foram motivadas por causas muito particulares, mas sem dúvida que houve um efeito de estímulo e contágio para o resto da Europa”, advoga Elísio Estanque.