Mar 05

Pequenos czarismos cá do quintal

Passos escolheu ser reeleito na véspera de Putin regressar à reeleição. O modelo plebiscitário condicionador não é o mesmo, mas o condicionamento da complexidade e do pluralismo, em nome eficácia de uma liderança unificada revela a resignação e o conforto da não-cidadania, por razões de Estado e de micropoderes, face às circunstâncias dos súbditos terem de estar unidos. O tédio habitual que não rima com o entendimento da democracia como institucionalização de conflitos. Assim, o chefe pode escolher, de cima para baixo. E quem quiser safar-se é melhor estar junto e elogiar.

Todas as directas dos nossos partidos rimam com plebiscitarismo e caudilhismo acríticos. Foi com Portas e com Sócrates. Tende a ser com Passos. Pequenos czarismos cá do quintal.

Entre os caciques autárquicos, partidocráticos e universitários, toca a mesma música de afastamento dos dissidentes, não-louvaminheiros e de mau feitio. Algumas vezes até canta a banda da conspiração de avós e netos, com viúvas histéricas na caça às bruxas e o habitual sindicato das citações mútuas, não faltando os moscas, os formigas e os bufos, para que a revolução continue em imobilismo situacionista. Porque assim ainda podemos ser promovidos ou subsidiados.

Quando se é unânime numa opinião ou num hábito, poderemos deixar de ser país, grupo ou instituição. Corre-se o risco de gado. Unidimensional, unicitário, sem convergências nem divergências, logo, sem a possibilidade das emergências que nos fazem vivos e progressivos, pela complexidade crescente.

Putine e Europa. Esta, uma das mais belas construções políticas da humanidade, permitindo o sonho de uma união que vá da ilha do Corvo a Vladivostoque. Aquele, que seja fiel à Rússia de Soljenitsine, a de uma democracia e de uma sociedade aberta e pluralista, mesmo que as entorses da personalização do poder e da bandocracia ainda estraguem o sonho. Ajudar o partido russo do humanismo laico e do humanismo cristão a vencer os atavismos antidemocráticos e antipluralistas é o verdadeiro fim daquela construção europeia que pretenda eliminar os imperialismos internos que transformaram esta bela ideia civilizacional em muitos segmentos de prisões de povos… (de uma entrevista que concedi em 28 de Agosto de 2008).