Europa. Numa esquina do Chiado, às três da tarde. Um autocarro turístico desembarca uma chusma da terceira idade. Turistas italianos de digital na mão. Que fotografam ávidos um começo de manifestação da Inter. Outros autocarros turísticos descarregam pequenas chusmas de manifestantes, vindos algures, do interior. Há activistas e netos de activistas, com farnel ao tiracolo. E entre os manifestantes, à volta da estátua de Camões, um velho líder nosso, maoísta e com acento, mas engravatado, passeia sua solidariedade. É a Europa social, com nostalgia da revolução perdida. Mas tudo bem ordenado. Em ritual. Apenas falta um Giovannino Guareschi que os retrate, aposentados.
Não vi polícia nos arredores. O Pessoa estava de bronze, petrificado. Quase diante do António Ribeiro de Chiado. Alguns manifestantes estavam sentados nas escadas da igrejinha. E um deles até fazia a contabilidade, recebendo as quotas. Tudo como deve-ser. Isto é, tudo sem ser. Basta o parecer. Do marcar do ponto. Até na revolução.
O vermelho cheira ao glorioso, o do Sport Lisboa e Saudade. Com águias amestradas, antes do jogo.
Uma só fagulha pode incendiar a pradaria. Uns dizem que é de Mao. Outros são mais restritos e falam em Pushkin. Eu sou mais pela tese de Prometeu, quando roubou o fogo a Zeus e permitiu a invenção do cozido contra o cru. Do cozido à portuguesa. E reconheço que já não há dessas fagulhas. Nem para o fogo posto. Só se for um curto-circuito que provoque um apagão. Nem que seja uma cegonha num fio de alta-tensão, como aconteceu antes de haver chineses como accionistas da REN e da EDP.