Set 03

Depoimento à Visão

Segundo as declarações que prestei à revista Visão, publicadas hoje,  o Chefe de Estado quer revisitar «o cavaquismo em versão presidencial, reabilitando a teoria do homem comum de sucesso e do tecnocrata com desprezo pelos políticos». Acrescentei que, com tal fórmula, Cavaco não consegue ser «suprapartidário». É, alegoriza, «um árbitro que não resiste a dar uns pontapés na bola».

Até porque que José Sócrates «foi incrivelmente ingénuo, ao pensar que o bom relacionamento com o Presidente estava para durar e não previu o tacticismo de Cavaco que, mais cedo ou mais tarde, lhe iria tirar o tapete». Com Mário Soares na chefia de Governo, «isto jamais teria acontecido». E também achei que Cavaco «corre o risco de ficar para a História como o PR que ressuscitou o conflito entre a política e a religião», embora verifique que certas decisões do Presidente têm recebido alguns surpreendentes apoios «Até o PCP já o aplaudiu».

Finalmente, advogo ser desnecessária qualquer mexida no regime semipresidencialista, mesmo num cenário de governabilidade precária saído das próximas legislativas. «Se isso acontecer, os dois maiores partidos vão ter de arranjar energia para expulsarem Ferreira Leite e Sócrates das lideranças. Há uma criatividade na democracia que a partidocracia do eucalipto ainda não secou.»

Set 03

Os donos do poder

Os Donos do Poder

 

por José Adelino Maltez

 

Mesmo quem não seja um fã de M. M. Guedes e da restrita companhia da tribo “independente” que Moniz elevou a grandes educadores do nosso proletariado intelectual não deve hesitar: a liberdade exige plenitude de acção a propagandistas da situação e da oposição! Quando a entidade capitalista se desculpa com ordens vindas da patroa espanhola, mais se lamentam as anteriores palavras usadas pos Sócrates sobre a “campanha negra”, não sendo possível justificar o corte de pio com casos anteriores, como a cena dos santanistas com Marcelo Rebelo de Sousa. Não há evidentemente censura, mas liberdade do mercado, neste socialismo a retalho, que é interventor nos dias pares e licencioso nos dias ímpares, conforme os heterónimos convenientes dos donos do poder. Mas Sócrates, a partir de agora, deixa de ter debates, passa a ser o bombo da festa, a não ser que tenha a hipocrisia de mandar um porta-voz defender a liberdade de expressão da M. M. Guedes, para se assumir como bode expiatório. Julgo que alguns, mais papistas do que o papão, continuam a fazer golos na própria baliza, pensando que ter o poder é ter a palavra. Talvez acabem por comunicar ao país que a peça sobre o Freeport será emitida pelos tempos de antena do PS. De outra maneira, darão razão a todos os que acham que esse elemento é o calcanhar de Aquiles do ministerialismo. Por mim, gostava mais  que não “desviassem a atenção” da política, nesta campanha eleitoral!