Ontem aprendi, com Berlusconi, que tenho de apertar dois dos três botões do casaco para parecer mais elegante, conforme a única piada que recebi do senhor engenheiro, durante a sua visita ao planeta dos Gatos/Jay Leno. Por outras palavras, repetiu-se em Portugal um estilo que é normal noutras campanhas, nomeadamente na última presidencial norte-americana, onde os candidatos são obrigados a pagar o imposto de riso. Mas Sócrates continuou a resistir na sua faceta de picareta falante, dado que continua a fingir que é verdade o discurso que ele próprio finge, como já o tinha feito na entrevista sobre a intimidade levada a bom porto pela Raquel Alexandra. Claro que nunca me consegui rir com o líder do PS e que foi patente que a metalinguagem dos Gatos poucas ou nenhumas coincidências teve com o ritual socrático, que, sabendo que o Araújo Pereira tinha sido do PCP, decidiu passar ao ataque e chamar-lhe estalinista, embora também lhe pudesse chamar benfiquista ou outra qualquer adjectivação.
Seguir-se-á a outra senhora, outra piada de mau gosto, emitida ontem pelo João Soares, porque a dita, se ouvir o mano Dias Ferreira, o do Sporting, em vez de alguns técnicos de “marketing”, poderá surpreender-nos com algumas quebras de tabus, porque, ao contrário do que vociferam alguns maneleiros que a andam a destruir, a dita senhora gosta mesmo de rir e é de uma honestidade tal que não me importava de lhe entregar a minha carteira, embora politicamente nunca me leve, dado que tem fingido dolosamente que é um Salazar de saias, quando a vida dela, desde estudante, é o exacto contrário desse fantasma. Esperemos que, nos Gatos, se liberte dessa campanha negra em que os pretensos apoiantes a enredaram e que ela, por oportunismo político, deixou correr, cultivando o mistério da gestão dos silêncios, o que, para mim, é tão criticável quanto o ser efectivamente da outra senhora.
Não acreditem que ela costuma usar carros do Estado, porque tem um culto exacerbado da separação do público e do privado e mesmo os colaboradores próximos sabem perfeitamente que tem um alto sentido moral. Aliás, segundo estou informado, não me parece que Sócrates esteja muito distante desse mesmo padrão. O mal não está neles, mas no bando de náufragos que os circulam e no tipo de mensagem que os dois estão a veicular para a obtenção do voto útil. E bem pode acontecer que os dois estejam a subir os degraus de uma guilhotina política, onde acabem por tropeçar no último degrau, para usar a anedota de mau gosto que Sócrates contou a Raquel Alexandra.
Se Sócrates permitir que o Bloco de Esquerda atinja os dois dígitos, sem ser à custa do PCP, e se Ferreira Leite fizer aproximar Paulo Portas desse patamar, ambos erraram. Claro que o PS não vai expulsar Sócrates. Muito provavelmente, Almeida Santos vai ceder o seu lugar de presidente ao actual secretário-geral e este cargo poderá ter uma espécie de solução colegial, onde António Costa e António José Seguro terão lugar certo, com o total apoio do socráticos e dos alegristas. Já o PSD pode reconhecer o erro de ter-se reduzido ao espaço de um cavaquismo sem Cavaco, porque o governo, de acordo com esses resultados eleitorais, nem terá que ser de ampla coligação interpartidária, bastando uma simples maioria de esquerda, interpretada exclusivamente pelo PS, mas com variados acordos de apoio parlamentar com o PCP e o BE, onde até nenhum destes partidos tem que abandonar as respectivas reivindicações, criando cláusulas de salvaguarda em zonas de lina ideológica básica: Até porque em matérias de integração europeia, por exemplo, o PSD e o CDS estão condenados a seguir o programa comum do PPE, nomeadamente em matéria orçamental. Não são província de Espanha, mas secções nacionais de uma multinacional partidária supranacional.
Por razões exclusivamente políticas, e não de falta simpatia pessoal, é que reconheço os permanecentes erros de campanha e de estratégia do PSD. Mas como já me enganei em duas campanhas, onde fui responsável contra Cavaco, na década de oitenta do século XX, tenho o cuidado de não dizer que esta intuição está de acordo com a realidade do povo que temos, aqui e agora. Pode ser que os cavaquistas ainda continuem a conhecê-lo melhor nas suas pulsões e nos seus ideais conjunturais. Apenas continuo a dizer que, se assim for, a nossa crise ainda será maior do que a ausência de uma maioria absoluta. Porque perdemos a fibra multissecular e nos deixámos enredar nas teorias do homem de sucesso do “Leviathan”. Não! Não vou por aí!
PS:Nos gatos norte-americanos, o MCain saiu-se bem, mas já estava tudo obamizado!