Viagem à Roda da Parvónia, levada à cena em 1879
Por Guerra Junqueiro e Guilherme de Azevedo
“A minha questão é esta: pretendo fundar um banco que se deve intitular: – Sociedade de Agricultura do Pinhal da Azambuja, – destinado a fomentar a pobreza do país, a ruína dos accionistas e a prosperidade dos directores. O nosso programa é simples: levantar o mais que puder e pagar o menos que for possível: ao cabo de ano e meio fugimos e os accionistas são metidos na cadeia.” (Viagem à Roda da Parvónia)
”A intenção do autor da Viagem à Roda da Parvónia, enviando a repousar no remanso do Tribunal de Contas, um personagem tão francamente classificado no reino animal, não foi lançar um vitupério sobre aquela digna repartição, que não merecia decerto mais do que outras um tão lancinante epigrama.” (id.)
”No Tribunal de Contas jazem conselheiros, senhores oficiais de repartição e amanuenses, de juízo atilado e porte digno, mas como por outro lado aquela serena mansão é a aspiração comum de todos os políticos da Parvónia, sábios e ignorantes, de orelhas mínimas e de orelhas grandes, parece concluir-se daí que entre um burro e tão digno tribunal não há incompatibilidade de maior importância.”(id.)
“Dizei-me, senhores; o que era o deficit hontem ás 5 da manhã? Nada senhores! uma cousa ridicula, uma divida de ninharia que nos envergonhava – em face da Europa culta e de todas, as naç-òes do globo que caminham na vanguarda da bancarrota e do descrédito…
“… O deficit, senhores, vergonha é confessal-o, ainda hontem era apenas de, 720 réis, e era tão pouco tempo, graças á energia da situação que nos governa, eil-o transformado de 720 réis em 720 contos ! ”
”Sendo impossível a vida moderna sem o credito, e apparecendo o deficit em virtude das perturbações revolucionarias, internacionaes e agrícolas, não só, um partido não pode matal-o mas até o outro tem de o augmentar…
… Isto é elementar, consequente e tem a sua compensação no augmento das fontes de receita, equilibrando-se o deve e ha de haver, provando-se o aforismo económico — uma nação é tanto mais prospera quanto mais deve.”
”Na Parvónia, porem, não ha partidos que se digam conservadores; são todos progressistas, de sorte que a progressão do desenvolvimento politico-social é continua. Mas, como, pela ignorância dos nossos grandes homens e pelas circumstancias internacionaes, não se desenvolvem as industrias próprias, o crescimento progressivo dá-se unicamente na divida publica.”
… O único remédio possível seria pois chamar para a pasta da fazenda quem não tivesse a mais pequena noção de calculo. Simplício tem rasão.”