Bonus Paterfamilas (DN)

O BONUS PATERFAMILIAS (no DN de hoje)
No passado dia 14, o nosso Presidente emitiu a seguinte mensagem no Facebook: “São muitos os funcionários ou agentes do Estado que se têm dirigido à Presidência da República, expondo as suas incompreensões e incertezas. Apesar de todas as dificuldades, em relação a algumas das quais já tive ocasião de me expressar publicamente, estou certo de que todos têm plena consciência da importância das suas funções de serviço público, que devem ser dignificadas e prestigiadas.” Seis dias depois, numa intervenção pública, decidiu encabeçar a revolta social do bom povo português.
Tudo visto e ponderado, incluindo a lamentação que, na campanha eleitoral fez há cerca de um ano, sobre os 800 euros por mês da pensão da nossa primeira-dama, não posso alinhar com os críticos que imediatamente o satirizaram de forma elitista. O Presidente é previsível demais para cometer erros de comunicação. Apenas exprimiu a sede de justiça do homem comum, tanto contra as chamadas reformas douradas de certos gerontes, como contra a campanha de desinstitucionalização que alguns têm feito contra os funcionários públicos, os empregados da banca, os professores e os investigadores científicos.
Também reconheceu que a soma de 1300 mais 800 euros não dá para um casal da classe remediada pagar as respectivas despesas, apesar de tanto ter poupado e investido. E assim se patenteou, de forma tão descamisadamente superior, o erro troikista, subscrito pelo PS, PSD e CDS.
Não acredito que o Presidente tenha padecido de hipocrisia, dado que, sendo sua suprema especialidade a ligação directa ao eleitorado, apenas quis encabeçar aquilo que vai ser a vaga de fundo de uma geometria social que a aritmética da partidocracia e do poder bancoburocrático parecem não querer compreender. O detentor do Palácio de Belém sabe, sem poder absoluto, mas com ciência certa, que um seu antecessor, em 1917, assistiu, a partir de Maio a uma mistura de revoltas da fome e de aparições do transcendente, até à sua terráquea deposição em Dezembro, depois de um sangrento golpe de Estado. Em 2012 não haverá guerra, fome e peste mas a injustiça continua para o “bonus paterfamilias”.

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