Mar 06

Mais reformas

Andam muito agitados os meus colegas, com o novo nome para a fusão da UL e da UTL. Uns não querem o primeiro nome, mesmo com o reitor do segundo, ou vice-versa. E discutem o sexo dos anjos. Sendo assim, tenho uma proposta que me foi segredada pela teoria da prioridade do Studium Generale de Marcello Caetano e pelo sonho de Agostinho da Silva: chamemos à coisa Universidade D. Dinis, o plantador de naus a haver. Porque a universidade em Lisboa foi a verdadeira Escola de Sagres, até por causa do Infante D. Henrique, seu patrono. Claro que ninguém vai ligar à proposta. Mas faço-a. Mesmo que Coimbra se irrite com o acto fundacional.

A UL é criada e baptizada na I República. A UTL, como nome dado pela Ditadura, copiando Berlim e acompanhando a turca, vem, sobretudo, da monarquia liberdade, com destaque para Fontes Pereira de Melo, embora a primeira escola, a Veterinária, ser marca do miguelismo. Mas a Universidade vem de trás. De D. Dinis, o poeta, o que levou o português a língua de documentos oficiais e teve forma recriadora do Infante D. Henrique. Mais de sete séculos…

O que eu estou a querer dizer é tentar ultrapassar a bizantinice que já marcou outras fusões na Europa… E como quando se der a fusão de universidades de cidade diferente isso vai ser mais dramático, nada como ultrapassar sem localismos a questão. Veja-se, por exemplo, juntar Coimbra e Aveiro, ou Évora e a Nova de Lisboa, a que já está na Caparica? Estou a adiantar deslocalizações geografistas…

Coimbra e Aveiro podem chamar-se Marquês de Pombal…

Évora e Nova, Damião de Góis…

Porto e Braga, podem ser Infante D. Henrique, desde que a Portucalense autorize.

Continuando a provocação. Juntando o ISCTE à Beira Interior, ao Algarve e aos Açores, estou sem nome. Mas pode ser Fernão Magalhães.

Fica de fora a concordatária, é universal. Mas sempre sugiro um nome: Universidade de Todos os Santos, desde que funcione o republicaníssimo beneplácito régio.

Claro que sou um fusionista confesso. Há muitos anos. Formei-me em Coimbra, aprendi a ser docente na Clássica e sou da Técnica. Por acaso até juntei a docência como catedrático nas duas numa acumulação de repartição funcional, com matérias da especialidade da Técnica dadas na Clássica. Editei-as na Técnica, as que podia. As outras tiveram que ir para a Principia…de um amigo da Concordatária.

Há nomes que fazem as coisas. Até na Bíblia, como o “faça-se”.

Isto é, quando os nomes correspondem às coisas nomeadas…

Quando eles correspondem a uma ideia de obra que gera manifestações de comunhão. E não pelos estatutos do decretino. Basta passar os olhos por anunciadas reformas francesas e britânicas, em matérias de fusão universitária.

 

Mar 06

Álvaro

Ao Jornal de Negócios reconheço que temos “assistido a sucessivas ‘desministerializações’ na pasta da Economia, o que torna inevitável uma renovação”. Ela só sucederá “quando Passos Coelho sentir que chegou o momento certo: quando houver uma ofensiva real da oposição”, prevê, criticando o ‘super-ministério’ porque “foi feito sem haver coordenação económica, e sob o perigo de haver um ministro da Economia fraco face a um ministro das Finanças forte”.

À Antena Um acrescento: há muitos ministério que não passam de uma confederação de secretários de Estado e o governo corre o risco de tornar-se mera confederação de ministérios, por falta de uma ideia de obra, dado que se está a fazer uma reforma com cacos velhos, isto é, com os modelos socráticos das chamadas leis orgânicas e com a tradicional criação de segmentos de Estado paralelo, desde altos comissários a grupos de trabalho, com rápidas nomeações para as tradicionais coutadas do pessoal político para os gabinetes.

Mar 05

Pequenos czarismos cá do quintal

Passos escolheu ser reeleito na véspera de Putin regressar à reeleição. O modelo plebiscitário condicionador não é o mesmo, mas o condicionamento da complexidade e do pluralismo, em nome eficácia de uma liderança unificada revela a resignação e o conforto da não-cidadania, por razões de Estado e de micropoderes, face às circunstâncias dos súbditos terem de estar unidos. O tédio habitual que não rima com o entendimento da democracia como institucionalização de conflitos. Assim, o chefe pode escolher, de cima para baixo. E quem quiser safar-se é melhor estar junto e elogiar.

Todas as directas dos nossos partidos rimam com plebiscitarismo e caudilhismo acríticos. Foi com Portas e com Sócrates. Tende a ser com Passos. Pequenos czarismos cá do quintal.

Entre os caciques autárquicos, partidocráticos e universitários, toca a mesma música de afastamento dos dissidentes, não-louvaminheiros e de mau feitio. Algumas vezes até canta a banda da conspiração de avós e netos, com viúvas histéricas na caça às bruxas e o habitual sindicato das citações mútuas, não faltando os moscas, os formigas e os bufos, para que a revolução continue em imobilismo situacionista. Porque assim ainda podemos ser promovidos ou subsidiados.

Quando se é unânime numa opinião ou num hábito, poderemos deixar de ser país, grupo ou instituição. Corre-se o risco de gado. Unidimensional, unicitário, sem convergências nem divergências, logo, sem a possibilidade das emergências que nos fazem vivos e progressivos, pela complexidade crescente.

Putine e Europa. Esta, uma das mais belas construções políticas da humanidade, permitindo o sonho de uma união que vá da ilha do Corvo a Vladivostoque. Aquele, que seja fiel à Rússia de Soljenitsine, a de uma democracia e de uma sociedade aberta e pluralista, mesmo que as entorses da personalização do poder e da bandocracia ainda estraguem o sonho. Ajudar o partido russo do humanismo laico e do humanismo cristão a vencer os atavismos antidemocráticos e antipluralistas é o verdadeiro fim daquela construção europeia que pretenda eliminar os imperialismos internos que transformaram esta bela ideia civilizacional em muitos segmentos de prisões de povos… (de uma entrevista que concedi em 28 de Agosto de 2008).

Mar 03

Vivi intensamente a entrevista de Gonçalo Ribeiro Teles ao António José Teixeira

Passos vai ser reeleito presidente do PSD. Candidato único. Em directas, cada vez mais plebiscitárias dos situacionismos. Agora, no PSD. Como, antes, no PS de Sócrates e no CDS de Portas. Daí que tenha mais tempo de antena uma qualquer vaia de uma dessas visitas a feiras ou à provincia.

Há seis milhões de portugueses em depressão. Por causa de um remate de Hulk e de um erro de arbitragem. Eu sou um deles. Com toda a tristeza de ser lampião.

Vivi intensamente a entrevista de Gonçalo Ribeiro Teles ao António José Teixeira. Uma questão de muitas comunidades de pertenças, de emoções e de razões, desde a minha adolescência. Sempre com a pátria em âncora. Isto é, esperança.

É fundamental ter mestres. Que estão sempre mais novos do que os discípulos mais cronologicamente novos.

Foi um dos primeiros paradigmas de oposição às ditaduras. Desde antes de 1974. Juntamente com o saudoso Henrique Barrilaro Ruas.

Mesmo sem pedir licença a alguns bobos da Corte.

Ainda há cerca de um mês, vivi uma daquelas aulas que ele costuma dar numa das velhas leitarias de Lisboa, em Santos. Explicava a vivência das freguesias urbanas. Coisa que o parlamento devia ouvir. Tal como a respectiva defesa da regionalização. Mais uma vez do contra os que, estando no poder, estão contra a nossa independência antiga, mas não antiquada.

O poder prefere Relvados unidimensionalmente artificiais…

Glosando Gonçalo Ribeiro Teles, temos de continuar a ser do contra para não cedermos aos situacionismos que continuamd a estar contra os nossos interesses permanentes de pátria. Porque importa exigir a harmonia dos jardins, contra o unidimensional dos Relvados e das respectivas “révolutions d’en haut”, decretinas ou parlamentares, sempre em elefantíase legiferante.

Mar 02

O país da gleba hipotecária

 

O país da gleba hipotecária, fabricada para uso da banca e dos patos bravos, financiamento partidocrático e oleosidade da futebolítica, com música celestial de políticos, politólogos e pulhíticos, não vai hoje a fátima nem ao fado, mas ao confronto do Pinto da Costa com o Luís Filipe Vieira, com multinacionais da bola vestidos com a ilusão de camisolas dos dragões e dos águias, antes de preencher o formulário do IRS da troika. Golo!

É preciso que o país da realidade, o país dos casais, das aldeias, das vilas, das cidades, das províncias, acabe com o país nominal, inventado nas secretarias, nos quartéis, nos clubes, nos jornais, e constituído pelas diversas camadas do funcionalismo que quer e há-de ser (Alexandre Herculano, na Carta aos Eleitores do Concelho de Sintra, de 1858)

Se os nossos seleccionadores de elites, os dirigentes dos principais partidos, fossem publicamente escrutinados, como os da futebolítica, já teriam direito a adequadas chicotadas psicológicas. Basta lembrar-nos das cenas que precedem a engenharia das listas eleitorais, ou das manobras de sociedade de corte que envolvem os congressos partidários para as escolhas dos comissionados. Ainda se lembram das cenas que envolveram o presente hemiciclo de São Bento? Aquele onde Basílio Horta+Fernando Nobre=0…entre o modelo Catroga e o desembarque da troika..

Se eu fosse um velho republicano, queria uma espécie de Confederação Helvética, até para a tropa. Como eu sou português, quero o que, de melhor, me trouxe Abril: autarquias locais reforçadas e responsabilizadas e extensão das autonomias regionais políticas ao Continente. Quero um Portugal federalista no plano interno.

O programa da regeneração resume-se a uma frase de Alexandre Herculano: para que o País possa ser administrado pelo País. Acrescento eu: e para que o Povo não continue a ser governado da partidocracia, para a partidocracia e pela partidocracia. Temos de impedir a emergência de uma democracia sem povo, com uma eventual democratura, mesmo que seja em nome da Santa Aliança da troika.

Não fui apenas eu o autor do texto dos dois últimos postais. Foi um velho militante do comunalismo do velho PPM e um activista do movimento Portugal Plural, quando se aliou ao velho federalismo republicano e socialista, em nome das autonomias que vêm dos povos contra o Estadão, através da urgente Patuleia dos resistentes intelectuais ao regresso do despotismo iluminado.

O ministro da província e os deputados da província, muitos com pronúncia do norte, são exactamente aqueles a quem os donos do poder encomendam as falsas reformas locais, típicas do capitaleirismo dominante. A única reforma que permitiria superar a retórica passa pela extinção do estadão, isto é, do conceito de centro da sociedade de corte, pela efectiva regionalização e pelo reforço das renovadas autonomias locais, através de forais contratualizados e de novas comunas sem carta, para que o Estado volte a ser um concelho em ponto grande.

Mar 01

Quanto mais ao povo a alma falta

“Quanto mais ao povo a alma falta, mais minha alma atlântica se exalta” (Fernando Pessoa).

Ontem, fui convidado a assistir a uma reunião bem publicamente discreta. O meu amigo orador falou de relações luso-americanos. E de uma instituição modernamente refundada em 1717.