A campanha, ainda ser ser campanha, lá vai vivendo em clausura auto-reprodutiva, onde Sócrates e Manela, entre preconceitos de esquerda e fantasmas de direita, vão metendo golos na própria baliza, porque são desajeitados e sempre em “gaffe”, sem saberem rir de si mesmos. Daí que os tipos do “agenda setting” de cada um não esteja preparados para este “ou of control”. Daí não conseguirem que os campanheiros saibam driblar a sucessão de imprevisíveis, entre o caso TVI e o “fuck them”. Todos têm um jardim nos calcanhares, um alberto no propagandismo e muitos vulgateiros, mais papistas do que o papão.
Manela passou a ser mais conservadora e democrata-cristã do que Portas e este, menos liberal do que o PS. Jerónimo, depois do discurso da festa do Avante, voltou a social-democratizar-se e, de gravata amarela e pose ministerial, como as setas e bolas do CDS, lá vai dizendo que assumirá todas as responsabilidades que o povo queira que ele assume. Portas invoca a rainha Dona Leonor, muito padre Milícias, mas sem explicar que a principal das ditas Misericórdias é um serviço estadual que assume o monopólio das lotarias e das apostas desportivas, coisas que bem poderiam ir para as associações dos deficientes das forças armadas, se houvesse justiça na memória.
Ontem foi Portas e Jerónimos, as duas vozes tribunícias mais conservadoras do que está. Foram excelentes actores, seguros na metáfora e coerentes com o combate anterior. Onde um dizia agricultura, camponeses e CNA, outro pensava lavoura e CAP, ambos contra o Silva que, para mal de Sócrates, nunca foi remodelado. Um talvez queira levar novamente o PCP ao poder do governo, mesmo que seja em regime de queijo limiano. Outro, seguro de um partido unipessoal, já foi ministro e quer voltar a sê-lo. Pouco arriscaram, não meteram a pata na poça e foram brilhantes. Estão ambos próximos dos dez por cento e Portas pode chegar ao poder se a soma do CDS e do PSD ficar 15% acima do PS, tal como Jerónimo pode reeditar a união de esquerda.
Aliás, as eleites que defendem o bloco central são as da nova casta bancoburocrática, ou os jogadores de cenários que apontam o termo para as eleições presidenciais, pensando que Cavaco não se recandidatará, enquanto Sampaio, por essa razão, já aparece na capa do “Semanário” e Jaime Gama pensa que é convicção aquilo que outros andam por ele profundamente a pescar. Alegre nada diz, joga no Costa e no Louçã. Por isso o frente a frente de Jerónimo e Portas não foi debate, porque cada um dele tinha a lição bem preparada: o meu adversário não é Vossa Excelência.
O guardião da constituição laboral e da constituição económica, viu Portas, que está em coligação com Santa e Rui Rio, elevar o BCP, o BPN e o BPP a tambores da festa e jogar com números certos às operações às cataratas. em nome de uma economia de mercado socialmente sustentada em valores éticos. Jerónimo bem tentou invocar a justiça social de São Tomás de Aquino, mas Portas já tinha inconscientemente citado Karl Marx, no de cada um segundo as suas possibilidades, a cada um segundo as suas necessidades. Juntos, não ficam mal num próximo governo de grande coligação à portuguesa. Teria mais legitimidade democrática que o do Irão, o tal que veio dos votos, mas que, ao contrário do que acontecia com Salazar, não deixa que circulem jornais da oposição.