O capital não tem vergonha. E o presidente da Mercedes teve de pedir desculpa. Não por causa dos comunistas, mas por causa das vítimas da boina.
A utopia do socratismo era o Magalhães. A deste novo ciclo tende a ser o pastel de nata. A sobremesa pode acabar em sopas de cavalo cansado…
Foge, cão, que te fazem barão da electricidade chinesa! Mas para onde? Se me fazem visconde das águas chocas do mais do mesmo?
Estadão é coisa que acontece sempre que o Estado já não somos nós e passam a ser Eles. E quando Eles nos ocupam a república, através dos aparelhos de poder, depressa perdem a vergonha e tratam de tratar o Estado como se ele fosse a própria casa, isto é, em economia doméstica. Os gregos chamavam déspotas aos ditos. Os romanos, donos. Por enquanto só lhes chamamos nomeados, com muitos elogios dos que pensam ser subnomeados e lhes oferecem a iluminação e o esclarecimento dos intelectuais orgânicos.
Há tempos, um amigo meu que é muito mais do que amigo de quem está no poder, amigos meus também, sondou-me, no sentido da minha disponibilidade para receber um contacto lá de cima. Como sei descodificar estes bailados verbais da sedução, fui gentil, até no postal que, minutos depois, aqui emiti, desancando na governança vigente. Repeti gesto que emiti, face aos sinais de fumo de anteriores governos. Com toda a gentileza de continuar no contra. Sem nada contra os olheiros e contratadores.
Confesso que há uns anos, no passado século, já estive na fotografia de um paragoverno sombra e de um dos dois máximos partidos. Quando a vi no jornal fiquei cheio de vergonha, por aparecer ao lado de dois, então heróis, mas que agora têm o carimbo de vilãos. Um já tinha sido ministro, outro logo o veio a ser. Eu passei logo para a oposição, para depois me tornar opositor da seguinte oposição, quando ela se tornou situação e até me processou. Um problema de quem tem informação antes do tempo e muito mais tempo antes de me darem razão, enquanto a história for história dos vencedores e chamarem aos convictos vencidos da vida. Porque raramente ten razão quem vence. Muitas vezes, vencer é ser vencido.
Entrou no primeiro deste Janeiro em vigor uma lei fundamental de um Estado membro da União Europeia, aprovada monopartidariamente por um grupo que integra a multinacional de que fazem parte o PSD e o CDS. O grupo em causa, que também clama contra a globalização ultraliberal não gosta das causas que ofendam as chamadas raízes cristãs que instrumentaliza. Tem maioria absoluta e começa a causar-me urticária. Sobretudo pela hipocrisia de silêncio dos respectivos pares que dominam a eurocracia. O inferno são sempre os outros. Incluindo os que lavam as mãos como Pilatos. Não é por acaso que sou mesmo liberal.
Afinal, o navio naufragou por uma boa causa. O chefe de sala quis passar mais perto da ilha para poder saudar a família. Há muitos outros calcanhares de outras boas famílias que levam tantos a sair da rota. Até da lei. Depois dá estrondo e botes salva-vidas, sem que todos possam envergar o colete protector, quando o gigante adorna. Grande nau, maior tormenta, mesmo em bonança.
Um renano e socialista assume a presidência do Parlamento Europeu. Martin Schultz, antigo empregado de livraria, depois livreiro e presidente de autarquia local. Diz que o essencial está em recuperarmos a confiança nas instituições, através da cidadania. Vão ser dois anos e meio de grandes desafios, até para que os europeus voltem a ter confiança nos alemães e os alemães nos restantes europeus, incluindo os portugueses.
Quando a excepção se transforma em regra e o que devia ser público se transforma em quintarola de chefezinhos birrentos que, em nome do medo, praticam despudorados despotismos, amiguismos, nepotismos e clientelismos, apenas temos de reconhecer que não há mal que dure sempre. Basta esperar que a justiça obrigue o direito a fazer cumprir a lei e que não continue esta inversão de valores onde o arbitrário da ordem assume o vértice do quotidiano.
Corria o ano de 1882 quando Rafael Bordalo Pinheiro retratou a mamã dos bacharéis. Ela agora reproduziu-se.
Há espantalhos que, apesar de conservarem o nome, já nada têm da coisa nomeada. Correm o risco de só poderem iluminar quando um dia arderem.
Como Ramalho Ortigão observava “a mocidade vive nas antecâmaras do governo como os antigos poetas do século passado nas salas de jantar dos fidalgos ricos. Os velhos são agiotas ou servidores do estado. Os moços são bacharéis e querem bacharelar acerca da coisa pública e à custa da mesma coisa acerca da qual bacharelam.”.