Jan 23

Farpas 23 de Janeiro de 2012

Se os empregados dos donos do poder, principalmente os bobos da corte, estivessem autorizados por lei a malhar nos exógenos minoritários, discriminando a raça, a etnia, a religião ou a ideologia, como durante esta açulada caça às bruxas, em nome do patrão, nunca coisas como a América, o Brasil ou outro mundo novo poderiam ter sido construídas, com espíritas, negros, protestantes, turquinhos, comunas, maçons, judeus, coxos, ciganos, papistas e beatos.

Jan 22

Farpas 22 de Janeiro de 2012

O Presidente da República foi vaiado este sábado à noite em Guimarães. Passos Coelho diz que os sacrifícios são para todos. Eu apenas gostei da aliança dos portucalenses com os catalães. Em nome de São Mamede.

Uma só declaração presidencial produziu imediata luta de invejas. O velho modelo da história que emerge quando as massas perdem a confiança no princípio da igualdade de oportunidades e os detentores do poder, como há vários governos, tentam instrumentalizar o “divide et impera”, no seu propagandismo barato de guerra aos coporativismos. A Karl Marx faltou-lhe esse capítulo, que é bem mais eficaz do que a luta de classes. Geralmente, perpetua o situacionismo.

A maior parte dos meus concidadãos no activo eleitoral deram maioria absoluta ao actual presidente. Sempre fiz parte da minoria, relativamente a Cavaco e aos cavaquismos. Por isso, considero que as críticas políticas não são o sinónimo de críticas à pessoa, mesmo quando quem a pessoa traz a vida pessoal e íntima para a praça pública, em discurso de átrio de Estado. Apenas estranho estes novos ares que quase clamam por chicotada psicológica. Presidente não é treinador descartável de clube de futebol.

Como diria o outro, o sueco assassinado, que era socialista e tudo, o problema da pobreza do nosso tempo não está em acabarmos com os ricos, mas antes em acabarmos com os pobres, principalmente com a pobreza, e com quem nos manda empobrecer a todos, para que alguns enriqueçam à custa disso.

Jan 21

Farpas 21 de Janeiro de 2012

Aníbal Cavaco Silva é o político português com o maior número de maiorias absolutas no plano da república maior. É quem melhor conhece e mais é reconhecido pelo povo que vota e alinha em sondagens. Porque fala terra a terra.

“A união do trágico e do cómico faz com que o riso não saia livremente, porque deixa uma sensação de pena. “(Ester Abreu Vieira de Oliveira)

Jan 21

Bonus Paterfamilas (DN)

O BONUS PATERFAMILIAS (no DN de hoje)
No passado dia 14, o nosso Presidente emitiu a seguinte mensagem no Facebook: “São muitos os funcionários ou agentes do Estado que se têm dirigido à Presidência da República, expondo as suas incompreensões e incertezas. Apesar de todas as dificuldades, em relação a algumas das quais já tive ocasião de me expressar publicamente, estou certo de que todos têm plena consciência da importância das suas funções de serviço público, que devem ser dignificadas e prestigiadas.” Seis dias depois, numa intervenção pública, decidiu encabeçar a revolta social do bom povo português.
Tudo visto e ponderado, incluindo a lamentação que, na campanha eleitoral fez há cerca de um ano, sobre os 800 euros por mês da pensão da nossa primeira-dama, não posso alinhar com os críticos que imediatamente o satirizaram de forma elitista. O Presidente é previsível demais para cometer erros de comunicação. Apenas exprimiu a sede de justiça do homem comum, tanto contra as chamadas reformas douradas de certos gerontes, como contra a campanha de desinstitucionalização que alguns têm feito contra os funcionários públicos, os empregados da banca, os professores e os investigadores científicos.
Também reconheceu que a soma de 1300 mais 800 euros não dá para um casal da classe remediada pagar as respectivas despesas, apesar de tanto ter poupado e investido. E assim se patenteou, de forma tão descamisadamente superior, o erro troikista, subscrito pelo PS, PSD e CDS.
Não acredito que o Presidente tenha padecido de hipocrisia, dado que, sendo sua suprema especialidade a ligação directa ao eleitorado, apenas quis encabeçar aquilo que vai ser a vaga de fundo de uma geometria social que a aritmética da partidocracia e do poder bancoburocrático parecem não querer compreender. O detentor do Palácio de Belém sabe, sem poder absoluto, mas com ciência certa, que um seu antecessor, em 1917, assistiu, a partir de Maio a uma mistura de revoltas da fome e de aparições do transcendente, até à sua terráquea deposição em Dezembro, depois de um sangrento golpe de Estado. Em 2012 não haverá guerra, fome e peste mas a injustiça continua para o “bonus paterfamilias”.

Jan 21

Presidente

No passado dia 14, o nosso Presidente emitiu a seguinte mensagem no Facebook: “São muitos os funcionários ou agentes do Estado que se têm dirigido à Presidência da República, expondo as suas incompreensões e incertezas. Apesar de todas as dificuldades, em relação a algumas das quais já tive ocasião de me expressar publicamente, estou certo de que todos têm plena consciência da importância das suas funções de serviço público, que devem ser dignificadas e prestigiadas.” Seis dias depois, numa intervenção pública, decidiu encabeçar a revolta social do bom povo português. Tudo visto e ponderado, incluindo a lamentação que, na campanha eleitoral fez há cerca de um ano, sobre os 800 euros por mês da pensão da nossa primeira-dama, não posso alinhar com os críticos que imediatamente o satirizaram de forma elitista. O Presidente é previsível demais para cometer erros de comunicação. Apenas exprimiu a sede de justiça do homem comum, tanto contra as chamadas reformas douradas de certos gerontes, como contra a campanha de desinstitucionalização que alguns têm feito contra os funcionários públicos, os empregados da banca, os professores e os investigadores científicos. Também reconheceu que a soma de 1300 mais 800 euros não dá para um casal da classe remediada pagar as respectivas despesas, apesar de tanto ter poupado e investido. E assim se patenteou, de forma tão descamisadamente superior, o erro troikista, subscrito pelo PS, PSD e CDS. Não acredito que o Presidente tenha padecido de hipocrisia, dado que, sendo sua suprema especialidade a ligação directa ao eleitorado, apenas quis encabeçar aquilo que vai ser a vaga de fundo de uma geometria social que a aritmética da partidocracia e do poder banco-burocrático parecem não querer compreender. O detentor do Palácio de Belém sabe, sem poder absoluto, mas com ciência certa, que um seu antecessor, em 1917, assistiu, a partir de Maio a uma mistura de revoltas da fome e de aparições do transcendente, até à sua terráquea deposição em Dezembro, depois de um sangrento golpe de Estado. Em 2012 não haverá guerra, fome e peste mas a injustiça continua para o “bonus paterfamilias”.

Jan 20

Farpas 20 de Janeiro de 2012

Cada geração é sempre medida e marcada pelos bonzos que eleva à categoria de inspiradores e cónegos para os sermões das encomendas. A banda na praça toca sempre o mesmo e a romaria está garantida, enquanto houver farturas e carrinhos de choques. Até o ti Marcial, da aparelhagem sonora, já ligou os altifalantes e o rancho de logo tem chanfana com batatinhas mui descascadas, antes de um pedaço de arrufadas. Viva quem manda, mesmo que aquilo que pareça já o não seja, nestas viagens à volta do meu quarto, em “promenade solitaire”.

Lembro-me bem de uma das longas conversas que tive com Mário Sottomayor Cardia, quando ele me explicava a razão que o levou a votar contra a criação de secretas nesta democracia. Estava vacinado. E devia ter sido mais ouvido.

Ouvi qualquer coisa, de nosso primeiro, sobre essa de o critério partidário não ser utilizado para as nomeações de não sei quê. Confirmo que o nariz do Pinóquio continua a crescer em São Bento. Deve ser doença de pavões que se transmite ao Estado em figura humana.

Qualquer um dos “amigos” que eu tenho aqui no Facebook corre sérios riscos. Um dos que aqui vem com tal qualidade acabou de proclamar noutra rede que eu sou “unha com carne” com duas figuras mediáticas, só porque uma delas costuma comentar os meus postais. A outra nunca nada disse. Não a conheço pessoalmente, nem ao ilustre denunciante da trama, hidra, conluio e conspiração. Tem todo o direito de atacar as ideias que defendo. Até pode vir aqui, onde será benvindo. Desconfio, contudo, que sejamos todos poluídos pela tradicional doença dos moscas, formigas e bufos, orgulhosos do servicinho.

António Mega Ferreira é muito bom. Vasco Graça Moura é muito bom. Ambos sempre foram civicamente empenhados. Quem me dera que todas as sucessões nomeativas fossem assim.

Acabo de elaborar pequeno comentário, a pedido do DN, sobre os dramas das pensões de aposentação das classes remediadas, expressos pelo senhor Presidente, com um vivo testemunho pessoal. Será publicado amanhã. Sem qualquer hipocrisia.

Tenham esperança todos os que têm o patrão Estado. No artigo 13º do Decreto-Lei n.º 11/2012 de hoje, sobre gabinetes ministeriais, pode ler-se:
“7 — Os membros dos gabinetes têm direito a subsídio
de férias, de Natal e a subsídio de refeição, bem como a
ajudas de custo e de transporte, nos termos da lei.”

“O povo, o povo soberano, que naquele dia tinha nas mãos o
ceptro da sua soberania, não é menos dócil do que os irracionais que recordamos. O dia que devia mostrar-se orgulhoso, é quando
mais se humilhava; quando podia dispor dos destinos dos seus senhores, é quando mais vergava a cabeça sob o peso que estes lhe assentavam. Não é semelhante esta força inconsciente do povo à do boi robusto e válido, que uma criança dirige e subjuga? Forte como ele, como ele dócil, como ele laborioso, como ele útil, não vê que a mesma força que emprega no trabalho lhe poderia servir para repelir o jugo. Ou, quando vê, é quando o desespero e a fúria, o cegam e impelem a revoltas tremendas.” (Júlio Dinis, A Morgadinha dos Canaviais)

 

Jan 20

O BONUS PATERFAMILIAS

O BONUS PATERFAMILIAS

 

Por José Adelino Maltez

 

No passado dia 14, o nosso Presidente emitiu a seguinte mensagem no Facebook: “São muitos os funcionários ou agentes do Estado que se têm dirigido à Presidência da República, expondo as suas incompreensões e incertezas. Apesar de todas as dificuldades, em relação a algumas das quais já tive ocasião de me expressar publicamente, estou certo de que todos têm plena consciência da importância das suas funções de serviço público, que devem ser dignificadas e prestigiadas.” Seis dias depois, numa intervenção pública, decidiu encabeçar a revolta social do bom povo português.

Tudo visto e ponderado, incluindo a lamentação que, na campanha eleitoral fez há cerca de um ano, sobre os 800 euros por mês da pensão da nossa primeira-dama, não posso alinhar com os críticos que imediatamente o satirizaram de forma elitista. O Presidente é previsível demais para cometer erros de comunicação. Apenas exprimiu a sede de justiça do homem comum, tanto contra as chamadas reformas douradas de certos gerontes, como contra a campanha de desinstitucionalização que alguns têm feito contra os funcionários públicos, os empregados da banca, os professores e os investigadores científicos.

Também reconheceu que a soma de 1300 mais 800 euros não dá para um casal da classe remediada pagar as respectivas despesas, apesar de tanto ter poupado e investido. E assim se patenteou, de forma tão descamisadamente superior, o erro troikista, subscrito pelo PS, PSD e CDS.

Não acredito que o Presidente tenha padecido de hipocrisia, dado que, sendo sua suprema especialidade a ligação directa ao eleitorado, apenas quis encabeçar aquilo que vai ser a vaga de fundo de uma geometria social que a aritmética da partidocracia e do poder bancoburocrático parecem não querer compreender. O detentor do Palácio de Belém sabe, sem poder absoluto, mas com ciência certa, que um seu antecessor, em 1917, assistiu, a partir de Maio a uma mistura de revoltas da fome e de aparições do transcendente, até à sua terráquea deposição em Dezembro, depois de um sangrento golpe de Estado. Em 2012 não haverá guerra, fome e peste mas a injustiça continua para o “bonus paterfamilias”.

 

Jan 19

Farpas 19 de Janeiro de 2011

Politologicamente, posso garantir que um dos elementos que mais tem contribuído para a desconfiança pública, há muitos regimes e governos, sempre foi a conjugação da empregomania com a subsidiocracia, por efeitos daquela pressão que sobe da base para o topo, quase sempre comandada pela Dona Maria da Cunha.

Boa sorte, nosso Primeiro. Nós e os suecos, temos a grande vantagem de termos sido neutrais na última Guerra Mundial. Nem sequer “Anchluss” tivemos nem escolhemos. Também a proibição da dita não consta da nossa constituição. Gosto das alianças que firmámos em Vestefália, em 1648, quando a Alemanha era uma floresta de centenas de estadinhos.

Segundo registos sondajocráticos, apenas 56% dos portugueses ainda acredita na política, isto é, na democracia. Não está mal, por causa do mau espectáculo dos monopolizadores partidocráticos que ocupam o espaço da representação. Já foi mais grave. Já foi melhor. Os democratas continuam entalados entre o estadão e o lastro autoritário que quer o regresso ao pai tirano, com pátios para muitas cantigas.

Releio Walter Benjamin (1892-1940). Contra a história como Estado de excepção, dado que o Estado de excepção é um conceito limite que se manifesta num caso limite onde a ordem jurídica não assenta numa norma, mas no monopólio da decisão, onde soberano é o que decide num Estado de excepção. Ora acontece que a excepção transformou-se em regra, o caso limite no caso normal, onde o soberano representa a história. Tem nas suas mãos o acontecimento histórico como se este fosse um ceptro. Thesen uber den Begriff der Geschichtliche; Obra escrita em 1939- 1940, mas apenas publicada postumamente; (cfr. trad. fr. Mythe et Violence, Paris, Librairie Denoël, 1971).

“A abstenção eleitoral é cada vez mais importante pelo número e pela qualidade dos que se abstêm. Os costumes públicos descem, baixam a olhos vistos. O desalento e a indiferença invadem e vencem quase toda a gente… “(Discurso de António Cândido, em 29 de Agosto de 1887, no Ateneu Comercial do Porto, anunciando o programa da Vida Nova).

Se eu fosse déspota iluminado durante 24 horas, obrigava toda a classe política a ler e a decorar três livros: o “Portugal Contemporâneo” de J. P. de Oliveira Martins; o “Vale de Josafat” de Raul Brandão; e o “Conta Corrente” de Vergílio Ferreira. Até os ministros que dizem não ser da classe política cresciam por dentro.

 

Jan 19

Se eu fosse déspota iluminado durante 24 horas

Se eu fosse déspota iluminado durante 24 horas, obrigava toda a classe política a ler e a decorar três livros: o “Portugal Contemporâneo” de J. P. de Oliveira Martins; o “Vale de Josafat” de Raul Brandão; e o “Conta Corrente” de Vergílio Ferreira. Até os ministros que dizem não ser da classe política cresciam por dentro. Ninguém devia ser catedrático em contas sem antes seguir este ler e escrever. Também ninguém devia ser ministro sem fazer contas. Cada macaco no seu galho. Mesmo que não seja poleiro. O pior da história circula entre o historiador oficial e oficioso e o revisionismo histórico, do estalinismo e dos ex-estalinistas, em memorialismo de literatura de justificação, só porque muitos já não podem falar. O Estado de excepção é um conceito limite que se manifesta num caso limite onde a ordem jurídica não assenta numa norma, mas no monopólio da decisão, onde soberano é o que decide num Estado de excepção. Ora acontece que a excepção transformou-se em regra, o caso limite no caso normal, onde o soberano representa a história. Tem nas suas mãos o acontecimento histórico como se este fosse um ceptro. Cito Walter Benjamin, contra Carl Schmitt. Também Portugal tem falta de uma ideia radical de liberdade.