Set 16

Contra a tirania das maiorias, laranjas ou cor de rosa!

A pior coisa de Manela são os maneleiros, entre inquisidores, pretos, brancos, cor-de-rosa, ex-ministros, candipatos e aristocretinos, todas essa ganga dos bate-palmas que estas mudanças sem radicada infra-estrutura fazem vir ao de cima na máquina da laranja, em tempo de mudança de líder. A melhor coisa de Manela é a própria Manela, que é o exacto contrário do que lhe aconselham que pareça. Como ontem se demontrou, no “esmiuçado” exame a que foi sujeita e onde brilhou, na solidão da respectiva personalidade. Parabéns, senhora dra. Mas, deixe-me acrescentar: não é por ter havido essa primavera que me esqueço de quem escolheu para transportar, ou das anteriores “gaffes” que os laranjas nos revelaram. Mas gosto de ser justo e não costumo responder como alguns dos seus piores maneleiros, que agitam por aí as cargas negativas do ódio e dos ataques pessoais, típicos dos bufos, dos caceteiros verbais, na velha tradição do manual dos inquisidores.

Mais lhe digo que saiba interpretar as sondagens que vão chegando, porque se elas conseguem captar a sociologia eleitoral em períodos que repetem estabilidades de escolhas, não atingem aquilo que só a intuição dos grandes políticos capta: as pulsões do inconsciente colectivo. Elas precisam de sociologia, mas também de enraizada cultura política e de mui científica psicologia política. Porque, ainda hoje, cada eleitor tem dentro de si um Sócrates e uma Manela, ou, melhor dizendo, os fantasmas e os preconceitos que a imagem de cada um transporta, ou daquilo que cada um diz do outro. Num pólo, a pulsão para o avançar. No outro, para a regressão.

Não! Não é a esquerda contra a direita, mas o paradoxo da procura de um certo equilíbrio na luta de contrários, aproximando-se do próprio sistema de forças do actual sistema político, onde nunca pusemos todos os ovos no mesmo cesto, permitindo que o sufrágio universal gerasse concorrência de maiorias presidenciais e de maiorias parlamentares, com sinais diversos, mais complementares do que inimigos, onde convergências e divergências geraram emergências de separação e fusão de poderes.

Eanes foi eleito depois de uma maioria da AD e mesmo após o desastre de Camarate. O primeiro cavaquistão gerou o presidente Soares. E o novo socialismo permitiu a ascensão de Cavaco a Belém. O povo sempre foi mais sábio do que os analistas, comentadores, politólogos e políticos de interregno. Até porque o povo que foi para a rua no dia 1 de Maio de 1974 era o mesmo que, semanas antes, aplaudiu Marcello Caetano, espontaneamente, no estádio do Sporting. Porque o português que ganha eleições é como Jano, com uma cara na regressão do avô tirano e outra no avançar. Só é grande político o que consegue dialogar directamente com esse inconsciente colectivo.

Há pulsões libertacionistas que já se chamaram Sá Carneiro e Soares. Pulsões autoritárias de desejo de um animal feroz que nos deram Cavaco e Sócrates. E há pressões de procura do delicadinho e do gajo porreiro que fizeram Guterres ou o Soares das bochechas e do diálogo. E todos podem ler o Joaquim Pedro de Oliveira Martins que, logo em 1878, descrevia assim o rotativismo: “o governo da liberdade ficou sendo tirania das maiorias, máquina movida por ambiciosos, o realejo que toca a mesma ária, aclamando a todos os que movem a manivela”. É a máquina da sua Madeira, Dra. Manela, é a máquina contra a qual se insurge no contenente, mas com a memória daquela máquina do Estado laranja do cavaquistão, contra a qual um presidente da república, Mário Soares, pediu direito à indignação contra a ditadura da maioria.

Set 15

Não! Não vou por aí! Continuo não-cavaquista, conforme princípios desde sempre manifestados

Ontem aprendi, com Berlusconi, que tenho de apertar dois dos três botões do casaco para parecer mais elegante, conforme a única piada que recebi do senhor engenheiro, durante a sua visita ao planeta dos Gatos/Jay Leno. Por outras palavras, repetiu-se em Portugal um estilo que é normal noutras campanhas, nomeadamente na última presidencial norte-americana, onde os candidatos são obrigados a pagar o imposto de riso. Mas Sócrates continuou a resistir na sua faceta de picareta falante, dado que continua a fingir que é verdade o discurso que ele próprio finge, como já o tinha feito na entrevista sobre a intimidade levada a bom porto pela Raquel Alexandra. Claro que nunca me consegui rir com o líder do PS e que foi patente que a metalinguagem dos Gatos poucas ou nenhumas coincidências teve com o ritual socrático, que, sabendo que o Araújo Pereira tinha sido do PCP, decidiu passar ao ataque e chamar-lhe estalinista, embora também lhe pudesse chamar benfiquista ou outra qualquer adjectivação.

Seguir-se-á a outra senhora, outra piada de mau gosto, emitida ontem pelo João Soares, porque a dita, se ouvir o mano Dias Ferreira, o do Sporting, em vez de alguns técnicos de “marketing”, poderá surpreender-nos com algumas quebras de tabus, porque, ao contrário do que vociferam alguns maneleiros que a andam a destruir, a dita senhora gosta mesmo de rir e é de uma honestidade tal que não me importava de lhe entregar a minha carteira, embora politicamente nunca me leve, dado que tem fingido dolosamente que é um Salazar de saias, quando a vida dela, desde estudante, é o exacto contrário desse fantasma. Esperemos que, nos Gatos, se liberte dessa campanha negra em que os pretensos apoiantes a enredaram e que ela, por oportunismo político, deixou correr, cultivando o mistério da gestão dos silêncios, o que, para mim, é tão criticável quanto o ser efectivamente da outra senhora.

Não acreditem que ela costuma usar carros do Estado, porque tem um culto exacerbado da separação do público e do privado e mesmo os colaboradores próximos sabem perfeitamente que tem um alto sentido moral. Aliás, segundo estou informado, não me parece que Sócrates esteja muito distante desse mesmo padrão. O mal não está neles, mas no bando de náufragos que os circulam e no tipo de mensagem que os dois estão a veicular para a obtenção do voto útil. E bem pode acontecer que os dois estejam a subir os degraus de uma guilhotina política, onde acabem por tropeçar no último degrau, para usar a anedota de mau gosto que Sócrates contou a Raquel Alexandra.

Se Sócrates permitir que o Bloco de Esquerda atinja os dois dígitos, sem ser à custa do PCP, e se Ferreira Leite fizer aproximar Paulo Portas desse patamar, ambos erraram. Claro que o PS não vai expulsar Sócrates. Muito provavelmente, Almeida Santos vai ceder o seu lugar de presidente ao actual secretário-geral e este cargo poderá ter uma espécie de solução colegial, onde António Costa e António José Seguro terão lugar certo, com o total apoio do socráticos e dos alegristas. Já o PSD pode reconhecer o erro de ter-se reduzido ao espaço de um cavaquismo sem Cavaco, porque o governo, de acordo com esses resultados eleitorais, nem terá que ser de ampla coligação interpartidária, bastando uma simples maioria de esquerda, interpretada exclusivamente pelo PS, mas com variados acordos de apoio parlamentar com o PCP e o BE, onde até nenhum destes partidos tem que abandonar as respectivas reivindicações, criando cláusulas de salvaguarda em zonas de lina ideológica básica: Até porque em matérias de integração europeia, por exemplo, o PSD e o CDS estão condenados a seguir o programa comum do PPE, nomeadamente em matéria orçamental. Não são província de Espanha, mas secções nacionais de uma multinacional partidária supranacional.

Por razões exclusivamente políticas, e não de falta simpatia pessoal, é que reconheço os permanecentes erros de campanha e de estratégia do PSD. Mas como já me enganei em duas campanhas, onde fui responsável contra Cavaco, na década de oitenta do século XX, tenho o cuidado de não dizer que esta intuição está de acordo com a realidade do povo que temos, aqui e agora. Pode ser que os cavaquistas ainda continuem a conhecê-lo melhor nas suas pulsões e nos seus ideais conjunturais. Apenas continuo a dizer que, se assim for, a nossa crise ainda será maior do que a ausência de uma maioria absoluta. Porque perdemos a fibra multissecular e nos deixámos enredar nas teorias do homem de sucesso do “Leviathan”. Não! Não vou por aí!

PS:Nos gatos norte-americanos, o MCain saiu-se bem, mas já estava tudo obamizado!

Set 14

Contra o fanatismo, a ignorância e a tirania!

O começo da campanha, esse eufemismo de não dizermos que andamos nisto há mais de seis meses, o recomeço das aulas, a chamada rotina da decadência, deste mais do mesmo, entre o Senhor Ninguém e a Dona Incompetência, apesar do choque tecnológico, dos Gagos e das Lurdes, porque a pesada herança do fanatismo, da intolerância e da tirania, oriundas, não da luta de classes, que estas ainda poderiam ser metafísicas e salvíficas, mas da simples luta de invejas, afinadas pelos irmãos-inimigos dos inquisidores e dos burocratas, sobretudo desse cúmulo lusitano do sargento verbeteiro que sabe escrever ofícios, já sem “saúde e fraternidade”, já sem “a bem da nação”, com aqueles “melhores cumprimentos” que disfarçam a mão felpuda do despotismo ministerial em que nos vamos enrodilhando, onde “novo governo, novo ministro”, mas o maquinismo kafkiano de sempre. Daqui a bocado, lá subirei a colina, de corpo dado ao ritual externo de quem se submete para ter de sobreviver, mas que continuará a lutar para viver. Levo comigo o velho lema do Professor Hernâni Cidade: “primeiro a aula, só depois o capítulo!”. E agradeço a Gago ter-me livrado de ser do capítulo à força. Graças a esta lei, tanto não me candidatei, como nem sequer votei. Prefiro continuar a olhar o sol de frente. Não há instituições vivas sem ideia de obra, sem cumprimento das regras que são réguas que nos dão a medida da perfeição, e, sobretudo, sem manifestações de comunhão entre os membros da mesma instituição. Se apenas durar o sargento verbeteiro ou a memória viva do avô tirano, algum curto-circuito deve ter apagado a Luz no Portugal de Sempre, o tal que deveria continuar a ter saudades de futuro. O velho disco do mais do mesmo está muito riscado. Nem com o verniz dos pretensos novos, comprados no retalho das lojas dos trezentos, o preto é branco e o animal feroz, um delicadinho…

Set 12

O Senhor Ninguém e a Dona Incompetência, em regime de união de facto, a que dantes se chamava concubinato, ou o acesso ao ensino superior

Os ilustres contribuintes, os senhores votantes, os dignos cidadãos e os meus queridos leitores que, depois de tantas abstracções qualitativas, não passam de pessoas concretas, de carne, sangue, sonho e osso, que vivem o instante do tempo que passa, ainda não assumiram que quem manda em nós não é o PS, nem foi o PSD com o CDS, mas um tal Senhor Ninguém que vive em união de facto com a Dona Incompetência, permitindo que a Ti Culpa acabe por morrer solteira. Ambos os parceiros da concubinagem reinante foram educados na arte de se escreverem ofícios segundo o manual dos inquisidores, a tal que se transformou no livro de estilo dos modernizadores administrativos, esse misto de teólogos arrependidos com a sacanagem dos jotas que eles elevaram a assessores. Todos acabam de vos enganar com a habitual notícia de Setembro sobre as candidaturas ao dito ensino superior da bolonhesa, coisa que resultou desta pesada herança da Manela, ministra do sector, antecedida pelo Couto dos Santos e pelo Deus Pinheiro, seus renovados candidatos da verdade, e cujo resultado acabou por ser a mais recente versão do Roberto Carneiro que é a soma de Gago com Maria de Lurdes.

Os incautos, diante de uma lista de cerca de um milhar de cursilhos de pretenso acesso a uma ilusão de emprego, a que o Estado se comprometeria a dar um posto de vencimento, quando antigamente apenas saíam licenciados, isto é, com licença para continuarem a estudar por si mesmos, podem reparar que a mesma ditadura de perguntadores nos afunila para saídas políticas que nos obrigam a ter que escolher, como chefe do governo, o Sócrates ou a Manela, com os sacristães Jerónimo, Francisco e Paulo a darem bicadas na alternativa. O primeiro pretenso grande diz que é de esquerda e só leva porrada da esquerda. A outra, que é da não-esquerda, finge que segue a esquerda-menos ao ritmo da jardinada.
Não há meio de compreendermos que este caldo de cultura resulta de um erro de subsolos filosóficos, compreendendo-se como a nota de entrada num dos melhores cursos de filosofia no ensino público de Lisboa acabe por ser abaixo do velho dez. Porque foram estes donos do poder que não perceberam como deveriam educar para a mudança e nunca seguindo o catálogo de saídas profissionais inventado pela fantasia do positivismo tecnocrático dos construtivistas que já falharam todas as sucessivas grandes opções dos planos que engendraram. E porque não querem compreender o presente, vingam-se do passado e proíbem-nos o futuro.
Nunca deveríamos deixar que toda a nossa juventude ficasse dependente de um venerando reitor, de um profético ministro ou de um mais que douto conselho, desses que decretaram, com tanta mensurabilidade, o mercado de trabalho do próximo século, em total contraciclo, como se demonstra na presente crise global. Bolonha não tem culpa. O modelo até exigia uma urgente banda larga, em profundidade, na base, e qualquer país polido, civilizado e culto da Europa não caiu na nossa esparrela de pôr a oferta da empregomania a controlar o mercado das vocações. A única via que temos para curar a doença e voltar a ter luz está, como dizia Guerra Junqueiro, em incendiarmos os símbolos destes filhos de Veiga Simão e Roberto Carneiro.
As regras do jogo do ensino, incluindo do superior, estão totalmente viciadas pelos frustrados da educacionologia, da avaliologia e do planeamentismo. Os quadros publicados na madrugada de hoje são a melhor prova da nossa decadência humanista. O “big brother” dos tecnocratas falhados, que se apoderou da máquina decretina do ministerialismo, afastou-nos esquizofrenicamente da realidade do presente e do futuro emprego. Deixámos de ter os pés no chão e de olhar as estrelas do sonho, permitindo, em nome de uma manipulação da ilusão, que nos metam a pata na poça. A Dona Incompetência e o Senhor Ninguém já não tomam chá com a Ti Culpa. Já perceberam que o Sócrates e a Manela, a quem enredaram, já foram desta para os anjinhos. Eles passam, os educacionálogos, os avaliológos e os planeamanetistas ficam e mandam, para amanhã poderem despedir os mais competentes que resistem em liberdade e saudades de futuro. Não tarda que voltem os inquisidores, para continuarmos a ser jangada de pedra.

Set 11

O fim dos grandes e dos micropartidos. Ficam todos PMEs e nenhum é do boavista, jogando no olhanense

Finalmente, a medição da opinião por mais uma sondagem. Dá esperança a todos, ao centrão dos ditos grandes, que estão quase empatados, e aos pequeninos, que passam a médios. O PS sonha estancar a aquilo que pensa ser a saída para o Bloco, com o CDS a penetrar naquilo que o PSD pensava ser o bastião inamovível do cavaquistão, quando a crescida do Bloco e de Portas talvez tenha mais a ver com novos eleitores, que não estão para aturar o senhor engenheiro e a senhora directora-geral. Provavelmente, ficaremos sem grandes partidos e sem micro-partidos, serão todos PMEs, com engenharia de subsidiocracia nas multinacionais partidárias da Europa do mais além.

Os grandes tiveram gula demais. Pensaram ser a revolução institucional da solução mexicana, a europa connosco, o betão para os patos bravos, o magalhães p’ró Chavéz, o presidente connosco, etc… Mas a crise fez de todos eles uma cordilheia de PMPs, com direito a essa reserva do património cultural da humanidade que são as secções museológicas da disputa entre os ex-estalinistas e os ex-trotskistas, depois de até exportarmos para Bruxelas um m.l., da secção Cralucci.
Museológicos são também os nossos grandes educadores do proletariado intelectual, como esses ausentes-presentes que já fizeram setenta anos há década e meia, com um a dizer que Robespierre é um liberal norte-americano do centro-esquerda, num sítio onde a revolução foi sempre evitada, e outro a jogar retórica e dialéctica em distintas associações de velhos-colonos, entendidas como militância de conspiração de avós e netos, entre técnicos de reprografia, motoristas de mercedes pretos e ministeriáveis feitos do mesmo preto pau.
Felizmente, há 20% de indecisos, esse novo D. Sebastião destes tempos que se anunciam de encruzilhada e Manuel Alegre promete ir a terreno, para apoiar Seguro, Maria de Belém e Alberto Martins. Até Jorge Sampaio foi assistir a uma das palancadas de Sócrates, enquanto Alberto João Jardim se vai rebolando de gozo com a instabilidade que introduziu nos cubanos do “contenente”, porque o que ele quer é uma revisão da constituição e a lei de santos cabral, para o regresso do Léo Taxil.
Claro que a Drª Manela, quando deixou de ser directora geral, ironizando, foi sublime, malhando na Judite, subdirectora, sobre o Marcelo poder ter como rival uma nova emissora de homilias na RTP, a Moura Guedes. A líder do PSD, se estagiar mais com Pacheco, até pode tirar o colar e, fazendo o milagre contra os rosas, atirar as pérolas a mais gente que o bem merece. Solte-se e ria, até de si própria…
Sócrates sorriu para os seus botões e, se fosse como o Mitterrand e o Soares, transformava o Portas em inimigo principal, porque este é que o pode levar a vencer Manela, em termos de eventual maioria absolutamente relativa, esperando, como o Carlos Queirós, uma qualificação para o campeonato, graças às derrotas dos outros…
Porque ontem, Portas, ao correr para os 800 metros deixou a maratonista no tapete das tartes e dos 150 gramas de fiambre, nem mais, nem menos. Quis ir aos “clusters”: aposentados que trabalharam toda a vida, jovens, desempregados. E talvez neste confronto tenha chegado aos 10%. Manela, em cima da maioria absoluta na Madeira, não teve garra de ganhadora. Disse querer tirar Sócrates de PM e apenas mais votos do que ele. Não houve caldos de galinha, mas política contra tecnocracia, a qual, até em matéria financeira, ficou em defensiva.

Set 10

Barroso, António Sardinha e Alfredo Pimenta, com o cabralismo em fundo e o profeta Daniel em frente

Foi delicioso o frente a frente entre Barroso e o grupo dos Verdes, liderado por Daniel Cohn-Bendit, com aquele regresso ao confronto do histórico do Mai 68 com um MRPP do “nem mais um soldado pr’ás colónias”. Porque Barroso não gostou de ser apelidado como conservador, ele que agora se diz do centro reformador, e invocou como seguro de vida o ter andado nas ruas de Lisboa a clamar contra o colonialismo…

O Zé Manel, o português que, em toda a nossa história mais voou pelas alturas das relações internacionais, suplantando Afonso Costa na SDN, lá deixou que a costela de quem levou os sofás da Faculdade de Direito para a sede do partido do grande educador do proletariado lhe marcasse o ritmo argumentativo. Apenas me recordei de dois grandes esquerdistas que foram activistas da greve académica de 1907, desencadeada pelo avô da actual líder do PSD, o maçon José Eugénio Dias Ferreira. Um deles era António Sardinha, do lado do estudantes republicanos, o tal que sete anos depois há-de ser maurrasiano e extraordinário pensador e polemista, na liderança do Integralismo Lusitano. Honra lhe seja feita, continuou fiel ao estúpido subsolo filosófico do postivismo de Comte que também marcou a secção jacobina do Partido Republicano.

O outro grevista de 1907, ainda mais esquerdista, quando ainda alinhava no anarquismo de Kropotkine, é Alfredo Pimenta que, depois de ser activista, propagandista e “boy” de um dos partidos republicanos, se passou para a exaltada e reaccionária facção monárquica, ainda mais à direita que os integralistas. Tentou ser o filósofo de serviço do Estado Novo, mas nem Cerejeira nem Salazar o consentiram e acabou pró-nazi e sempre excelente polemista e historiador. Pena que se tenha enganado quanto à valia de Fernando Pessoa, quando este deu cabo de Santos Cabral, um subproduto do pimentismo.

Por outras palavras, há uma certa lei da nossa história contemporânea que tem a ver com traumatismos juvenis: quanto mais doença infantil do comunismo, mais reaccionarismo na idade madura. Já tinha sido assim com António Bernardo da Costa Cabral no Clube dos Camilos. E basta eu recordar-me de algumas aparições fantásticas por essas bandas de um tal Manuel Dias Loureiro. Se o Saldanha Sanches e o Garcia Pereira começarem a desfilar os nomes dos camaradas, bem nos continuaremos a rir, sobretudo quando agora se justificam, salientando que faziam tal contra o “social-fascismo” do PCP e que isso de “nem NATO, nem Pacto de Varsóvia” era uma espécie de antecipação da união sagrada do Freitas do Amaral, do Louçã e do Soares contra o Bush.
Sobre a matéria, ainda não me foi dado fazer adequada consulta aos arquivos da CIA e do KGB, e das operações de estratégia indirecta ou de “operation chaos”. Ainda me caíam os restos de Gladio, P2, Aldo Moro e pacifismo do “antes vermelhos que mortos”. Sempre preferi Soljenitsine, a Carta 77 e a liga anticongreganista de que foi presidente o liberalíssimo grão-mestre, bisavô da Drª Manuel Ferreira Leite…

Set 09

Um quarto de hora antes dos votos, fantasmas de direita e preconceitos de esquerda

Cada um cumpriu as suas ordens de caça. O timoneiro procurou chamar à nau os dissidentes, sobretudo os que não votaram nas europeias. O abalroador pediu, ao eleitorado do PS, para abandonar a rota, porque sempre foi socialista, republicano e laico. Nenhum foi ao fundo. Mesmo sem revolta, a pirataria pode vir de outra velha nau, já cansada de viagens à volta da asfixia. Vale-nos as camas voadoras!

A segunda figura de Estado passou a ser citada. Não deve ter sido por aqueles devaneios sobre Bokassa. Insultos destes, um quarto de hora antes dos votos, são tiros nos pés, tanto para a “gaffe” como para os que querem pegar de cernelha. O seguro de vida do situacionismo não cobre situações de pandemia, mesmo que a ministra o estranhe, depois de declarar a coisa. Nem caldinhos de galinha lhes dão cautela…
Conheço bem o despotismo de todos. Conheço, de todos os dias, os césares de multidões. Sinto, todos os dias, a hipocrisia de quem os usa e deita fora. Sei o preço que os homens livres têm de pagar para os aturarem nos respectivos jogos de poder. A burricada reaccionária e a nostalgia revolucionária lá continuam a alimentar estes extremos, para que os familiares do situacionismo atinjam o princípio de Peter. E são muitos o emplastros que saem do oculto sem qualquer esoterismo. Fica o redondo do hermético e a farpa da metáfora.
O mistério eleiçoeiro está por um fio, preso a argumentos tão sábios como o velho e o novo, o macho e o feminino, o mano que queria ter ou a tia que nos mostra memórias de contas do avô tirano. Como não estou entalado entre preconceitos de esquerda e fantasmas de direita, eu, que nunca votaria no situacionismo, dos bonzos, dos endireitas e dos canhotos, ainda não sei onde votar. Mas nunca votarei o, do mal, o menos, em nome do pretenso útil que nos encavacou, à esquerda e à direita.

Set 08

O meu adversário não é Vossa Excelência! Don’t f… them!

A campanha, ainda ser ser campanha, lá vai vivendo em clausura auto-reprodutiva, onde Sócrates e Manela, entre preconceitos de esquerda e fantasmas de direita, vão metendo golos na própria baliza, porque são desajeitados e sempre em “gaffe”, sem saberem rir de si mesmos. Daí que os tipos do “agenda setting” de cada um não esteja preparados para este “ou of control”. Daí não conseguirem que os campanheiros saibam driblar a sucessão de imprevisíveis, entre o caso TVI e o “fuck them”. Todos têm um jardim nos calcanhares, um alberto no propagandismo e muitos vulgateiros, mais papistas do que o papão.

Manela passou a ser mais conservadora e democrata-cristã do que Portas e este, menos liberal do que o PS. Jerónimo, depois do discurso da festa do Avante, voltou a social-democratizar-se e, de gravata amarela e pose ministerial, como as setas e bolas do CDS, lá vai dizendo que assumirá todas as responsabilidades que o povo queira que ele assume. Portas invoca a rainha Dona Leonor, muito padre Milícias, mas sem explicar que a principal das ditas Misericórdias é um serviço estadual que assume o monopólio das lotarias e das apostas desportivas, coisas que bem poderiam ir para as associações dos deficientes das forças armadas, se houvesse justiça na memória.
Ontem foi Portas e Jerónimos, as duas vozes tribunícias mais conservadoras do que está. Foram excelentes actores, seguros na metáfora e coerentes com o combate anterior. Onde um dizia agricultura, camponeses e CNA, outro pensava lavoura e CAP, ambos contra o Silva que, para mal de Sócrates, nunca foi remodelado. Um talvez queira levar novamente o PCP ao poder do governo, mesmo que seja em regime de queijo limiano. Outro, seguro de um partido unipessoal, já foi ministro e quer voltar a sê-lo. Pouco arriscaram, não meteram a pata na poça e foram brilhantes. Estão ambos próximos dos dez por cento e Portas pode chegar ao poder se a soma do CDS e do PSD ficar 15% acima do PS, tal como Jerónimo pode reeditar a união de esquerda.
Aliás, as eleites que defendem o bloco central são as da nova casta bancoburocrática, ou os jogadores de cenários que apontam o termo para as eleições presidenciais, pensando que Cavaco não se recandidatará, enquanto Sampaio, por essa razão, já aparece na capa do “Semanário” e Jaime Gama pensa que é convicção aquilo que outros andam por ele profundamente a pescar. Alegre nada diz, joga no Costa e no Louçã. Por isso o frente a frente de Jerónimo e Portas não foi debate, porque cada um dele tinha a lição bem preparada: o meu adversário não é Vossa Excelência.
O guardião da constituição laboral e da constituição económica, viu Portas, que está em coligação com Santa e Rui Rio, elevar o BCP, o BPN e o BPP a tambores da festa e jogar com números certos às operações às cataratas. em nome de uma economia de mercado socialmente sustentada em valores éticos. Jerónimo bem tentou invocar a justiça social de São Tomás de Aquino, mas Portas já tinha inconscientemente citado Karl Marx, no de cada um segundo as suas possibilidades, a cada um segundo as suas necessidades. Juntos, não ficam mal num próximo governo de grande coligação à portuguesa. Teria mais legitimidade democrática que o do Irão, o tal que veio dos votos, mas que, ao contrário do que acontecia com Salazar, não deixa que circulem jornais da oposição.

Set 07

Depoimento ao Expresso

Expresso

 

Segunda-feira, 7 de Setembro de 2009

 

O politólogo José Adelino Maltez analisa estas variações de ‘camisola’ sem complacência: “Há conversões como as de Saulo na estrada de Damasco. Tipo pudim instantâneo. Todos os predadores gostam de elevar traidores à categoria de homens de sucesso. Onde tem razão quem vence”, escrevia no seu blogue a 28 de Julho último. Ao Expresso, afirma mesmo estarmos a viver “um momento de decadência”, comparável aos “monárquicos que correram todos para os braços da República, aquilo a que chamaram os adesivos”, ou “aos republicanos que se entregaram a Salazar, os chamados ‘viracasacas’, para não falarmos de ministros do nosso antigo regime que viraram professores de democracia, voltando um deles a ser ministro por duas vezes. São os normais anormais dos chamados homens de sucesso que preferem torcer a quebrar”.

“Sócrates veio do PSD. Durão Barroso do MRPP. Paulo Portas também do PSD. Miguel Portas do PCP. Só para o PCP é que parecem não ir muitos. No salazaCandidato independente pelo PSD à Câmara Municipal de Santarém, partido pelo qual já tinha sido eleito em 2005, anunciou a sua indisponibilidade para votar em Manuela Ferreira Leite nas legislativas e admitiu mesmo poder votar em José Sócrates (PS) a 27 de Setembro Entregou o cartão de militante do CDS em 2007 e apoiou a candidatura de António Costa à Câmara Municipal de Lisboa nas intercalares de Julho desse ano. Sub-secretária de Estado de Pedro Santana Lopes entre 1992 e 1993, reconfirmou este Maio a sua preferência pelo candidato do PS na disputa pela capital. Apesar disso, integra as listas do PSD à Assembleia da República O escritor, histórico militante do PCP, não se deixa tolher pela disciplina partidária. Gorados os esforços, em que se envolveu directamente, para a reedição de uma ampla aliança à esquerda em Lisboa, acabou a dar o seu apoio à recandidatura de António Costa, preterindo o candidato do Partido, Ruben de Carvalho rismo, até foram buscar um antigo secretário-geral do PCP (Carlos Rates) e a República transformou em senador afonsista um antigo chefe de governo da monarquia (Ferreira do Amaral). Estes bailados até estão de acordo com a flutuação das famílias dominantes. Nalgumas há um avô ministro da monarquia, um pai, da República, e um neto, governante de Salazar (caso da família de Emídio, Ernesto e André Navarro)”, enumera o professor de Ciência Política que, cáustico, conclui: “De geração a geração, muitas castas desta sociedade de corte vão variando da esquerda para a direita e da direita para a esquerda, desde que se coloquem como rolhas na verdadeira onda do poder”.

Questionado sobre se faz parte da normalidade política mudar de ideias, Adelino Maltês ainda ensaia uma pouco convicta atenuante: “Cada um é sempre o seu ‘eu’ perante as ‘circunstâncias’ e mudar é próprio de estar vivo… mas utilizar esta literatura como justificação para a falta de autenticidade tende a gastar-se pelo uso e a prostituir-se pelo abuso”. Sobre o caso concreto de Moita Flores, que, sendo candidato autárquico pelo PSD anunciou que “talvez” vote Sócrates nas legislativas, o politólogo justifica-lhe o comportamento, utilizando uma boa dose de sarcasmo: “Ele pode dizer, a nível autárquico, qualquer coisa parecida com o que disse José Luciano de Castro, o chefe dos progressistas no rotativismo: o meu Partido não é que me leva ao Poder, sou eu que levo o meu Partido ao Poder”.

Set 07

Os bastiões inamovíveis do bom governo…

A Convençaõ do PS, ontem, assumiu ritmo esotérico, denunciando a heresia maneleira, porque a mesma usurparia o título divino quando diz “Eu sou a Verdade”. E, ao milenarismo, responderam com o serem avançados, naõ sei se mentais. Uns estão na Utopia (do Maio 68), outros no Milénio. Uns querem a planificação dos iluminados, outros, a tempestade que nos afastará dos pecados. Uns com nostalgia da Mãe, outros, com saudades do Pai…

Por tanta escatologia é que a líder do PSD se enreda em coisas como as que foi dizer ao “bastião inamovível” do “bom governo PSD”, a Madeira, onde não haveria asfixia democrática, dada a existência de jornais da oposição. Por outras palavras, admite a ditadura das maiorias, porque tudo mede com o voto que tudo ordena. Eu pensava que, na democracia, interessava menos a resposta ao quem manda e mais ao como se controla o poder dos que mandam. Mas compreendo, a principal líder da oposição estava a querer mandar uma de subliminar para a questão da M. M. Guedes, coisa de que discordo, porque o Jornal Nacional da TVI de sexta não era propriamente a voz da oposição…

A hipocrisia inquisitorial ainda manda que ninguém manifeste sinais exteriores das suas convicções íntimas. Porque nunca extirpámos a raiz dessa servidão voluntária, mantendo a fortaleza do Rossio mesmo depois dos decretos estaduais que extinguiram a polícia do pensamento. Porque permaneceu o sub-sistema de medo dentro de cada um, venceram os adesivos e os viracasacas…

Depois de despotismos iluminados de curta duração, sucedem-se quase sempre viradeiras de provisórios definitivos, como foi o salazarismo, onde há sempre pinas maniques e preconceitos de ordem que, através do neofeudalismo da anarquia ordenada, permitem a continuidade dos familiares, dos moscas, dos formigas e dos bufos. Infelizmente ainda somos pós-inquisitoriais, pós-autoritários e pós-totalitários. Temos medo!