Espreitei, hoje, na televisão, um programa sobre o Tarrafal, com testemunhos de actuais e antigos comunistas. Nada há que justifique o horror. Vi, depois, os efeitos da violência revolucionária sobre Marcello Caetano. Continuei horrorizado. E tudo culminou com a violência sobre Vital Moreira. Confirmo a repulsa. Os meios não justificam os fins. O maquiavelismo, além de uma péssima moral, é uma péssima política no médio prazo, embora possa parecer eficaz no curto prazo. Toda a minha solidariedade com o meu antigo professor. Mesmo que repudie o aproveitamento, tipo Marinha Grande. Mesmo que me apetecesse citar a acalorada defesa da legalidade revolucionária que ele fez. Ou o silêncio de militante quando o centralismo democrático impunha que se partissem os dentes à reacção. A espiral da violência começa sempre com esta literatura de justificação, onde algumas violências são justificadas pela vingança ou pelo maquiavelismo. Ainda por cima, para quem sabe, como eu, que alguns aspectos daquilo que transparece da actual imagem de Vital Moreira não correspondem àquilo que ele efectivamente é. Um convicto que, convictamente, aderiu à democracia pluralista e ao Estado de Direito. Não é por nele não votar que irei lavar as mãos como Pilatos. Por isso repudio a agressão com todas as forças da minha crença cívica de inimigo das revoluções, dos contrários das revoluções e das revoluções em sentido contrário. Não há Estado Novo, Estado Social, PREC ou eleições europeias que possam justificar um acto de declaração de guerra à democracia. Toda a minha solidariedade, professor Vital Moreira, pelo hoje e pelo amanhã. Seria cobardia não o dizer aqui e agora, com toda a frontalidade. Não há maquiavélicos que possam ser defensores da liberdade nem pretensas éticas da responsabilidade, cobertas pelo manto diáfano da politiquice, que possam esmagar a força da ética da convicção.
Mai
01